
Pesquisa realizada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) revela que a pobreza infantil bateu recorde durante a gestão de Bolsonaro (PL).
O levantamento mostra que crianças de até seis anos que viviam em domicílios abaixo da linha da pobreza chegou a 44,7% em 2021. Trata-se do maior patamar para uma década. O levantamento congrega a partir de 2012.
Os pesquisadores apresentam uma alta de 8,6% ante 2020, ano em que o índice estava em 36,1%, o menor da série e causado por conta dos valores robustos pagos pelo Auxílio Emergencial na primeira onda da pandemia.
Com isso, o estudo revela que, em termos absolutos, o número de crianças de até seis anos em situação de pobreza passou de 6,4 milhões para 7,8 milhões, ou seja, uma alta de 22,6% na passagem de 2020 para 2021.
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Dessa maneira, mais de 1,4 milhão de crianças passaram a ser consideradas pobres. Para se ter uma ideia do tamanho desse flagelo social: esse contingente é similar a toda população de Porto Alegre (1,5 milhão).
A pesquisa ainda aponta que a extrema pobreza também atingiu números recordes e passou de 8% para 12,7%, ou seja, subiu de 1,4 milhão para 2,2 milhões, uma alta de 58%, o que equivale a 819,7 mil a mais.
O estudo aponta para dois fatores como causadores principais de tal tragédia: a redução de famílias atendidas pelo Auxílio Emergencial e perda de renda.
Fome e miséria
O agravamento da fome no país é resultado de uma política deliberada do governo Bolsonaro de desmonte das iniciativas contra a insegurança alimentar no país. Estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) mostrou que, atualmente, 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, quase o dobro do registrado em 2020.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo em janeiro deste ano, um dos criadores do Fome Zero e um dos principais pesquisadores em segurança alimentar no Brasil, Walter Belik, listou uma série de iniciativas criadas no governo Lula para livrar o país da fome que foram descontinuadas.
O Bolsa Família, por exemplo, foi desidratado: passou de um programa de transferência de renda com condicionalidades para um de doação. Com o Auxílio Brasil, a ideia de proteção e assistência social das famílias em situação vulnerável foi escanteada.
O Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) foi encolhido e os valores cortados em 35%. O programa de reforma agrária, a Secretaria de Agricultura Familiar, o programa de estoques de regulação da Conab e o programa de cisternas, todos foram descontinuados, afirma Belik.
O PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], que priorizava a compra de alimentos de agricultura familiar para doações ou alimentação escolar e chegou a comprar quase R$ 1 bilhão, garantindo renda para os pequenos produtores foi extinto.
“O programa de banco de alimentos virou o “Comida no Prato”, assistencialista e criado pelo governo para faturar em cima do trabalho feito há duas décadas pelos bancos de alimentos do Brasil, organizados pela sociedade civil, basicamente. O programa de restaurantes populares foi descontinuado, e hoje vivemos um congestionamento nos restaurantes populares de R$ 1, graças à perda de renda da população. O programa de cozinhas comunitárias acabou”, afirma o especialista.
Todos os programas de abastecimento, como modernização ou mesmo privatização das Ceasas, também acabaram. Elas se tornaram obsoletas, mas têm papel importantíssimo no abastecimento urbano.
Sobre a renda do brasileiro, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que a renda por domicílio é a menor desde 2012. No Norte e Nordeste é menor do que nas outras regiões.
Na segunda-feira (13), mais de mil economistas assinaram um manifesto em favor das pré-candidaturas de Lula e Alckmin. Dentre os pedidos no documento, os especialistas exigem a reativação de conselhos de políticas públicas, como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, o Consea, voltado para o combate à fome.
Os economistas também criticam no texto o abandono da política de valorização do salário mínimo iniciada na segunda metade da década de 1990. Conforme o documento, “o presidente da República irá entregar ao final do seu mandato um salário mínimo inferior, em termos reais, ao que recebeu no momento da sua posse”.
Com informações da Folha de S. Paulo