
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, disse em entrevista ao Estadão neste sábado (6) que o Brasil não aguenta três impeachments. “Acho que o impeachment seria desastroso.” Desde a redemocratização do País, dois ex-presidentes foram afastados: Fernando Collor, em 1992, e Dilma Roussef, em 2016.
Fux acredita que no cenário pós-pandemia, o Brasil vai precisar atrair investidores e “consolidar a nossa democracia, eu acho que seria um desastre para o País.”
Apesar das condições em que o governo de Jair Bolsonaro empurrou o País, principalmente pelo desastre na gestão da pandemia da Covid-19, o presidente do STF lembra que sua eleição foi um ato democrático com 60 milhões de votos. “O Brasil tem de ouvir o povo e o povo é ouvido através de seus representantes que estão no Parlamento.
Ainda sobre as eleições, Fux acha o voto impresso “uma coisa muito antiquada”, e avalia as urnas como “superseguras”. Jair Bolsonaro declarou confiar mais na versão impressa das eleições e chegou a questionar a própria vitória em 2018. “A palavra do Supremo está dada (contra o voto impresso). Uma despesa bilionária, depois da decisão do Supremo, é inaceitável. Não tem sentido.”, encerra.
Lira na Câmara
O presidente do STF diz que ter um réu na linha sucessória da Presidência da República “não é o melhor quadro para o Brasil”. O novo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) responde a denúncias na Corte por corrupção passiva e organização criminosa.
“Eu acho que realmente uma pessoa denunciada assumir a Presidência da República, seja ela qual for, é algo que até no plano internacional não é o melhor quadro para o Brasil”, afirmou o ministro.
Lira responde por suspeitas de corrupção passiva e ativa. Recentemente, foi alvo de uma denúncia pela Procuradoria Geral da República (PGR) por um crime familiar aos filhos de Bolsonaro, o das ‘rachadinhas’, quando ainda era deputado estadual em Alagoas, entre 2001 e 2007.
Pandemia
O Supremo Tribunal Federal virou alvo de bolsonaristas que acreditam que a instituição quer governar o país. Bolsonaro reforça essa visão com constantes declarações acusando o STF de impedi-lo de tomar decisões, como por exemplo, na gestão da pandemia da Covid-19. Por três vezes, o governo recusou ofertas da vacina Coronavac.
Fux explica que o “STF disse foi o seguinte: todas as Unidades da Federação têm responsabilidade em relação à pandemia. É uma gestão compartilhada, mas tem um aspecto maior, porque a Constituição atribui à União uma competência de coordenação nos casos de calamidade pública. O STF nunca eximiu o governo federal, absolutamente. Ninguém exonerou ninguém de responsabilidade.”, avalia Fux.
Sobre a condução da crise sanitária em Manaus (AM) pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuelo, Fux pondera que outros países também sofreram com a falta de oxigênio e que é necessário cautela. “É preciso deixar bem claro que o Supremo absolve inocentes e condena culpados. Não se tem ainda elemento para se formar uma convicção. O que houve, no meu modo de ver, foi o fator-surpresa, porque alguns países também foram surpreendidos com falta de oxigênio.”, conclui.
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