
Depois de tentar um processo de destituição do presidente do Peru, o esquerdista Pedro Castillo, em novembro do ano passado, talvez a direita esteja investindo em mais uma tentativa em tirá-lo do poder. A procuradora-geral do Peru, Zoraida Ávalos, decidiu abrir na terça-feira (4) uma investigação preliminar contra Castillo por supostos crimes de tráfico de influência e conluio.
As acusações, segundo Zoraida, seriam por conta de uma suposta visita de uma lobista chamada Karelim López a um imóvel no distrito de Breña, nos arredores de Lima, que pertence a uma pessoa próxima de Castillo, onde o então candidato à presidência realizava reuniões durante a campanha e nos primeiros dias de mandato.
Segundo a procuradoria-geral do Peru, o Ministério Público aponta que o chefe de Estado poderia ter se aproveitado do cargo para beneficiar terceiros, em conluio com Karelim López e o ex-secretário presidencial Bruno Pacheco.
Além disso, uma das suspeitas gira em torno da autorização de uma obra rodoviária avaliada em 58 milhões de dólares (aproximadamente R$ 330 milhões). Outra acusação ocorre devido a decisão da petroleira estatal Petroperú de comprar 280 mil barris de biodiesel da empresa Heaven Petroleum Operators (HPO) por 74 milhões de dólares (cerca de R$ 420 milhões).
O esquerdista, até então desconhecido e de origem muito humilde, nasceu e viveu sempre Tacabamba, um povoado do departamento de Cajamarca, uma área pobre do interior do Peru, e não tinha local para ficar na capital durante o período eleitoral.
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O dono do imóvel, que é da terra natal de Castillo e foi identificado como Sánchez, deu uma entrevista à TV peruana e disse que cedeu a casa no período da disputa política e da transição porque Castillo é um homem “da província”, sem recursos e sem condições de ficar alojado em Lima. Sánchez explicou ainda que o atual presidente conhece toda sua família e que sua mãe preparava comida típica de Cajamarca para o atual chefe de Estado.
A tal reunião com a lobista, de acordo com o dono da casa, sequer ocorreu. Karelim, que é envolvida em outras investigações sobre corrupção, teria ido ao imóvel quando Castillo não estava, dizendo que queria entregar uns documentos a ele.
Por fim, surgiram informações que a irmã do dono da casa onde Castillo ficava hospedado teria obtido contratos com dois governos regionais do Peru recentemente, nos departamentos de Madre de Dios e de La Libertad, que são chefiados por partidos de direita, opositores de Castillo.
Pedro Castillo assumiu o comando da nação andina há apenas cinco meses, após vencer a candidata de extrema direita Keiko Fujimori, filha do ditador Alberto Fujimori, condenado por violações aos direitos humanos, num pleito marcado por um resultado apertado, ameaças de golpe e oposição maciça das elites econômica e política peruanas ao professor de 52 anos.
Ávalos teria ordenado a notificação da respectiva resolução ao Presidente Castillo e ao Procurador-Geral do Estado, Daniel Soria. Segundo a mídia local, Castillo já recebeu a notificação formal da procuradoria-geral.
Direita tenta tirar Castillo do poder
Desde que venceu as eleições, Pedro Castillo tem sido assediado pela oposição. No dia 7 de dezembro de 2021, o Congresso peruano rejeitou dar início a um processo de impeachment do mandatário, em procedimento que buscava declarar a “incapacidade moral” do presidente para exercer o cargo.
A tentativa de derrubar Castillo no Congresso foi apresentada no dia 25 de novembro pelos partidos de direita Avanza País, Fuerza Popular e Renovación Popular, que representam um terço do parlamento peruano.