
Durante reunião da CPI da Pandemia no Senado nesta quarta-feira (4), o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) apontou contradições no depoimento do coronel da reserva Marcelo Blanco. O parlamentar indicou que o coronel realizou, em 30 dias, 108 ligações para Dominguetti, sendo 64 de iniciativa própria.
Para Vieira, o depoente zombou da inteligência dos membros da CPI ao apresentar uma versão de que ele teria sido incapaz de compreender que o representante da Davati seria um “estelionatário”.
O senador ainda chamou atenção para o fato de Blanco ter aberto uma empresa em fevereiro, voltada para a educação financeira e, em março, ter feito uma alteração cadastral para inclui-la também como representante comercial de medicamentos. Para Alessandro Vieira, essa alteração foi feita para participar da negociação entre a Davati, que oferecia vacinas, e o Ministério da Saúde.
Segundo o coronel, ele fez a alteração cadastral após amigos o orientarem a mudar a razão social por causa do seu “conhecimento” sobre os procedimentos no ministério.”É muita vergonha alheia”, concluiu o senador Alessandro Vieira.
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Simone Tebet: ‘Soldados da ética que se deixam levar pela corrupção são desertores’
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) apontou contradições no depoimento de Marcelo Blanco, tenente-coronel da reserva do Exército e ex-assessor do Ministério da Saúde. Simone também ressaltou a “coincidência” na mudança da razão social da empresa de Blanco: criada inicialmente para operar no mercado financeiro, essa empresa mudou sua razão social para atuar na área da saúde logo após a sanção da lei que autorizou a compra de vacinas pela rede privada.
Simone Tebet lamentou ainda o envolvimento de militares nessa suposta intermediação para compra de vacinas. Ela destacou que acredita nas Forças Armadas “como instituição ilibada”, mas também disse que “os soldados da ética que se deixam levar pela corrupção são desertores”. A senadora também afirmou que a iniciativa de Blanco é como uma “associação militar com fins lucrativos”.
” Vossa Senhoria e todos os militares citados [nesse caso] trazem para dentro do processo as Forças Armadas, lamentavelmente. As Forças Armadas sempre requisitaram soldados sempre prontos para a luta, que juraram defender a pátria, a ética e a moral, sem se misturar ao que é antiético e que beira a crimes contra a administração pública. Os soldados da ética que se deixam levar pela corrupção são desertores. Não sabemos ainda quem são, mas a CPI vai descobrir”, declarou ela.
Depoimento de Blanco não se justifica, diz Marcos Rogério
Diante da resposta do depoente de que não houve conversa relacionada à contratação de vacina no encontro que manteve com Luiz Paulo Dominguetti, em Brasília, Marcos Rogério (DEM-RO) concluiu que não houve corrupção passiva que justificasse a convocação do ex-assessor do Ministério da Saúde à CPI.
“Não houve pagamento de valor, ninguém recebeu alguma coisa, nem contrato teve, nem negociação teve. E o que a CPI faz? Tenta produzir narrativa acusatória com foco total no governo. O sistema interno de controle de Ministério da Saúde funcionou bem, mas estão aqui acusando, ocupando o tempo para produzir narrativas acusatórias”, afirmou Rogério.
O clima esquentou quanto Marcos Rogério criticou o acesso de internautas às informações da CPI e disse que a comissão está sendo pautada por perfis falsos da internet. “É o gabinete paralelo que pauta os atos aqui, tem acesso a informações sigilosas, compartilham, questionam e têm muitos aqui que querem calar até os advogados, um internauta sabia do conteúdo de informação resguardada por sigilo”, afirmou.
O presidente Omar Aziz (PSD-AM) reagiu à fala de Marcos Rogério e disse que o senador “quer desclassificar a CPI a todo instante, na defesa de um governo irresponsável e incompetente”. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) explicou que os internautas têm acesso diário aos documentos da CPI, que são públicos.
Em seguida, Omar Aziz reforçou que os documentos em poder da CPI apresentam dados suprimidos pelo coronel Blanco. “As informações da defesa [do ex-assessor] são imprecisas e não batem com dados em poder da CPI”, concluiu.
Girão questiona informações enviadas por internauta para Renan
Eduardo Girão (Podemos-CE) pede para tomar cuidado para não “cair no ridículo em certas situações”. Para Girão, “ficou mal explicada” a participação de um internauta pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), que teria enviado documentos sigilosos à comissão parlamentar de inquérito.
Em resposta, Renan Calheiros informou que o internauta apenas relembrou que a CPI já tinha recebido, publicamente, informações que contrariavam as informações do coronel Blanco.
Para senador, governo omitiu parte de depoimento de Pazuello à PF
Em questão de ordem, Rogério Carvalho (PT-SE) acusou o Poder Executivo de criar obstáculos à CPI ao enviar informações incompletas e insuficientes em resposta a requisições. Citando reportagem do site de notícias Metrópoles, o parlamentar afirmou que a Polícia Federal enviou à comissão de inquérito depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello omitindo menções ao presidente Jair Bolsonaro e ao deputado Luis Miranda.
“Este fato é gravíssimo, e pode sinalizar a utilização de instituições do Estado brasileiro para o amparamento de grupos cujos interesses não se coadunam com os objetivos da nação”, afirmou Carvalho.
O senador salientou que a requisição de documentos é “garantia do Parlamento de acesso à informação” e manifestou entendimento de que a omissão de dados configuraria tentativa do governo de interferir nos trabalhos da CPI.
Blanco disse desconhecer motivo de sua exoneração do MS
A Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o coronel Marcelo Blanco disse desconhecer a justificativa para a sua exoneração do Ministério da Saúde, em janeiro de 2021. Segundo ele, foi uma decisão pessoal do ministro e que, somente após a sua saída, pensou em abrir uma empresa e se dedicar a atividade laboral.
O vice-presidente da CPI ainda questionou a testemunha sobre o empresário Odilon, que de acordo com o senador, tornou-se um “personagem frequente” nos depoimentos envolvendo a Davati. Odilon, segundo Dominguetti, teria feito a ponte de contato entre ele e Blanco. O coronel afirmou que o cabo da PM representava interesses de algumas empresas e que esteve com ele a partir de fevereiro deste ano em várias agendas. Randolfe chegou a exibir uma foto para reconhecimento, mas Blanco disse não se tratar de Odilon na imagem apresentada.
Jorginho critica “barbeiradas” do Ministério da Saúde
Jorginho Mello (PL-SC) disse que o Ministério da Saúde cometeu “uma série de barbeiradas” na negociação da vacina AstraZeneca no ano passado. Segundo o parlamentar, estava claro que Luiz Paulo Dominguetti e Cristiano Carvalho não tinham a qualificação necessária para representar o laboratório no Brasil.
“Foi uma série de barbeiradas, de perda de tempo. Pessoas desqualificadas tentando vender o que não tinham. Isso diminuiu o Ministério da Saúde e nosso Sistema Único de Saúde, que é um dos melhores do mundo. Lamento esses desencontros,” disse.
Com informações da Agência Senado