
Personalidades e políticos de diferentes espectros políticos reagiram, nesta sexta-feira (9), às declarações feitas pelo general e vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB) durante entrevista à sucursal brasileira da agência alemã de notícias Deutsche Welle. Nela, o vice de Jair Bolsonaro (sem partido) faz uma defesa aberta do militar que se tornou o símbolo da tortura no Brasil, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, conhecido nos porões da ditadura como “dr. Tibiriçá”, ídolo declarado do presidente brasileiro.
Ustra morreu em 2015. Mourão afirmou que “tinha uma amizade muito próxima com esse homem”, que teria sido “um homem de honra”. Para evitar responder às acusações de tortura, afirmou, sem pestanejar, que Ustra era “um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados”. Numa clara tentativa de reescrever a história, Mourão afirmou ainda que muitos militares e agentes de segurança foram pessoas “injustamente acusadas de serem torturadoras”.
Face perversa
Líder do PSB na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (RJ) foi categórico. “Mourão defendeu Ustra, o torturador responsável por colocar ratos nos órgãos sexuais de mulheres. Essa declaração do vice de Bolsonaro é um escárnio e ataca a todos, principalmente as vítimas e seus familiares! Declaração repugnante, asquerosa e criminosa”, disse.
Ex-ministro do Meio Ambiente e deputado estadual do PSB carioca, Carlos Minc recordou que ‘tortura é crime inafiançável’ no país. “Como é possível que o vice Mourão enalteça o confesso torturador Ustra?! Persevering face. O que dirão às famílias que perderam filhos massacrados? E o STF [Supremo Tribunal Federal]?”, questionou.
Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP) classificou a fala como ‘repugnante’. “Repugnante o vice-presidente da República defender quem praticou crimes contra a humanidade e desconhecer que direitos humanos não são de direita, de esquerda ou de subordinados. São de todos. Dano gravíssimo à impunidade da ditadura, ditadores, torturadores”.
Sem rodeios, o candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos afirmou que Mourão está fadado a seguir o destino de Ustra. “Não há honra em colocar ratos no corpo de mulheres e torturar grávidas, há apenas maldade e perversão. Ustra é a lata de lixo da história do Brasil e Bolsonaro e Mourão serão também”, declarou.
O escárnio de Mourão
Companheiro de partido, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) disse que “defender torturador é compactuar com a tortura”. “É um escárnio o vice Mourão dizer que Brilhante Ustra era um homem de honra e que defendia os Direitos Humanos. Ustra foi torturador! O 1º militar condenado pela Justiça pelo crime de tortura na ditadura! É isso que ele é!”, emendou.
O ex-ministro dos Esportes e candidato do PCdoB à prefeitura de São Paulo, deputado federal Orlando Silva aproveitou para deixar clara sua opinião sobre o vice-presidente, “Mourão diz que Ustra era um homem honrado. Não! Era um monstro desumano, cruel, facínora. Diz que respeitava os direitos humanos dos subordinados, mas assassinava e torturava os adversários.O Brasil tem nojo da ditadura. Derrotaremos esse governo de tiranos!”.
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou que a fala de Mourão deixa claro o descaso com a verdadeira história do país. “Não pairam dúvidas sobre o cometimento do crime de tortura pelo coronel Ustra. Quando alguém lhe presta homenagens, como o fez o vice-presidente Mourão, a pessoa não está negando que ele tenha torturado seres humanos, está apenas revelando que não se importa com isso”.
‘Monstro não tem honra’
O deputado federal gaúcho Bohn Gass (PT-RS) apontou a incongruência da declaração diante do significado de ‘honra’. “Uma criatura que leva crianças para ver a mãe ser torturada, como Ustra fez com Amelinha Teles, é alguém que deveria ter sido preso numa instituição psiquiátrica forense. Monstro não tem honra, Mourão. E Ustra era um monstro”, definiu.
Líder da Minoria no Congresso, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) disse que o sentimento diante das declarações de Mourão é de ‘indignação’. “Essa declaração do Mourão não causa nenhuma surpresa porque nós sabemos quem ele é e o que defende. Em realidade, o que esse elogio causa é revolta, indignação, de ver o vice-presidente de um país democrático exaltar um torturador cruel”, pontuou.
O perfil nacional do PSTU deixou uma mensagem nas redes sociais em repúdio à fala de Mourão: “Nojento e indignante o elogio de Mourão ao torturador facínora Brilhante Ustra. Mostra como esse governo se referencia em ditadores, torturadores e estupradores da ditadura militar. Ustra, mesmo condenado pela Justiça, morreu sem qualquer punição. Fora Bolsonaro e Mourão!”.
O jornalista à frente do site de direita O Antagonista, Diogo Mainardi – um dos que contribuíram para a ascensão do neofascismo no Brasil – usou seu perfil no Twitter para ironizar a suposta defesa de Ustra pelos direitos humanos. “Direitos humanos no pau-de-arara”.
Um criminoso de alta periculosidade, um sujeito torpe e vil, uma figura hedionda!
OBS: BOLSONARO E MOURÃO, SINTAM-SE ELOGIADOS, AFINAL VOCES NÃO FICAM ATRÁS!