
Parlamentares do PSB viram no ataque protagonizado por apoiadores do presidente americano Donald Trump durante a tarde da quarta-feira (6) um ensaio do que poderá ocorrer no Brasil nas eleições de 2022, quando Jair Bolsonaro (sem partido), um de seus declarados aliados, deverá disputar a reeleição pelo cargo.
Insuflados por Trump e suas acusações de fraudes no pleito do qual saiu derrotado, ativistas ligados ao republicano invadiram o prédio do Capitólio, sede do Congresso dos EUA, e interromperam a cerimônia que certificaria a vitória de Joe Biden como novo presidente americano. Após tumulto e violência, a sessão que confirmou a conquista do democrata foi concluída.
Na manhã desta quinta-feira (7), Trump disse que “embora discorde totalmente do resultado das eleições”, que seu governo fará uma transição ordeira em 20 de janeiro”. O comunicado foi publicado no Twitter de seu diretor de redes sociais, Dan Scavino.
União para 2022
Para o líder do PSB na Câmara, deputado federal Alessandro Molon (RJ), o episódio deixou uma mensagem clara sobre a necessidade de proteção da ordem democrática. “Os Estados Unidos mostram mais uma vez que nem mesmo a democracia mais estável do mundo sobrevive impunemente ao populismo de direita! Por isso é tão importante nos unirmos: precisamos nos proteger e evitar o pior em 2022!”, declarou, antes de compartilhar uma post de Joe Biden.
Nele, o democrata afirma que o dia de ontem foi um “lembrete, doloroso de que a democracia é frágil” e que para preservá-la, “são necessárias pessoas de boa vontade, líderes com coragem para se levantar, que se dediquem não a perseguir o poder e os interesses pessoais a qualquer custo, mas ao bem comum”.
Referindo diretamente aos atos como um ‘ataque’, o presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, condenou o comportamento da horda trompista. “ATAQUE| O atentado à democracia capitaneado por Trump e seus apoiadores no Capitólio, em Washington, é típica de líderes de extrema direita que preferem o caos à aceitação da derrota nas eleições. Falta dignidade até pra perder!”.
Alerta ao Brasil
A senadora Leila Barros (PSB-DF) disse que as cenas protagonizadas por apoiadores de Trump deixam “um sinal claro à comunidade internacional, incluindo o Brasil”. “A invasão do Capitólio, no Estados Unidos, nesta quarta-feira, é um ato extremista dos que perderam e não respeitam a vontade da maioria. As cenas de violência que acompanhamos são uma ameaça à democracia e mandam um sinal de alerta à comunidade internacional, incluindo o Brasil”.
O mesmo pensamento foi compartilhado pela deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA). “Inimigos da #democracia nunca aceitam derrotas. O que acontece nos EUA nos servem de alerta para o futuro”, pontuou.
‘Como as democracias morrem’
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) viu riscos ainda mais graves para as democracias ainda em processo de consolidação. “Extremismo, seja de qual lado for, é um risco gigante para as democracias. Fazem as nações flertar perigosamente com os regimes autoritários. Surpreendentemente o exemplo de hoje veio dos EUA, a nação mais poderosa do mundo. Que sirva de lição para democracias jovens, como a nossa”, comentou.
O discurso foi seguido também pelo ex-líder do partido na Câmara, deputado Tadeu Alencar (PSB-PE). “A irresponsabilidade atrabiliária de Trump ameaça até um país como os Estados Unidos. Merece reprovação planetária e nos serve de lição para a defesa vigilante da nossa Democracia e contra o autoritarismo boçal que nos governa”, disse, em referência ao bolsonarismo.
Afinidades entre Trump e Bolsonaro
Já o deputado Bira do Pindaré (PSB-MA) recordou a estreita relação entre Trump e Bolsonaro. “Com toda arrogância típica da extrema direita, Trump não aceita o resultado das eleições americanas e insufla seguidores a uma onda autoritária e golpista. Não custa lembrar que que esse movimento tem um aliado fiel na presidência do Brasil. Todo cuidado é pouco”, sinalizou.
A afinidade entre os dois mandatários também foi lembrada pelo deputado Denis Bezerra (PSB-CE). “O responsável pelo caos no Capitólio tem nome: Donald Trump, principal inspiração de Jair Bolsonaro. Enquanto insanos autoritários ocuparem cadeiras de poder, a democracia correrá grande perigo”.
Concordância dos líderes da oposição
Lideranças de outros espectros políticos também compartilharam a percepção dos socialistas.
Pelas redes sociais, por exemplo, o atual governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), questionou qual seria a reação de aliados de Bolsonaro caso algo semelhante ocorresse no país.
“E se (ou quando) a invasão golpista, similar a dos Estados Unidos, ocorrer no Congresso Nacional, de que lado ficarão as Forças Armadas? A história brasileira justifica a pergunta. Espero que defendam a Constituição, e não fiquem do lado dos arruaceiros e milicianos”.
Riscos do fascismo
Segundo colocado na disputa pela prefeitura de São Paulo no pleito de 2020, Guilherme Boulos (PSOL) alertou para os riscos reais do fascismo. “A tentativa de golpe de Trump nos EUA é o último sinal pra quem ainda não havia entendido que é preciso barrar o fascismo. Lá e aqui”.
Um dos prováveis candidatos à Presidência em 2022, o ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, reiterou o mau exemplo deixado pelo americano e reforçou o pedido de afastamento do presidente brasileiro.
“Trump é um mau exemplo para o mundo e coloca não só os EUA em risco, mas todos os países democráticos. Temos que nos manter vigilantes. Bolsonaro é aprendiz e capacho de Trump. É hora do Congresso brasileiro colocar um freio em seus crimes e abrir o processo de impeachment”, escreveu no Twitter o vice-presidente nacional do PDT.
Caso repercutiu no STF
E as semelhanças entre os dois presidentes foram percebidas até mesmo por integrantes do Superior Tribunal Federal (STF), como o ministro Alexandre de Morais.
“Os EUA certamente saberão responsabilizar os grupos que atentaram gravemente contra sua história republicana. Milícias presencias ou digitais, discursos de ódio e agressões às Instituições corroem a Democracia e destroem a esperança em um futuro melhor e mais igualitário”, disse, sem no entanto mencionar diretamente o mandatário brasileiro, imerso em escândalos que o ligam a ataques à estrutura democrática.
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