
Causou forte reação entre especialistas, políticos e magistrados a decisão do governo Bolsonaro de ocultar dados consolidados das vítimas de Covid-19 no País. No entanto, após sofrer pressão, o Executivo anunciou um recuo e prometeu retomar a divulgação detalhada dos impactos da doença.
Na noite deste domingo (5), o Ministério da Saúde divulgou duas notas afirmando que está finalizando uma plataforma que trará os números detalhados da pandemia.
Advogados alertaram sobre a violação de princípios constitucionais, como o da Publicidade (como dever de transparência), Legalidade e Moralidade.
O Ministério da Saúde também prometeu deixar acessível para consulta o acumulado de casos, já que havia o temor de que casos cuja confirmação atrasasse sumissem dos registros oficiais.
Maquiagem de dados
Segundo reportagem do Valor Econômico, militares que ocupam postos chave no Ministério da Saúde vêm pressionando técnicos da pasta a maquiar dados relativos a casos de covid-19 e mortos pela doença no país.
A pressão atinge também a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que produz relatórios usados para consumo interno do Centro de Coordenação de Operações (CCOP) da Casa Civil – grupo que atua no Palácio do Planalto e reúne funcionários de vários ministérios.
De acordo com fontes ouvidas pelo jornal, a maquiagem deve sofrer mais retoques nesta semana, caso seja adotado um novo critério para exibição do número diário de mortes, sugerido por auxiliares do ministro Eduardo Pazuello – e que deve resultar em um número bem menor do que os atuais.
Hoje, os números exibidos contêm as mortes registradas no mesmo dia e os óbitos confirmados naquela data, mas que ocorreram anteriormente e estavam sob investigação. Funcionários relatam que o coronel Elcio Franco Filho, secretário-executivo da pasta, tem insistido para que passem a ser divulgadas apenas as mortes ocorridas e confirmadas no mesmo dia.
Um exemplo de como essa ordem ajuda a maquiar os dados: em 4 de junho, a pasta divulgou o número recorde 1.473 mortes. Esse dado se refere à soma das mortes ocorridas naquela quinta-feira e aos óbitos por covid-19 confirmados naquele mesmo dia, mas que estavam sob investigação. O mesmo boletim trazia o número de mortes com data de ocorrência nos últimos três dias era de 366 – o restante era relativo a casos que estavam em investigação. É esse número que se pretende adotar daqui para a frente.