
Na Ucrânia, forças russas atacaram nas primeiras horas desta sexta-feira (4), o complexo onde fica localizada a usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior desse tipo em toda a Europa. O ataque provocou um incêndio no local.
O incêndio começou em um prédio de treinamento do lado de fora do complexo do reator principal, segundo o Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia.
Apesar dos rumores iniciais, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, na sigla traduzida para o português) divulgou que não foi registrado aumento de radioatividade no local onde a usina está instalada. Inicialmente, havia sido informado que os níveis de radiação no entorno da central nuclear estavam elevados.
No Instagram, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, publicou um vídeo que mostra o momento em que a unidade de Zaporizhzhia foi atingida por sinalizadores.
“Agora! Rússia incendeia central nuclear na Ucrânia”, escreveu Zelensky.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, escreveu no Twitter que os ataques contra a usina estão partindo de “todos os lados”.
“O fogo já começou. Se explodir, será dez vezes maior do que Chornobyl! Os russos devem cessar o fogo imediatamente”, escreveu Kuleba. Ele também pediu às tropas russas que liberem o acesso dos bombeiros à unidade nuclear e que se estabeleça uma “zona de segurança”.
Kuleba refere-se ao acidente de 1986 na usina nuclear de Chernobyl, quando a Ucrânia ainda fazia parte da União Soviética. Esse é considerado o pior desastre nuclear da história.
Em uma publicação no Facebook, Orlov considerou a ocorrência como “uma ameaça à segurança mundial”. “Eu exijo, pare! Pare imediatamente de bombardear a usina nuclear de Zaporizhzhya à queima-roupa”, disse o prefeito em uma mensagem de vídeo.
Logo após o início do fogo, o Ministério da Energia da Ucrânia afirmou que os bombeiros não estavam conseguindo começar os trabalhos de combate ao incêndio na usina. Segundo a pasta, os profissionais estavam sendo atingidos por tropas russas ao chegar ao local.
Mais cedo, autoridades ucranianas informaram que as tropas russas estavam intensificando os esforços para tomar a usina, localizada no sudeste da Ucrânia, e tinham entrado em Energodar com tanques.
A Rússia já havia conquistado a extinta usina de Chernobyl, a cerca de 100 quilômetros ao norte da capital da Ucrânia, Kiev.
Alerta sobre proximidade das tropas
Mais cedo, antes do ataque, o diretor-geral da a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), divulgou um comunicado alertando que as tropas russas estavam se aproximando da área da usina de Zaporizhzhia e alertou que qualquer combate perto da usina poderia ser desastroso.
A Ucrânia disse à AIEA que “um grande número de tanques e infantaria russos ‘atravessaram o posto de bloqueio’ para a cidade de Enerhodar, a poucos quilômetros da Usina Nuclear de Zaporizhzhia”, disse a agência, em comunicado.
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Após o início do incêndio, o diretor-geral da agência, Rafael Mariano Grossi, conversou com o primeiro-ministro da Ucrânia e o regulador nuclear do país sobre a ocorrência.
Pelo Twitter, a agência informou que está ciente dos bombardeios na planta e que está em contato com as autoridades ucranianas para obter mais detalhes sobre a situação. A Casa Branca também informou que está monitorando a ocorrência.
Preocupação é com o resfriamento do reator
Na Ucrânia, o maior temor é de que o calor gerado pelo fogo possa romper a estrutura de contenção do reator. A opinião é do especialista em armas nucleares Jeffrey Lewis.
Até agora, as condições de monitoramento de radiação, que foram atualizadas algumas horas depois do início do incêndio, parecem “normais”, de acordo com Lewis, diretor do Programa de Não Proliferação do Leste Asiático no Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação.
Ele explica que, perto da usina, há detectores de radiação “em todos os lugares”, que podem detectar qualquer pico de radiação. “Os reatores são grandes estruturas de concreto seladas. Eles não devem pegar fogo.”
James Acton, codiretor do Programa de Política Nuclear do Carnegie Endowment for International Peace, disse que a maior preocupação é saber se o incêndio interrompeu os sistemas de resfriamento do reator. Se eles não puderem se resfriar, o combustível interno pode superaquecer e derreter.
“Tenho certeza de que o reator foi desligado. Mas o combustível dentro dele ainda é radioativo e ainda precisa ser resfriado. Você deve manter o reator frio enquanto o combustível estiver dentro. O reator deve ser mantido continuamente frio”, acrescentou.
Se o resfriamento parar, um colapso pode acontecer em algumas horas ou dias, dependendo da radioatividade do reator, diz o especialista
Com informações da Reuters