
Registrados ao vivo pela imprensa e por usuários das redes sociais, o ataque e a invasão ao Congresso dos Estados Unidos nesta quarta-feira (6) rapidamente ganharam repercussão global e foram duramente criticados por lideranças de diversos países ao redor do mundo e até mesmo dentro dos EUA.
Diante do caos gerado pela tentativa desesperada de Donald Trump de barrar o processo de sucessão no comando da maior potência do mundo, representantes dos governos europeus, como Portugal, Alemanha e França, mostraram-se confiantes na posse do presidente eleito, o democrata Joe Biden.
Ex-aliado do presidente americano, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, classificou o episódio como vergonhoso. “Cenas vergonhosas no Congresso dos EUA. Os Estados Unidos representam a democracia em todo o mundo e agora é vital que haja uma transferência de poder pacífica e ordeira”, afirmou.
O governo de Emmanuel Macron pediu respeito à vontade do povo. “A violência contra as instituições norte-americanas são um grave ataque à democracia. A vontade e o voto do povo americano devem ser respeitados”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros gaulês Jean-Yves Le Drian, representando o governo francês.
Preocupação generalizada
Na Espanha, Pedro Sánchez se disse “preocupado”. “Confio na força da democracia norte-americana. A nova presidência de Joe Biden vai superar este tempo de tensão, unindo o povo americano”, afirmou o primeiro-ministro espanhol.
O sentimento foi compartilhado pelo primeiro-ministro português. “São imagens inquietantes. O resultado das eleições deve ser respeitado, com uma transição pacífica e ordeira do poder. Confio na solidez das instituições democráticas dos EUA”, escreveu António Costa nas redes sociais.
O comissário da União Europeia para a Economia, Paolo Gentiloni, postou no Twitter uma foto dos apoiadores de Trump nos corredores do Capitólio e comentou: “Vergonha”.
Mais cedo, o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, exortou os seguidores do presidente Trump, a “deixarem de pisotear a democracia” depois que eles invadiram o Congresso americano, em Washington.
“Trump e seus seguidores deveriam finalmente aceitar a decisão dos eleitores americanos e deixar de pisotear a democracia”, tuitou, acrescentando que “as palavras incendiárias viram ações violentas”. Em outra mensagem, ele observou que se tratam de “imagens que não gostaríamos de ter visto”.
‘Choque’
Para o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, a invasão registrada nesta quarta proporcionou “cenas chocantes”. “Cenas chocantes em Washington. O resultado dessa eleição democrática deve ser respeitado”, escreveu no Twitter o chefe da aliança militar atlântica.
O presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, por sua vez, lamentou as “cenas profundamente perturbadoras no Capitólio”. “Os votos dos cidadãos devem ser respeitados. Confiamos que os Estados Unidos garantirão a proteção das regras da democracia”, disse o líder do legislativo europeu em um tuíte.
‘Respeito ao resultado das eleições’
O Alto Representante (chefe da diplomacia) da UE, Josep Borrell, também denunciou o que chamou de ‘um ataque sem precedentes à democracia nos Estados Unidos’. Ele pediu respeito ao resultado das eleições de novembro.
“Aos olhos do mundo, a democracia americana parece estar sob assédio. É um ataque sem precedentes à democracia dos Estados Unidos, suas instituições e o império da lei. Isto não são os Estados Unidos. Os resultados das eleições de 3 de novembro devem ser plenamente respeitados”, afirmou Borrell no Twitter.
Já o premiê do Canadá, Justin Trudeau, alegou certeza que a violência dos fatos não alterará o resultado das eleições. “Os canadenses estão profundamente perturbados e tristes com o ataque à democracia nos Estados Unidos, nosso aliado mais próximo e vizinho. A violência nunca conseguirá anular a vontade do povo. A democracia nos Estados Unidos deve ser mantida – e será”.
Na Venezuela, o governo de Nicolás Maduro divulgou um documento em que também expressa “preocupação com os atos de violência” nos EUA. “A Venezuela condena a polarização política e o espiral de violência que só reflete a profunda crise que o sistema político e social dos Estados Unidos atravessa atualmente”, escreveu o governo.
“Com esse lamentável episódio, os Estados Unidos padecem do mesmo que têm gerado em outros países com suas políticas de agressão. A Venezuela aspira que, em breve, cessem os atos de violência, e o povo estadunidense possa finalmente abrir um novo caminho para a estabilidade e a justiça social”, completa o documento.
Repercussão nos EUA
Internamente, o ataque à ordem também repercutiu negativamente. Em um comunicado, o ex-presidente norte-americano Barack Obama chamou os atos da quarta-feira (6) de “uma desonra e vergonha para o país”.
“A história vai lembrar corretamente a violência de hoje no Capitólio, incentivada por um presidente em exercício que segue mentindo sem embasamento sobre o resultado de uma eleição dentro da lei, em um momento de grande desonra e vergonha para o nosso país. Mas estaríamos de brincadeira se fingíssemos total surpresa”, escreveu o antecessor de Trump.
“Essa narrativa fantasiosa tem ido cada vez mais longe da realidade, e cresce sobre anos de ressentimentos semeados. Agora vemos as consequências, em uma crescente violência.”
Obama termina seu texto conclamando líderes Republicanos a tomarem uma atitude em relação ao comportamento de Trump.
O também ex-presidente George W. Bush criticou alguns de seus correligionários republicanos por alimentar a “insurreição” no Capitólio, comparando a situação a de uma “república das bananas”. Sem citar nomes, Bush repreendeu que ele chamou de “comportamento imprudente de alguns líderes políticos” desde o resultado da eleição presidencial, em novembro.
“Estou chocado com a falta de respeito demonstrado hoje por nossas instituições, nossas tradições e nossa aplicação da lei.”, disse o ex-presidente em comunicado oficial. O republicano chamou o episódio de “insurreição” e alertou que acontecimentos como os de hoje podem causar danos ao futuro da nação americana.
É assim que se disputam os resultados eleitorais em uma república das bananas, não na nossa república democrática.”, disparou.
Enquanto isso, no Brasil…
Na contramão de outras autoridades brasileiras e líderes mundiais, unânimes em repudiar a invasão ao Congresso norte-americano, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) repetiu o discurso do presidente americano e disse que “teve muita denúncia de fraude” na eleição do país.
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A afirmação foi feita a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. Ao chegar à residência oficial após o expediente, Bolsonaro foi indagado por uma apoiadora se queria comentar as tensões na capital dos EUA.
“Eu acompanhei tudo aí. Você sabe que eu sou ligado ao Trump. Então você já sabe qual a minha resposta aqui”, respondeu o presidente. “Agora, muita denúncia de fraude, muita denúncia de fraude. Eu falei isso há um tempo e a imprensa falou ‘sem provas, o presidente Bolsonaro falou que teve, foi fraudada as eleições americanas [sic]’.”
Com informações do Portal Sapo.pt, Uol, Valor, Diário do Nordeste e Carta Capital
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