
Em um comunicado divulgado esta semana, a organização francesa Médicos sem Fronteiras (MSF) afirma que o governo brasileiro impediu o atendimento de saúde que a entidade prestaria em sete comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul. Os Terenas pediram ajuda à ONG em julho para combater o avanço do coronavírus nas aldeias.
Em nota, a MSF diz ter apresentado um projeto de ação nas comunidades e que recebeu uma negativa por parte da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), uma divisão do ministério da Saúde. Na resposta enviada, a Sesai alega que o plano apresentado pelos médicos não trazia precisões sobre os locais de atendimento, datas e meios a serem empregados.
O órgão dedicado à saúde indígena afirmou ainda ter aceitado a ajuda de um grupo de trabalho da entidade francesa, com um médico, três enfermeiros e um psicólogo, na aldeia Aldeinha, no município de Anastácio (MS). Segundo a Sesai, seria ali a maior taxa de incidência de casos de infectados pela Covid-19.
No entanto, representantes da ONG dizem que a comunidade aceita está localizada a menos de 5 km de um grande município e com apenas 500 pessoas, e que esta não fazia parte da primeira proposta do grupo. A organização também diz já ter apresentado uma nova proposta de atendimento em ações coordenadas com o distrito de saúde local para 11 comunidades indígenas e cerca de 6 mil pessoas. O objetivo será detectar casos suspeitos da Covid-19 e prevenir o contágio.
“O que vimos quando chegamos no final de julho é que a incidência de casos entre os Terenas era particularmente alta em comparação com outros grupos indígenas da região”, afirma a coordenadora de emergência dos projetos do MSF no Brasil, Dounia Dekhili.
“Sabemos que o vírus uma vez dentro da comunidade propaga-se rapidamente, por isso a urgência de ir a essas comunidades remotas que não têm acesso fácil a serviços de saúde e poder testar e isolar os casos positivos, evitando a contaminação de outros”, completa.
Covid entre indígenas
A pandemia do coronavírus tem atingido duramente as comunidades indígenas brasileiras. De acordo com a contagem feita pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), já são 26.956 casos de indígenas contaminados pelo coronavírus e 704 mortos, em 155 comunidades, até este sábado (22).
Para a entidade, a proibição da entrada do grupo da Médico sem Fronteiras nas comunidades Terena do Mato Grosso do Sul “pode agravar os casos de contaminação na região”.
O grupo indígena fez o pedido de autorização para entrada dos médicos voluntários no dia 24 de julho, quando seis indígenas do povo Terena haviam morrido pela Covid-19. No dia 19 de agosto, a comunidade já contava 41 mortos pela doença, além de 1.239 contaminados, segundo levantamento feito pelo Conselho Terena e pela Apib.
Terras indígenas fora do plano federal
Desde o início da pandemia, o governo brasileiro tem sido acusado pelos grupos indígenas de não tomar medidas para proteger essa população mais vulnerável. Em julho, o presidente Jair Bolsonaro chegou a vetar partes de uma lei que previa medidas de emergência para o cuidado das comunidades indígenas.
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A decisão foi alterada mais tarde pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que obrigou o governo a criar barreiras sanitárias e um plano de enfrentamento para a doença aos indígenas.
No entanto, o plano de instalação de barreiras sanitárias para proteger as aldeias feito pelo governo federal deixou de fora 70% das terras indígenas, de acordo com um documento de grupo de trabalho do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos divulgado esta semana.
De acordo com o relatório, os indígenas instalaram metade das 274 barreiras sanitárias por conta própria, sem participação do órgão federal responsável pela proteção dessas comunidades, a Funai.
Com informações da rfi