
Manobra eleitoreira do presidente Jair Bolsonaro (PL) para tentar “comprar votos”, Auxílio Brasil começa a ser pago a partir desta terça-feira (9). Com a antecipação do calendário de pagamentos em agosto, foi iniciada a liberação de verbas para os beneficiários com o Número de Identificação Social (NIS) com final 1. Os demais grupos receberão os pagamentos até o dia 22.
As datas das parcelas do Auxílio Brasil referentes aos outros meses restantes do ano (setembro, outubro, novembro e dezembro) não foram afetadas.
Outras ações do pacote de “bondades” de Bolsonaro, também começam a ser pagas nesta terça-feira (9), como o Auxílio Gás no valor de R$ 110 a 5,6 milhões de famílias (veja o calendário aqui) e o Auxílio Caminhoneiro com duas parcelas referentes aos meses de julho e agosto.
Um total de 20,2 milhões de beneficiários em condição de vulnerabilidade social vai receber o mínimo de R$ 600 neste mês referente ao Auxílio Brasil.
O adicional de R$ 200 para o Auxílio Brasil, que eleva o valor mínimo do benefício de R$ 400 para R$ 600, será válido entre agosto e dezembro deste ano. Esse acréscimo no valor do Auxílio Brasil está dentro da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) e prevê gastos de R$ 41,2 bilhões em medidas de auxílio à população pobre e a algumas categorias profissionais.
O investimento total para o pagamento do Auxílio Brasil em agosto de 2022 é superior a R$ R$ 12,1 bilhões. O valor médio é de R$ 607,88. Além do benefício principal, há benefícios complementares pagos de acordo com os perfis das famílias, como o Auxílio Esporte Escolar, a Bolsa de Iniciação Científica Júnior e o Auxílio Inclusão Produtiva Rural.
O Auxílio Brasil é destinado a famílias em situação de extrema pobreza. Famílias em situação de pobreza também podem receber, desde que tenham, entre seus membros, gestantes ou pessoas com menos de 21 anos.
As famílias em situação de extrema pobreza são aquelas que possuem renda familiar mensal per capita de até R$ 105, e as em situação de pobreza renda familiar mensal per capita entre R$ 105,01 e R$ 210.
Conta para os mais pobres virá depois
O diretor do FGV Social e fundador do Centro de Políticas Sociais (FGV Social/CPS), Marcelo Neri, essas medidas devem reduzir a pobreza apenas até o fim do ano, quando a maior parte das ações realizadas a partir da “PEC das bondades” diminui ou acaba.
“Esse pacote tem boas e más notícias. As boas vêm na frente. As más vêm depois. Quando o auxílio entra, a pobreza cai. Mas, quando ele sai, gera um aumento de pobreza maior que a redução inicial. Vimos isso em março de 2021, quando a pobreza subiu para 71,9 milhões de pessoas depois de ter caído para 42 com o auxílio emergencial”, diz Neri, que foi ministro chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) durante o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff.
O economista diz que as medidas de injeção de dinheiro têm caráter político e ajudam a trazer boas notícias antes da eleição. Mas “a conta virá depois”.
Primeiro, acontecerá uma queda nominal do benefício, de R$ 600 para R$ 400, agravada pela elevada inflação e acompanhada de um comprometimento da renda por conta do possível empréstimo consignado”, explica.
Para ele, o governo deveria implantar um programa de distribuição de renda mais consistente, com um valor mais sustentável a longo prazo e que leve em conta o tamanho da família. Sem essa opção, o melhor, recomenda o especialista, é economizar para se preparar para o próximo ano.
“O que a gente deveria fazer é um esforço de poupança e conscientizar a população de que dias difíceis vêm pela frente e que é importante fazer um pé de meia. É importante gerar cautela na população para que ela possa suavizar seu padrão de consumo ao longo do tempo”.
“Bolsonaro quer comprar votos”, diz Gleisi Hoffmann
Para a presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), o pacote de “bondades” de Jair Bolsonaro (PL) é, na prática, uma manobra para comprar votos a apenas cem dias do primeiro turno das eleições.
Uma tentativa desesperada, já que a última pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (23), por exemplo, aponta a vitória do ex-presidente Lula (PT) já no primeiro turno.
“É uma coisa absurda. Querem mudar a Constituição para burlar a lei eleitoral e dar um novo benefício às vésperas das eleições”, disse Gleisi.
Gleisi destacou, porém, que a população brasileira está ciente das armadilhas que Bolsonaro tenta emplacar. “Isso não vai comprar o voto do povo pobre. Esse tempo já passou”.
Diretor do Dieese diz que medida eleitoreira é ineficiente
Para o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Júnior, a manobra de Bolsonaro para conter a insatisfação dos caminhoneiros, público que tem se posicionado favorável ao atual presidente, não resolve o problema central dos combustíveis.
“O governo Bolsonaro vai buscando caminhos para tentar sua reeleição. São medidas tipicamente eleitorais que de fato não enfrentam o problema de raiz dessa questão.”
Os combustíveis estão por trás de toda essa discussão, inclusive da inflação alta que vivemos no país, e isso tem por origem essa política de paridade de importação”, pontua, em entrevista ao Jornal Brasil Atual.
“Como um país que produz boa parte do petróleo que precisa para seu consumo, que consegue fazer o refino da maior parte da gasolina de mais de 70% do diesel fica totalmente condicionado aos preços internacionais por conta de meia dúzia de importadores? É o debate que precisa ser feito e que tem sido refutado”, aponta.
Com informações do g1