
Se Lula ganhar no primeiro turno com uma margem de votos que não permita dúvidas, ótimo.
As últimas pesquisas revelam que isso é possível. Embora seja impossível precisar a margem, o que a meu ver tem muita importância. Se a vitória se der por 55%, ou mais de votos, tornará muito mais difícil qualquer contestação.
E, nesse caso, as preocupações da esquerda deverão voltar-se para a defesa do respeito às urnas e para o apoio ao futuro governo disputando democraticamente um maior ou menor avanço econômico e social do mesmo.
Imagino que um governo Lula-Alckmin vá convidar seus concorrentes democráticos (Ciro Gomes, Simone Tebet e outros) para um diálogo e eventual participação no governo.
Contudo, por mais amplo que seja, por mais isolado política e institucionalmente que venha a estar Bolsonaro, o novo governo vai enfrentar uma situação nunca vista na história recente do Brasil: uma ultradireita política, social e ideologicamente , organizada.
Politicamente o presidente e seus asseclas fizeram do PL o seu partido. Mas esse é o menor dos riscos. Lula e Alckmin no governo saberão lidar e neutralizar esses partidos que apoiam hoje Bolsonaro.
O que preocupa é a base social da ultra direita . As frações raivosas da classe média, os mais de 600.000 “caçadores e colecionadores” de armas, as maiorias das policias militares, as empresas de segurança privadas, a grande parte dos donos de empresas de de “fitness” e, principalmente, os milhões de evangélicos pentecostais facilmente levados à ‘fanatização’. Essa grande minoria mobilizada e mobilizável em torno de conceitos ideológicos equivocados que foi enormemente fortalecida nos últimos quatro anos.
Essa minoria é insensível à realidade do fatos como a inépcia e crueldade na saúde publica com a Covid, corrupção em larga escala e institucional com o Centrão, corrupção miúda das rachadinhas, destruição do verde da nossa bandeira com o desmatamento da Amazônia e desastrosa política econômica que fez crescer o desemprego e reeditou a carestia e a inflação para os mais pobres.
Essa numerosa minoria apega-se aos preconceitos mais simplórios da homofobia, do racismo, da “defesa da família e da propriedade”, associados a ideias religiosas castradoras e repressoras.
Mas essa minoria , significativa insisto, considera-se antissistema.E acredita em Bolsonaro quando ele se insurge contra alguns dos símbolos da ordem constituída como a grande imprensa, os tribunais superiores e o governos estaduais. Quando ele se arvora a subversivo , a porta-voz da nova política.
O que eu quero, finalmente, dizer é que na hipótese de uma vitória eleitoral nosso governo poderá ter uma oposição subversiva. Disposta a ameaçar as instituições com uma (contra) revolução de direita.
E não vai bastar à esquerda a defesa das instituições , mas sim provar que a democracia é o melhor terreno para avançar socialmente. Lula vai ter, com todo nosso apoio, que demonstrar que falou a serio quando disse que promoveria a “maior revolução pacifica que esse país já viu”.