
Artistas, parlamentares, lideranças e ativistas de diferentes segmentos estiveram reunidos, virtualmente, na noite desta terça-feira (19) para defender o Brasil e declarar repúdio ao crescente autoritarismo no país.
Unidos na edição inaugural do ‘Janelas pela Democracia’, primeira iniciativa suprapartidária realizada no país, o ato foi marcado pela mostra de preocupação com o momento vivido pelo país diante da pandemia e por manifestações de apoio de artistas como Marco Nanini, Marcos Palmeira, Marcelo Serrado e Luisa Mell aos mais de 30 pedidos de impeachment já protocolados contra Jair Bolsonaro (sem partido).
Mil mortos
No dia em que o Brasil registrou 1.179 vidas perdidas para a Covid-19 em 24 horas, o presidente do PSB, Carlos Siqueira defendeu a mobilização das forças democráticas para atravessar o que chamou de um dos momentos mais difíceis da vida nacional. Para o socialista, os recorrentes ataques protagonizadas por Bolsonaro e seus apoiadores ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso criaram uma “instabilidade inaceitável no país”.
Para Siqueira, a forma como o governo tem tratado a crise sanitária, negando a ciência, desobedecendo as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS), atacando governadores, faz com que seja urgente “mobilizar homens e mulheres do país”. “É hora de juntar forças para escrever uma nova história dentro da democracia e dos direitos sociais”, declarou.
Na live, transmitida nas redes sociais do PSB, PDT, Rede, PV e Solidariedade, o ator Marcos Palmeiras afirmou que embora tenha torcido para que Jair Bolsonaro fizesse um bom governo, a pandemia do coronavírus deixou “muito claro quem está do lado de que” e mais clara ainda a “a distância do Governo Federal da realidade dos brasileiros”.
Cores do Brasil
Presidente do PDT, Carlos Lupi, defendeu a ressignificação das cores da bandeira do Brasil, atualmente usurpada por manifestantes bolsonaristas. “O verde amarelo é nosso, essa pátria é do povo brasileiro. Estamos indo nessa janela da democracia para pedir a mobilização pelo impeachment do profeta da ignorância que está de plantão no Palácio do Planalto”, ressaltou.
À frente do PV, José Luís Penna lamentou que “diante da dor e sofrimento trazido pela doença, o governo permaneça insensível com o problema e a todo o momento ameace a democracia”. Em crítica aos desmandos na área ambiental e indígena, Penna afirmou que Bolsonaro fundou o “império da ignorância” e que já “não é possível que tenhamos a menor condescendência com esses crimes sociais, ambientais”. “Acho que não temos mais tempo. Precisamos chamar todos para pedir o impeachment de Bolsonaro”, disse.
Recordando a liderança feminina no combate ao coronavírus, a deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) cobrou a necessidade do o governo funcionar para que vidas sejam salvas. “Até quando presidente da República vai continuar dizendo ‘E daí?’. ‘E daí’ dizemos nós e está na hora de você sair!”, argumentou.
Vaidade ímpar
Sem meias palavras, o ator Marco Nanini disse que não é possível admitir um governante que, diante da pandemia, age de “forma prepotente, atropelando orientações de profissionais da saúde, contra as orientações da saúde, movido por uma vaidade ímpar e por interesses obscuros”. “É um desrespeito aos profissionais da área de saúde e todos aqueles que estão empenhados em diminuir o tamanho da tragédia”, disse, em defesa do afastamento de Bolsonaro.
Senador da Rede-ES, Fabiano Contarato declarou ser “inadmissível” o comportamento do Bolsonaro quando este integra manifestações pelo o fechamento do Congresso e do STF, dissemina fake news, enaltece o AI-5, prestigia torturadores, minimiza a dor das famílias que perderam entes queridos. Para o parlamentar, são evidentes os crimes praticados pelo presidente. “Passou da hora do inquilino passageiro do Planalto deixar o cargo”, defendeu.
Crise do século
Líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues (AP) sublinhou que o Brasil vive a sua “mais grave crise sanitária em 100 anos”. Para o congressista a gravíssima crise econômica já amplia a legião de desempregados no país. “Junto a esse cenário, temos um presidente da República que já cometeu todos os crimes, contra o meio ambiente, contra a saúde do povo brasileiro. É inaceitável a permanência dele”, disse. “É urgente e necessário o impeachment e o fim desse governo criminoso”, assentiu.
Listando os crimes ambientais que se acumulam no Governo, a ativista Luisa Mell disse que Bolsonaro se mostrou-se irresponsável e incapaz de conduzir a nação diante do enorme desafio sanitário, econômico e social que o Brasil atravessa. Luisa afirmou ainda que por colocar em risco o país, a saída de Bolsonaro “é necessária e urgente” e apontou que “os que se calarem neste momento, serão julgados pela história como coautores dos crimes contra a humanidade”.
Descaso
O ator Marcelo Serrado criticou, principalmente, a postura negacionista diante das recomendações de médicos e mesmo da OMS. “O presidente tem se comportado de uma forma incompatível do que se espera de um chefe do Poder Executivo”, afirmou. “E se já não bastasse o descaso, deu todos os indícios de estar comentando crime de responsabilidade. Passou da hora desses pedidos entrarem em pauta na Câmara”, sugeriu.
Marina Silva relembrou da denúncia feita por Moro de interferência na PF e de que Bolsonaro mais atrapalha que ajuda neste momento de crise. “O presidente desorganiza estados e municípios, e como se não bastasse participa de atos que são contra a Constituição, como fechamento do Congresso e STF. E o presidente enfraquece o isolamento social, É preciso que a gente se mantenha mobilizados em defesa da democracia”, concluiu.
“Traidor da Pátria”
Representante do PDT, o senador Weverton Rocha (MA) apontou que este é “o momento de ter consciência de que apenas a união dos brasileiros e das pessoas com responsabilidade é que o Brasil será capaz de superar a gravíssima crise que atravessa”. E recordando o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, declarou “Traidor da Constituição é traidor da pátria”.
A ex-senadora Heloisa Helena (Rede) pediu que parlamentares acompanhem com “lupa” os indícios de crimes do presidente e deplorou a insensibilidade do mandatário diante do cenário de mortes que se acumulam no país. “Até neste momento, de imensa dor, da complexidade da covid, os cínicos, frios e dissimulados são incapazes de dar uma palavra de conforto às famílias que perderam seus entes sufocados numa enfermaria superlotada, nos corredores de hospitais e nos leitos de UTI, quando encontraram um leito”, indignou-se.