
O mercado de influenciadores digitais também reproduz desigualdade de gêneros, com homens ganhando, em média, 20,8% a mais que as mulheres, mesmo elas sendo maioria nessa área da economia criativa.
É o que aponta o estudo “Machismo, Sexismo & Equidade no Marketing de Influência“, realizado pela Squid em parceria com o YouPix.
A pesquisa, divulgada pelo Meio e Mensagem, foi feita com 2.800 influenciadores, de 37 categorias diferentes de conteúdo, cadastrados na Squid e que residem no todo o Brasil.
No levantamento, 78,4% se identificam como mulheres, 20,6% se identificam como homens e 1,1% se identificam como não-binários.
Os negócios em inovação não estão imunes aos efeitos nocivos do machismo estrutural na inclusão econômica.
O dado impressiona porque muitos desses conteúdos, assim como o público consumidor deles, têm relação como temas relacionados ao empoderamento feminino, representatividade e pautas identitárias.
A pesquisa partiu de uma média dos valores indicados por homens e mulheres para estabelecer a comparação entre os dois resultados.
Como resultado foi observada uma discrepância entre o cobrado por homens e mulheres influenciadores, com diferença maior nas categorias de conteúdo tecnológico, geek e nerd, gastronômico, decoração e automobilístico.
Luta antiga das feministas, a igualdade salarial para as mesmas funções exercidas pelos homens também não é cumprida pelo setor da economia criativa.
Pelo contrário, o levantamento aponta que os homens ganham mais que as mulheres até em categorias onde o domínio delas é maior, como moda e beleza.

O estudo prossegue confirmando as desigualdades de gênero. No setor, 40% das produtoras de conteúdo são mães e isso pode ser usado como argumento para a cobrança de um valor menor por um trabalho que um homem exigiria um pagamento maior.
A prática não dialoga com a realidade de mulheres que acabam tendo mais responsabilidades financeiras e necessidade de geração de renda, reconhece a CEO da Squid, Isabela Ventura.
“O mais surpreendente é perceber que mesmo nós mulheres sendo maioria e mesmo o nosso mercado sendo inovador, ainda sim repetimos os padrões de mercados mais conservadores. O que me faz questionar qual é o tipo de informação necessária para que nós, realmente, nos conscientizemos e façamos uma mudança significativa”, questiona Isabela Ventura, CEO da Squid.
A diferença que surpreende, na verdade mascara outro braço do machismo, o mito da “mulher cuidadora”.
O comportamento é mapeado pela Rede Tear – rede de iniciativas femininas para diminuir a desigualdade no mercado de trabalho, da qual Ventura é cofundadora.
Nesse sentido, são as mulheres as que mais investem seu tempo na produção de capital intelectual ou financeiro, em função das necessidades coletivas, relacionadas à família e o cuidado.
A região sudeste ganha destaque na cartografia do machismo com a diferença salarial saltando de 20,8% para 36,7%.
“Diante do grande acesso que temos às informações e tendências mundiais pensávamos que isso (machismo) já poderia ter impactado uma mudança de comportamento. Mas não é bem assim e, hoje, nos parece que muito é dito, porém ainda muito pouco é implementado”, avalia Isabela Ventura.
Mas é no Norte e Nordeste do país que as mulheres se sobressaem e recebem mais do que os homens, ainda que em uma porcentagem menor: 3,6% e 6,7%, respectivamente.