
O governo do presidente equatoriano Guilhermo Lasso enfrenta grandes desafios. O movimento indígena do Equador convocou mobilizações para a meia-noite da segunda-feira (25) contra as medidas econômicas do governo, em um desafio ao estado de exceção em vigor para combater o narcotráfico em um país convulsionado pela violência do crime organizado.
“Nossas estruturas de base, a partir da zero hora [de terça-feira (26), 02h00 no horário de Brasília] estarão em diferentes pontos a nível nacional”, declarou aos jornalistas Leonidas Iza, presidente da Confederação de Povos Indígenas do Equador (Conaie, na sigla em espanhol), que assumiu oposição ao governo.
Os povos originários, protagonistas da política equatoriana nos últimos 30 anos com suas marchas, que inclusive influenciaram a queda de três presidentes entre 1997 e 2005, ocuparão as estradas próximas de suas comunidades e se juntarão aos protestos de sindicatos e estudantes em Quito.
As manifestações acontecerão em meio ao estado de exceção decretado por 60 dias pelo presidente Guillermo Lasso há uma semana, com justificativa de combater a violência vinculada ao narcotráfico, ordenando a presença de militares nas ruas para apoiar as forças policiais em operações de controle e busca e apreensão.
Por sua vez, o governo Lasso, que não restringiu liberdades como a de manifestação e reunião, já advertiu que não permitirá excessos nos protestos.
O presidente, que tomou posse em maio, elevou em 12%, na última sexta-feira (22), o preço dos combustíveis, o que fez com que a gasolina corrente passasse de 2,50 a 2,55 dólares, e o diesel de 1,69 para 1,90 dólares, e ampliando o descontentamento entre trabalhadores, estudantes e indígenas.
Confrontos
Previstos para serem os maiores desde que Lasso assumiu a Presidência do Equador em maio, os protestos acontecerão sob o estado de exceção de 60 dias decretado na semana passada, que determinou a presença de militares nas ruas para apoiar a polícia no combate à criminalidade.
Apesar da presença de soldados nas ruas, o velocista olímpico Álex Quiñónez foi assassinato a tiros na última sexta-feira (22). A polícia investiga se o crime está relacionado com a guerra pelo poder entre grupos de narcotraficantes.
O Executivo não suspendeu as liberdades de manifestação, nem de reunião, apesar de ter a possibilidade de tomar tal decisão com base na situação de emergência declarada em todo Equador.
Localizado entre Colômbia e Peru, o país é um dos maiores produtores mundiais de cocaína.
“O problema é quando não se escuta. Logicamente, o governo mobiliza policiais, militares. Aí acontecem os confrontos”, advertiu Iza, que deseja fixar e congelar os preços em US$ 1,50 para o diesel, e US$ 2, para a gasolina comum.
Na sexta-feira, Lasso congelou os novos preços e encerrou os aumentos mensais, mas não conseguiu reduzir a insatisfação de setores da oposição que consideram suas políticas econômicas de tom neoliberal.
Se Lasso “recuar para uma posição de neoliberalismo clássico, a consequência será, infelizmente, uma nova explosão social”, disse à AFP a cientista política Karen Garzón Sherdek, da Universidade Sek.
Lasso congela preço de combustíveis
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, anunciou nesta sexta-feira o congelamento do preço dos combustíveis e que aplicará “sem exceções” os preços oficiais da cesta básica no país, após um impasse com os movimentos sociais sobre as suas reformas tributária e trabalhista.
“Estão suspensos os aumentos mensais dos preços dos combustíveis, e o preço da gasolina extra está fixado em US$ 2,55 e o preço do diesel para o transporte público, comunitário, escolar, de turismo, carga pesada, misto e geral está fixado em US$ 1,90”, anunciou o presidente.
Os movimentos sociais tinham convocado uma manifestação para a próxima terça-feira para exigir estas medidas, após meses ao longo dos quais os preços dos combustíveis subiram mais de 40% em virtude de um sistema de faixas de preços estabelecido pelo ex-presidente Lenín Moreno, o que tinha mitigado a perda de receitas estatais provenientes dos subsídios históricos do país.
Lasso argumentou que a sua decisão se baseava na necessidade de “trazer estabilidade aos bolsos dos equatorianos”.
“Ouvimos vocês, cidadãos, e também os setores sociais e políticos para gerar acordos que nos levem a um ambiente estável no qual possamos crescer e gerar emprego”, disse o presidente em pronunciamento público nesta sexta-feira.
Questão sensível
Os preços dos combustíveis são uma das questões mais sensíveis na sociedade equatoriana e uma tentativa de Moreno, em 2019, de eliminar subsídios levou a uma onda de protestos nos quais pelo menos seis pessoas morreram e mais de 1.500 ficaram feridas.
Moreno recuou para acalmar o país, mas, meses depois, com o preço do petróleo baixo devido à covid-19, criou um sistema de flutuação que de certa forma teve um efeito semelhante.
O preço no Equador estava sujeito ao mercado internacional e o aumento dos preços do petróleo em 2021 fez subir o custo de todo o combustível.
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Em relação às exigências de controle do aumento do preço dos produtos básicos feitas pelo movimento indígena, Lasso assegurou que ordenou “às autoridades do Governo Nacional que protejam a economia familiar”.
“Dei instruções aos governadores e prefeitos para aplicarem, sem exceções de qualquer tipo, os preços oficiais de arroz, leite, frutas e todos os produtos da cesta básica”, acrescentou.
Receio de crise
O anúncio vem após várias semanas de cabo de guerra com a liderança do movimento indígena CONAIE, cujo presidente, Leonidas Iza, havia convocado grandes protestos para a semana que vem.
Lasso disse hoje que “este governo não sente que é dono da verdade”. Pelo contrário, “sabe que a criação de oportunidades não é apenas a tarefa do governo, mas de todos”, comentou.
E apesar das suas últimas falas, nas quais avisou aos apoiadores que não permitiria motins como os que abalaram Quito há dois anos, o presidente adotou nesta sexta-feira um tom menos conflituoso e mais conciliatório em uma aparente tentativa de aliviar a pressão.
Com informações da EFE e AFP