
Indignação, decepção e ironias. Essas foram as reações de delegações estrangeiras ao discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (21). Representantes de seis países diferentes consultados pela coluna de Jamil Chade no Uol foram unânimes em alertar que, diante do descrédito completo do brasileiro no cenário internacional, o presidente “afundou” o país num isolamento ainda maior.
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Existia uma esperança por parte de algumas delegações de que houvesse uma mudança de tom adotada pelo Brasil, diante da fragilidade internacional de Bolsonaro.
Mas, para a surpresa de muitos, o que se viu foi um discurso ainda mais radical e repleto de desinformação. “Fakenews speech (discurso)”, escreveu um negociador alemão, assim que terminou sua fala. “Vergonhoso”, disse outro representante europeu.
“O Brasil transformou a tribuna mais sagrada da diplomacia em um disseminador de mentiras e vergonhas”, acusou outro delegado.
Indignados ainda ficaram representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS), quando Bolsonaro falou sobre tratamento precoce contra a covid-19 sem qualquer tipo de comprovação científica. “O negacionismo na abertura de uma Assembleia Geral é um dos pontos inesquecíveis dessa pandemia”, ironizou um dos funcionários da agência.
Mesmo dentro do Itamaraty, à medida que o discurso era lido, embaixadores experientes e diplomatas não conseguiam esconder a revolta. “Vergonha alheia”, escreveu por mensagem à coluna um deles.
Para delegações estrangeiras, a desconfiança internacional será ainda maior em relação ao Brasil depois da fala. “Como é que o governo quer que os demais parceiros o levem à sério”, questionou um governo europeu. Na avaliação de membros do bloco, as mentiras contadas pelos governos ao longo de mais de dois anos de governo Bolsonaro pareciam que não conseguiriam mais ser superadas. Até que chegou a vez do presidente subir ao púlpito da ONU nesta terça-feira.
Para um delegado de um país vizinho do Brasil na região, o tom do presidente foi revelador de um líder que está isolado no mundo e opta por ampliar essa marginalização.
Indígenas e Clima
Mas foram as supostas garantias de que o Brasil protege seus indígenas e sua floresta que criou uma reação mais indignada.
Para diplomatas estrangeiros, as palavras não apenas caíram num vazio, mas ampliaram o descrédito do presidente. “O Brasil apenas será levado à sério quando provar cada passo que der”, disse um deles. Isso significa, segundo eles, mostrar a redução do desmatamento a cada mês, o compromisso com indígenas e ativistas de direitos humanos e o respeito pela democracia.
“Todas as informações que temos vão no sentido contrário da fala do presidente”, afirmou outro delegado, apontando para o desmonte da FUNAI e de instituições de controle da floresta.
A garantia de democracia também se contrasta com os alertas emitidos pela ONU, que apontou na semana passada estar preocupada com a crise entre os poderes e que fez um apelo para que o estado de direito fosse preservado.
Imprensa mal deu atenção ao discurso negacionista de Bolsonaro
Jornais como estadunidense The New York Times resumiu em uma pequena nota e o título: “momentos embaraçosos”, a fala do presidente brasileiro: “O presidente Jair Bolsonaro do Brasil, que repetidamente minimizou a pandemia e ele próprio não foi vacinado, defendeu o uso de drogas não comprovadas para a Covid em discurso na terça-feira na Assembleia Geral da ONU”, reportou.
O Washington Post ressaltou que o presidente brasileiro, sem estar vacinado, quebrou o sistema de honra das Nações Unidas.
A rede de notícias Al Jazeera seguiu na mesma linha e cravou na chamada: “Primeiro líder mundial a falar, Bolsonaro não vacinado”. O canal destacou que Bolsonaro se irritou com as medidas de restrição em Nova York e na ONU.
A rede também chamou a atenção para o fato do presidente brasileiro ter defendido em seu discurso o uso de medicamentos não comprovados contra o coronavírus.
A All Jazeera ainda disse que Bolsonaro responsabilizou a quarentena pelo aumento da inflação e sustentou que não há corrupção em seu Governo, “investigado por tentativa de compra fraudulenta de vacinas”.
Nada muito mais o que isso. Bolsonaro foi solenemente ignorado pela imensa maioria dos jornais do planeta.
Com informações da Fórum e do Uol