
Lideranças evangélicas do PT estão preocupadas com a escalada da violência política também dentro das igrejas. Na última quarta (31), um fiel foi baleado dentro da igreja da Congregação Cristã do Brasil, em Goiânia, por discordar das falas do pastor que pregava o voto contra a esquerda.
Na avaliação da campanha de Lula, há ofensiva crescente de bolsonaristas sobre os evangélicos e, teme-se, cada vez mais agressiva. Petistas receberam vídeos de pastores confrontando fiéis que dizem não votar em Jair Bolsonaro (PL). “Temos que barrar essa violência política. Infelizmente, alguns líderes evangélicos, não são todos, estão levando o palanque para o púlpito da igreja”, diz a deputada Benedita da Silva (PT-RJ).
Bolsonarista atira dentro da igreja
O caso aconteceu em uma igreja da Congregação Cristã no Brasil (CCB), em Goiânia (GO). Um homem foi baleado por um policial militar de folga em meio a uma discussão política entre eles. Davi Augusto de Souza foi atingido na perna pelo cabo Vitor da Silva Lopes, que também frequenta o espaço. Davi passou por uma cirurgia e está internado em estado estável.
O irmão da vítima, Daniel Augusto de Souza, afirmou que a discussão começou após os três discordarem sobre orientações da igreja para as eleições deste ano contra candidatos de esquerda. Segundo ele, Vitor teria iniciado as agressões. Já o policial alegou legítima defesa, foi liberado na delegacia e segue nas funções.
No dia 24 de agosto, Daniel deu uma entrevista ao Diário de Goiás na qual relatava ser alvo de perseguição por não apoiar o presidente Jair Bolsonaro. Na ocasião, ele afirmou que aqueles que não pretendem votar em Bolsonaro são tratados como “endemoniados” e viram alvo de ofensas.
Dias antes, a Congregação publicou um informe orientando os fiéis a não votarem em candidatos ou partidos que contrariem os preceitos da igreja. De acordo com Daniel, isso teria aumentado a suposta perseguição em função de diferentes interpretações dos pastores em relação ao texto.
“Não devemos votar em candidatos ou partidos políticos cujo programa de governo seja contrário aos valores e princípios cristãos ou proponham a desconstrução das famílias no modelo instruído na palavra de Deus, isto é, casamento entre homem e mulher”, dizia trecho do informe, divulgado em 11 de agosto.
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Nas últimas semanas, a igreja, que se apresenta como apolítica, ampliou discursos sobre política nos cultos. Em alguns deles, divulgados em redes sociais, é possível ver pastores falando que os fiéis não devem votar “em partidos comunistas” e em partidos que usem a cor vermelha ao falar das eleições.
De acordo com a PM-GO, “assim que a Polícia Militar tomou conhecimento do caso, determinou a instauração de procedimento administrativo disciplinar para apurar as circunstancias do fato”.
“Informamos ainda, que o policial militar apresentou de forma espontânea na delegacia de polícia civil para os procedimentos cabíveis”, disse a PM, no texto.
Já a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) afirmou que “os fatos narrados por ambas as partes já estão sendo devidamente investigados”.
O governo de Goiás acrescentou, depois, que o servidor não foi afastado, e sim “transferido de unidade para que, no decorrer das investigações, esteja fora da área circunscricional da ocorrência”.
No boletim de ocorrência, não há menção da razão que teria motivado a discussão. O documento diz que o atirador efetuou o disparo para se desvencilhar da vítima após os dois entrarem em luta corporal. A versão da família da vítima não consta no boletim.
56% dizem que política e valores religiosos devem andar juntos
Tema abordado desde a largada da campanha presidencial deste ano, a questão dos valores tem grande peso para os brasileiros na hora de decidir seu voto.
Para 56% dos eleitores, religião e política têm de estar de mãos dadas em prol do país, e 60% consideram que é mais importante um candidato defender valores familiares do que ter boas propostas para a economia.
Por outro lado, 74% dizem que seu voto em outubro tem como objetivo aumentar a prosperidade pessoal. Foi o que aferiu o Datafolha em nova pesquisa, realizada de terça (30) a quinta-feira (1º).
Já 36% das pessoas não concordam com a ideia de que a economia está à frente dos valores, 19% dessas totalmente e 17%, em parte.
O discurso da defesa da família é central para Jair Bolsonaro (PL), que está atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa do primeiro turno: ele tem 32%, ante 45% do antecessor.
Desde o início da campanha, ambos têm lidado com a temática: o petista busca alcançar conservadores que lhe são refratários e viu o rival “possuído” pelo diabo, e o presidente acirrou o discurso de que o pleito é uma luta entre “bem e mal” —na qual o PT é o mal, claro, associado até ao demônio em fala de aliados e de sua mulher, Michelle.
No debate presidencial promovido pela Folha, UOL e TVs Cultura e Bandeirantes, o presidente voltou a falar que é o principal nome contrário a pontos sensíveis nesse campo, como o aborto. Lula vinha sendo mais ambíguo na pré-campanha, para dialogar com as fatias esquerdistas que compõem sua base.
Assim, o eleitor bolsonarista é mais identificado com a afirmação sobre a suposta dicotomia entre valores e economia: 71% concordam com ela. Mas 59% dos de Lula também o são, índice que cai com Simone Tebet (MDB, quarto lugar na disputa, com 5%) para 53% e com Ciro Gomes (PDT, terceiro, com 9%) para 41%.
Enquanto isso…
A primeira-dama Michelle Bolsonaro está apoiando uma campanha de 30 dias de jejum e orações pelo Brasil até a data do primeiro turno das eleições deste ano, marcado para 2 de outubro.
A postagem foi feita por Michelle em suas redes sociais nesta sexta-feira (2), partilhando uma postagem de pastores evangélicos que apoiam a reeleição de Jair Bolsonaro (PL).
O vídeo de campanha conta com a presença dos pastores Cláudio Duarte, JB Carvalho, Lucinho Barreto, João Queiroz, Ezenete Rodrigues, Junior Rostirola e Gerson Costa.
“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra”, postou a primeira-dama.
As pesquisas apontam que o presidente tem grande apoio dentro deste grupo religioso. Mas que anda sendo disputado pelo opositor petista, Luiz Inácio Lula da Silva.