
Os dados sobre a inflação no Brasil em 2021 mostram que a população de baixa renda perdeu poder de compra. Itens essenciais como alimentos, gás de cozinha e energia elétrica estão com preços nas alturas reforçando o fato de que a inflação sempre pesa mais sobre os mais pobres e tira recursos do consumo.
Uma pesquisa feita pela Tendências Consultoria prevê que a renda disponível, o dinheiro que sobra após as despesas básicas, encolheu entre os que ganham menos. Segundo o estudo, para as classes D e E a queda este ano será de 17,7%, contra uma alta de 3% na classe A. Isso significa menos dinheiro no bolso, às vésperas das eleições.
O relatório da Tendências considera gastos essenciais as despesas com habitação, transporte, saúde e cuidados pessoais, comunicação, educação e alimentação.
O presidente Nacional do PSB, Carlos Siqueira, já vem alertando sobre a gravidade do assunto. No mês passado, ele tuitou chamando atenção para a condução da atual política econômica brasileira . “Não é fazendo mais do mesmo que vamos mudar esta situação”, publicou.
Segundo o economista da consultoria, Lucas Assis, a renda dos mais pobres vai toda para o consumo o que agrava ainda mais o cenário, visto que retomada do mercado de trabalho está muito gradual.
Nas classes D e E, estão concentradas 54,7% das famílias, cuja renda é de até R$ 2.700.
No acumulado em 12 meses, há casos de aumentos dez vezes maiores do que a inflação oficial, que foi de 8,06% no período. O preço do óleo de soja subiu mais de 86%. Arroz, feijão-preto e açúcar cristal aumentaram 51,83%, 31,26% e 23,86%, respectivamente.
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Inflação maior para os pobres
O aumento dos preços de itens básicos e a dificuldade de voltar ao mercado de trabalho aumentam a demanda por programas sociais, no momento em que o governo corre para tirar do papel um Bolsa Família turbinado.
Na avaliação do diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), José Ronaldo Souza Júnior, a tendência é que a diferença entre a inflação de mais pobres e mais ricos se atenue nos próximos meses. A estimativa do Ipea mostra que a inflação entre os que têm renda familiar abaixo de R$ 1.650 foi de 9% entre março de 2020 e maio deste ano. Entre aqueles com renda acima de R$ 16.509,66, o índice cai a 5,2%.
Futuro nada promissor
Concordando com as previsões do Ipea, o professor de Economia da PUC-Rio, Luiz Roberto Cunha, diz que dificilmente a inflação deste ano ficará menor do que 6%. Ele prevê que as commodities continuem em alta por causa da recuperação de economias como a chinesa e a americana. E, por causa da crise hídrica, a conta de luz também terá aumento.
Para Patrícia Costa, supervisora de pesquisa de preço do Dieese, as tarifas de transporte público tambpem devem subir com a alta de 39,3% no diesel nos 12 meses terminados em maio. “É possível que impacte os reajustes sim e, de novo, penalizando as famílias mais pobres”, afirmou.
Inflação em alta nos próximos dois meses
No Ministério da Economia, as projeções apontam para inflação em alta nos próximos dois meses, recuando depois até atingir 5,1% no fim do ano, dentro do teto da meta fixada pelo Banco Central.
“É o compromisso fiscal que ancora o processo inflacionário. Não tenho dúvidas de que, apesar de termos um aumento transitório, no fim do ano vamos convergir para a meta”, diz o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida.
Comida e aluguel continuarão mais caros
O preço dos alimentos vai continuar subindo em 2022, apesar de projeções menores para a inflação. Os juros estarão mais altos e deve haver recomposição dos valores dos aluguéis, que foram renegociados para baixo ou não tiveram reajuste, ressalta a consultora econômica Zeina Latif.
Já com relação à inflação deste ano, ela estima que fique em 6,3%, bem acima dos 5,25% estabelecidos pelo BC:
Pela projeções do mercado, o Brasil não atingirá a meta de inflação esperada para 2021.
Com informações de O Globo