
O ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidatos a presidente e vice, respectivamente, divulgaram nota conjunta de pesar sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.
Eles afirmaram que “a democracia e o Brasil não toleram nem podem mais conviver com a violência, o ódio e o desprezo pelos valores da civilização”.
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“O que se exige agora é uma rigorosa investigação do crime; que seus autores e mandantes sejam julgados”, acrescentaram em outro trecho da nota.
Veja a íntegra da nota:
“A confirmação dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips é uma notícia chocante, que nos causa dor e indignação. Nossa primeira palavra é de solidariedade aos familiares, amigos e amigas do indigenista e do jornalista.
Bruno e Dom dedicaram a vida a fazer o bem. Por isso percorreram o interior do Brasil, ajudando, protegendo e contando a vida, os valores e o sofrimento dos povos indígenas.
O mundo sabe que este crime está diretamente relacionado ao desmonte das políticas públicas de proteção aos povos indígenas. Está diretamente relacionado também ao incentivo à violência por parte do atual governo do país.
O que se exige agora é uma rigorosa investigação do crime; que seus autores e mandantes sejam julgados. A democracia e o Brasil não toleram nem podem mais conviver com a violência, o ódio e o desprezo pelos valores da civilização.
Bruno e Dom viverão em nossa memória e na esperança de um mundo melhor”.
Luiz Inácio Lula da Silva
Geraldo Alckmin
Conheça um pouco mais sobre Bruno e Dom:
Bruno Pereira
Considerado um dos indigenistas mais experientes do país, Bruno Araújo Pereira foi servidor de carreira da Fundação Nacional do Índio (Funai) e chegou a exercer o cargo de coordenador regional da entidade em Atalaia do Norte, justamente a área onde foi assassinado.
No ano de 2016, o servidor deixou o cargo após um conflito entre povos isolados da região.
Em 2018, o indigenista foi nomeado coordenador-geral dos Índios Isolados e de Recém Contatados da Funai. À frente desta posição, coordenou a maior expedição para contato com índios isolados dos últimos 20 anos.
Foi justamente em 2018 que o indigenista conheceu Dom Phillips, quando os dois fizeram esta expedição, no Vale do Javari. A convite da Associação União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), eles embarcaram em uma viagem de 17 dias que tinha, como objetivo, localizar indígenas da etnia Korubo.
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Apesar do seu trabalho ser reconhecido e de extrema importância, Bruno foi exonerado do cargo em outubro de 2019, após pressão de setores ruralista ligados ao governo Bolsonaro.
Mesmo afastado da Funai, ele atuava em um projeto voltado para melhorar a vigilância em territórios indígenas contra narcotraficantes, garimpeiros e madeireiros que atuam no Vale do Javari.
No final de 2021, Bruno concedeu uma entrevista à WWF-Brasil e afirmou que a situação na região era dramática. “Trabalho há 11 anos [na região do Atalaia do Norte] e nunca vi uma situação tão difícil. Os indígenas dizem que hoje a quantidade de invasões é comparável à do período anterior à demarcação. Por isso, é absolutamente necessário que os indígenas busquem as suas formas de organização, montando um esquema de monitoramento capaz de frear os conflitos violentos”, disse.
O indigenista, atualmente, fazia parte do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).
Dom Phillips
O jornalista Dom Phillips nasceu em Merseyside, no Reino Unido, e atuava no Brasil desde 2007. Atualmente, ele estava sediado em Salvador, na Bahia.
No Brasil, produziu matérias para The Guardian, Financial Times, New York Times, The Intercept, The Obsrver, The Independent, The Daily Beast.
Entre os anos de 2014 e 2016 fez coberturas sobre o Brasil para o Washington Post. Atualmente, Dom Philips colaborava de maneira recorrente para The Guardian.
O jornalista estava trabalhando na realização de um livro sobre o meio ambiente, que contava com o apoio da Fundação Alicia Patterson.
Nos últimos anos, Dom ia constantemente à região amazônica para relatar a crise no meio ambiente brasileiro, bem como o assassinato de líderes indígenas.
Não é de hoje que sua militância incomodava os poderosos. Em 2019, Dom participou de uma coletiva de imprensa e questionou Jair Bolsonaro sobre o desmatamento na Amazônia e a relação de Ricardo Salles, então ministro do Meio do Ambiente, com madeireiros.
De maneira agressiva, Bolsonaro atacou o jornalista e afirmou que nenhum país do mundo pode falar sobre a Amazônia. “Primeiro você tem que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês. A primeira resposta é essa daí, tá certo? […] se o que vocês falam sobre o desmatamento na Amazônia fosse, verdade, não existiria mais nada. Nenhum país do mundo tem moral para falar da Amazônia”, disse.