
Após um dia de muitas especulações sobre sua saída, Luiz Henrique Mandetta afirmou, em uma coletiva de imprensa na noite desta segunda-feira (6), que seguirá no cargo, apesar das dificuldades. Em meio a uma queda de braços entre o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro, provocada pelas discordâncias em relações às medidas propostas para conter a expansão do coronavírus no país, a saída de Mandetta chegou a ser anunciada como fato.
“Procuramos ser a voz da Ciência. Abrimos o Ministério da Saúde para todos os outros Ministérios. Críticas são sempre bem-vindas, mas não estas, no sentido de dificultar o trabalho. O nome do nosso inimigo é Covid-19. Nós vamos continuar”, declarou. Sem citar nome de Bolsonaro, Mandetta afirmou que a reunião com o presidente e os demais ministros durante a tarde foi produtiva e que espera “ter paz para trabalhar”.
Boicotes
As desavenças entre os dois começaram logo após Mandetta acatar e defender, publicamente, as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de isolamento social como medida para controlar a pandemia.
Favorável ao isolamento apenas dos grupos de risco e da retorno à normalidade a fim de não agravar o rombo na economia do país, Bolsonaro encenou uma série de boicotes às falas do ministro nas últimas semanas.
No último dia 29 de março, o presidente percorreu diferentes regiões administrativas do Distrito Federal, aglomerando simpatizantes e aliados no trajeto, ato que gerou revolta em muitos políticos e na imprensa nacional e internacional. Bolsonaro ainda deixou claro que boicotaria as orientações de sua própria pasta ao concentrar as coletivas de imprensa diárias do Ministério no Palácio do Planalto, sob o comando do chefe da Casa Civil, General Braga Netto.
Na última quinta-feira (2), em entrevista à Rádio Jovem Pan, o presidente admitiu, pela primeira vez, rusgas com o ministro, chegando a afirmar que não o demitiria em meio à crise do coronavírus, mas que faltava “humildade” ao seu subordinado. No domingo (5), disse a apoiadores que “algumas pessoas” do seu governo “de repente viraram estrelas e falam pelos cotovelos”, e que não tem medo nem “pavor” de usar sua caneta contra eles.
Maia
Na sexta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) chegou a dizer que, apesar dos ataques, Bolsonaro não teria coragem de demitir o ministro e que a eventual saída de Mandetta traria prejuízos ao combate da doença. Hoje, Maia chegou a dizer que o presidente poderia ser responsabilizado por eventuais medidas que contrariem orientações da OMS.
Alcolumbre
Neste fim de semana, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), recusou o convite de Jair Bolsonaro para um café no Palácio da Alvorada, mas fez questão de transmitir ao presidente sua total contrariedade com mudanças na pasta em meio à pandemia da Covid-19.