
O mês de abril é dedicado à Revolução da Moda pelo Fashion Revolution, um movimento global que atua para uma indústria da moda mais limpa, justa e transparente.
O Socialismo Criativo preparou uma série de matérias sobre a indústria da moda como uma expressão da economia criativa. Os textos são de Iara Vidal, representante do Fashion Revolution em Brasília e jornalista do portal, e serão publicados ao longo do mês de abril.
Siga a hashtag #FashionRevolution2021 e acompanhe os textos sobre o movimento.
Encontro da moda com os games
Uma das características da moda, como setor da economia criativa, é estabelecer conexões com outras atividades ligadas à Era da Informação, entre elas a tecnologia. A expressão dessa sinergia fica evidente no mundo dos games, onde roupas que não existem fisicamente movimentam bilhões e influenciam a moda do mundo real.
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No mundo dos games, esse tipo de produto existe há décadas. São as skins, itens cosméticos que enchem os olhos de jogadores e o faturamento de desenvolvedoras. Como o vestuário da vida real, elas servem para expressar identidade e deixar personagens mais atraentes nos jogos.
O mundo da moda demorou para entender a convergência entre as próprias aspirações e os desejos de gamers. Agora, corre atrás para se inserir no universo das roupas que só existem on-line, tentando, inclusive, criar um mercado em torno desse tipo de produto para além dos jogos.
Em 2019, a marca de luxo Louis Vuitton colocou à venda calças, blusas, brincos, botas e bolsas que não existiam. Ao menos, não fisicamente. Nicolas Ghesquère, diretor artístico de coleções femininas e um dos mais importantes estilistas da marca, foi o responsável por desenhar as roupas virtuais. Elas puderam ser compradas por jogadores de “League of legends” (LoL). A parceria entre o game e a marca deu origem, além das peças virtuais, a uma coleção física dedicada ao jogo.
Como o jogo é gratuito, a maior parte do faturamento vem da venda de itens cosméticos, que, no “LoL”, têm somente função estética, não aumentam o desempenho dos jogadores. A responsável pelo marketing dos produtos da Riot Games – entre eles, o “LoL”, Priscila Queiroz, avalia que esse mercado de moda virtual é crucial porque é uma forma de monetizar os jogos.
“As skins são uma forma de oferecer, ao jogador, opções para que ele expresse seu estilo e sua identidade. É como se ele estivesse numa loja, escolhendo o que lhe representa mais.”
Priscila Queiroz
Uma skin em “LoL” custa, em média, 1350 riot points (a moeda do jogo), o equivalente a cerca de R$ 28. Algumas, mais caras, são vendidas por 3000 RPs, aproximadamente R$ 64. Só em 2020, “LoL” gerou US$ 1,75 bilhão em receita para a Riot, segundo relatório da SuperData, empresa de dados e estatísticas do universo dos games e eSports.
Impacto da pandemia da Covid-19
A pandemia da Covid-19 forçou a moda a se tornar mais virtual do que nunca. Com desfiles cancelados pelo risco de contaminação, grifes tiveram que apelar à tecnologia para apresentar coleções. Muitas optaram pelo método mais convencional de transmissão ao vivo, com modelos desfilando para as câmeras. Outras foram mais longe. No mundo físico, o isolamento para conter o vírus tornou escassas as ocasiões sociais. A vida on-line sobressaiu. E, nesse cenário, os avatares virtuais ganharam ainda mais força.
A francesa Balenciaga criou justamente um jogo de videogame para mostrar versões 3D de suas mais novas peças, num futuro imaginado pelo diretor criativo Demna Gvasalia.A Nike é outra gigante da moda que já fatura nesse filão. Em 2019, a empresa se aliou ao “Fortnite” para produzir skins inspiradas em Michael Jordan.
Por trás desses produtos virtuais, há uma cultura de ostentação e um mercado estruturado, com enormes comunidades para negociação de skins e influenciadores que atuam para promovê-las.
Look de Instagram
Olhando para o futuro, algumas empresas experimentam levar as roupas virtuais para além dos games. Já pensou em comprar um vestido para usar apenas em uma foto do Instagram? A grife croata Tribute vende esse serviço. Por valores que podem chegar a US$ 699 (mais de R$ 3.800), um cliente envia uma foto sua à loja e a recebe de volta com um look totalmente novo, que só existe on-line.
O novo iPad, por exemplo, tem um sensor de área, para aplicar esse tipo de tecnologia. Alguns analistas estimam que, à medida que dispositivos assim se tornem mais acessíveis, a moda virtual se tornará comum em cerca de 10 anos.
Tecnologia na indústria da moda
Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) mostram que 24% da produção têxtil é remarcada, liquidada ou descartada. Com o apoio de soluções digitais é possível fazer coleções variadas de forma rápida e mais assertiva. Isso inclui até mesmo permitir que o consumidor faça parte desse processo de produção de peças. Uma realidade que hoje é totalmente possível por meio dos novos equipamentos de impressão disponíveis no mundo da moda.
Uma das iniciativas que precisa estar no radar dos gestores do setor de moda é a inovação. O consumidor se adequa a um mundo mais conectado e, ao mesmo tempo, mais cômodo do ponto de vista de consumo. Oferecer novos formatos de atendimento, de conexão, de compra e de entrega, é apenas uma parte deste novo normal. Conectividade é a palavra-chave para este 2021.
Se há alguns anos produzir em grandes quantidades era a única forma de manter uma operação lucrativa, a inovação no têxtil abriu precedentes para o fortalecimento de outras formas de consumo. Assim, o fast-fashion foi se transformando e hoje é o smart-fashion que ganha destaque.
Com a ascensão de novos formatos de produção, como a impressão digital têxtil, a produção em larga escala deixa de ser uma necessidade. Otimizar estoque, produzir com mais qualidade e personalização, através de processos limpos, rápidos e produtivos é fundamental para quem quer voltar a crescer.
Otimização de peças
Outra tendência que pode ser encarada como uma continuação do smart-fashion é a efemeridade das coleções. E isso não é de todo ruim, visto que a personalização das peças é um dos diferenciais que o consumidor busca na moda.
Criar coleções cápsula, com menos modelos e mais lançamentos ao longo do ano é uma forma de expandir o público-alvo, trazer novidades para um público que anseia, cada vez mais, novidades em um curto espaço de tempo.
Com a produção ágil, reduz-se a necessidade de estoque e, consequentemente, se repõe rapidamente os produtos ao passo que é possível inovar, manter peças personalizadas e com melhor custo-benefício.
Com informações do G1 do Estadão