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Com a interrupção do comércio, a paralisação da produção industrial e o breque no setor de serviços impostos pela pandemia do coronavírus, o Brasil assistiu um fenômeno inédito: quase metade da população em idade de trabalhar literalmente parou.
Os dados são de um estudo divulgado neste sábado (26) pelo jornal Folha de S. Paulo, produzido pela Universidade de São Paulo e pelo Projeto Salariômetro, da Fipe, sob a coordenação de Hélio Zylberstajn. O pesquisador usou dados de todas as pesquisas Pnad Contínua, do IBGE, para chegar aos parâmetros.
O resultado pontou que pela primeira vez o número de brasileiros inativos, ou seja, sem emprego e sem buscar algum, ultrapassou a marca de 40%. O maior índice foi nos trimestres encerrados em julho e agosto, quando o indicador chegou a 45,3% —a média histórica é de 38,9%.
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Somando-se a esse contingente os brasileiros desempregados (aqueles em busca de trabalho, segundo o critério do IBGE), a quantidade de pessoas sem ocupação chegou a 53,2%, um recorde.
Formais e informais atingidos no Brasil
Segundo Zylberstajn, da USP, quando a pandemia chegou ao Brasil, entre março e abril, o mercado de trabalho sofreu um enorme baque, sobretudo os trabalhadores informais que, dadas as medidas restritivas de circulação, ficaram impedidos de desempenhar suas atividades.
“Imagina um vendedor nos cruzamentos em semáforo, ou quem vende bolo, sanduíche, na porta do metrô? As ruas ficaram desertas. O transporte público ficou às moscas. O pessoal não tinha o que fazer, ficou sem ocupação.”
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Com o passar do tempo, os formais foram também atingidos, mas com intensidade menor. Isso porque uma medida provisória permitiu que empresas suspendessem contratos ou reduzissem a jornada e o salário de funcionários, que receberam um complemento de renda do governo.
“Isso manteve essas pessoas fora dessa categoria não ocupadas. E não foi pouca gente. Essa quantidade de pessoas cujo emprego foi preservado deve beirar os 12 milhões”, disse o professor.
Fundo do poço
A taxa de não ocupação, que considera os brasileiros fora da força de trabalho mais os desocupados, demonstra como o mercado do trabalho chegou ao fundo do poço.
Em dezembro de 2019, o indicador estava em 44,9%. Na época, os brasileiros desocupados eram 6,8% do total de pessoas em idade para trabalhar, enquanto os inativos —que estavam desempregados e não buscavam emprego— somavam 38,1%. Os dois indicadores subiram a 8% e 44,9%, respectivamente, no trimestre encerrado em setembro.
De acordo com Rodolpho Tobler, economista do FGV-Ibre, os números do mercado de trabalho em 2020 mostram que a pandemia afetou diretamente os trabalhadores, que ficaram sem emprego e sem possibilidade de procurar uma nova vaga.
A edição mais recente da Pnad Covid (pesquisa criada pelo IBGE para calcular os efeitos da pandemia no mercado de trabalho), referente a novembro, mostrou de fato uma queda no número de pessoas em isolamento social rigoroso. Em novembro, o número alcançou o menor patamar da série histórica (23,5 milhões). Em outubro, eram 26,2 milhões nessa situação. Em julho, eram 49,2 milhões.
Por outro lado, aumentou a quantidade de brasileiros que dizem não adotar restrições para conter o avanço da Covid-19. Pela primeira vez, esse contingente ultrapassou a marca de 10 milhões de pessoas. Em julho, esse grupo era de 4,1 milhões de pessoas.
‘Sem recuperação no curto prazo’
Tobler destaca que ainda existiam, em novembro, 13,6 milhões de brasileiros desempregados que não procuraram trabalho por conta da pandemia, mas que gostariam de estar trabalhando. Para o pesquisador, isso significa que, sem uma vacinação efetiva na população que acabe com a transmissão da Covid-19, é difícil imaginar uma recuperação rápida da economia.
“Não conseguimos imaginar recuperação em curto prazo. O ano de 2021 ainda é incerto, não sabemos sobre vacina, e sem cenário claro de que vai voltar ao que era antes não conseguimos medir os efeitos”, apontou. Ele acredita que a retomada ao patamar pré-crise só venha ao longo de 2022, sem saber precisar se no começo ou fim do ano.
Com informações da Folha de S.Paulo