
O jornal francês Le Figaro repercutiu a gravidade da crise sanitária do Brasil em uma matéria intitulada “Bolsonaro, capitaine sans boussole au cœur de la tempête” (“Bolsonaro, capitão sem bússola no coração da tempestade”). No texto, o periódico afirma que a “gestão calamitosa” de Jair Bolsonaro fez do país “o novo epicentro da pandemia” e que diante da vertiginosa disseminação do vírus, a nova equipe responsável pelo ministério da saúde “está tentando esconder o número de mortes” pela doença.
Na matéria, que ocupou meia página do jornal, o diário diz que o presidente que sempre minimizou o potencial da pandemia, usou todo o seu poder para impedir as medidas de distanciamento social impostas por prefeitos e governadores, fazendo com que os casos da doença chegassem 700 mil e mais de 36 mil mortes no país. Destacando que o Brasil está agora à frente da Itália em número de óbitos, o jornal também alerta que a taxa já equivale a uma morte por minuto e que pico da crise ainda está por vir.
Citando o comportamento polêmico do mandatário, o diário também aponta que o Brasil segue sem ministro da saúde e que, embora o “ex-capitão não acredite em ciência”, ele está convencido das virtudes da hidroxicloroquina. “No meio de uma pandemia, o posto [de ministro] é hoje ocupado, em caráter provisório, por um general. Diante da vertiginosa disseminação do vírus, a nova equipe está tentando esconder o número de mortes, “uma manobra de um regime totalitário”, denunciou um juiz da Suprema Corte.
Navio à deriva
De acordo com o Figaro, o Brasil é hoje como um navio à deriva, abandonado na tempestade por um presidente incapaz de traçar um curso. Porque, em vez de unir o país, Jair Bolsonaro optou por “politizar a morte”.
Apesar dos crescimento dos números de mortos, o francês também aponta que Jair Bolsonaro mantém uma base leal de 30% da população, independentemente do que ele faça ou diga.
E aponta que isso acontece mesmo quando o popular Ministro da Justiça, ex-juiz anticorrupção Sergio Moro, renunciou em protesto contra a interferência do presidente nas investigações que pesam contra seus filhos. “Ou quando o ex-paraquedista faz ameaças veladas de intervenção militar para fechar o Congresso e a Suprema Corte”.
O jornal também incluiu a análise do professor da UFRJ, Maurício Santono, na qual o docente afirma que “Bolsonaro tem uma estratégia política na qual ele precisa de inimigos. Se ele não tem um, ele o inventa. Assim, durante toda a pandemia, ele atacou a imprensa, o Congresso, a Suprema Corte. Todos, exceto o coronavírus, que parece ser um detalhe em sua visão do mundo”.