
A escritora, ativista e feminista negra bell hooks faleceu na quarta-feira (15), aos 69 anos. A intelectual estadunidense já estava doente há algum tempo e morreu em sua casa, em Berea, cercada de parentes e amigos. A passagem de bell hooks foi divulgado por sua sobrinha Ebony Motley, em um comunicado à imprensa.
Registrada como Glória Jean Watkins nasceu em 25 de Setembro de 1952, em Hopkinsville, Kentucky, sendo a quarta filha entre 7 irmãos. O nome “bell hooks” foi inspirado na sua bisavó materna, Bell Blair Hooks. A letra minúscula é um posicionamento pessoal da autora que busca dar enfoque ao conteúdo da sua escrita e não à sua pessoa.
Mestre em Língua Inglesa pela Universidade de Stanford e doutora em Literatura pela Universidade de Winsconsin, bell hooks chegou a frequentar escolas segregadas na infância. Em 2004, a autora retornou ao seu estado natal, Kentucky, para lecionar na Universidade de Berea. Em 2010, a instituição abriu o Instituto bell hooks, que abriga sua coleção de arte afro-americana, objetos pessoais e cópia de livros publicados em outros idiomas. O acervo já foi visitado por feministas históricas de jovens, como Gloria Steinem e Emma Watson.
A sua carreira de professora começou em 1976 como professora de Inglês e professora sénior de Estudos Étnicos na Universidade do Sul da Califórnia, depois de terminado o doutoramento em literatura inglesa. Durante os anos que lecionou nesta Universidade, Golemics, uma editora de Los Angeles, publicou a sua primeira obra, um livro de poemas intitulado “And There We Wept” (1978), escrito sob seu pseudónimo.
Ensinou em várias instituições pós-ensino secundário no início dos anos 80 e 90, incluindo a Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, Universidade do Estado de São Francisco, Yale, Oberlin College e City College of New York. Em 1981, a South End Press publicou o seu primeiro trabalho principal, “Ain’t I a Woman? Black Women and Feminism”, escrito anos antes quando era uma estudante universitária. A seguir à publicação de “Ain’t I a Woman?” ganhou um reconhecimento generalizado pela contribuição para o pensamento feminista.
Depois de ter ocupado vários cargos na Universidade da Califórnia em Santa Cruz, Califórnia, no início da década de 1980, aceitou o cargo para lecionar Estudos Afro-Americanos na Universidade de Yale em New Haven, Connecticut. Em 1988 entrou para o corpo docente de Oberlin College, em Ohio, para em Estudos sobre as Mulheres. Quando começou a trabalhar no City College de Nova Iorque em 1995, hooks mudou-se para a editora Henry Holt e saiu da Killing Rage
Apesar de ter escrito o rascunho de “E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo” aos 19 anos, o livro só foi publicado em 1981 quando ela tinha 29, depois de receber seu doutorado. A autora atribui à relação com sua mãe, Rosa Bell, a inspiração para escrever o livro, por ter sido uma mulher que incentivou as seis filhas a serem capazes de cuidar de si sem jamais dependerem de um homem. Onze anos depois, o site Publishers Weekly, especialista no ramo de publicação literária, avaliou “E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo” como um dos vinte livros mais influentes escritos por mulheres nos vinte anos anteriores.
40 livros em 15 idiomas
Ao longo de sua carreira ela publicou mais de 40 livros em 15 idiomas diferentes, incluindo ensaios, poesia e livros infantis. Entre os temas tratados em sua obra destacam-se feminismo, racismo, cultura, política, papeis de gênero, amor e espiritualidade.
No Brasil, ganhou destaque por meio da publicação de obras traduzidas como “Olhares negros: raça e representação”, “Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade” e “O feminismo é para todo mundo”.
Uma das escritoras feministas e teóricas mais importantes de sua geração, ela era capaz de escrever ensaios com tom político, mas também bem pessoal.
Nesses textos, ela poderia também analisar clipes de Madonna ou a representação de negros americanos no cinema.
O trabalho de bell hooks já foi descrito como “a redefinição do feminismo”. Para o jornal Washington Post, ela conseguiu ampliar um movimento que muitas vezes era visto principalmente como associado a mães e esposas brancas, de classe média e alta.