
Por Lucas Vasques e Henrique Rodrigues
Depois da pressão dos patrocinadores e da torcida, a diretoria do time de vôlei do Minas Tênis Clube (MTC) decidiu, na terça (26), afastar o jogador Maurício Souza. O atleta, apoiador de Jair Bolsonaro, fez postagem homofóbica nas redes sociais. O atleta teria a opção de se retratar publicamente para seguir no clube mineiro.
Contudo, a decisão não é definitiva. Apesar de patrocinadores e torcedores estarem contra o jogador, o restante do elenco defende Maurício, O líbero Maique, que é gay, desmentiu que tivesse assinado documento de apoio ao bolsonarista.
“Calma gente. Eu não assinei nada! E isso não me inclui. E continuo lutando pelos meus direitos e de nossa comunidade e de todo e qualquer tipo de preconceito. Isso que estão espalhando de eu apoiar algo é fake”, postou Maique.
“E claro tem coisas que não compactuo e não aceito. E isso quem deve resolver é clube e não diz respeito a mim! E já deixei claro minha posição sobre. Agora eles que se entendam”, acrescentou.
Antes disso, as empresas que patrocinam o Fiat/Gerdau/Minas foram às redes sociais para cobrar um posicionamento mais contundente da direção da equipe, em relação a Maurício.
A Fiat Automóveis publicou: “Estamos atentos aos últimos acontecimentos envolvendo o time de vôlei Fiat Minas Gerdau e o jogador Maurício Souza e, portanto, cobrando as medidas cabíveis, de acordo com o nosso posicionamento inegociável diante do respeito à diversidade e à inclusão”.
Junto ao texto uma mensagem repudiando às declarações “inaceitáveis” de Maurício, que também atua pela seleção brasileira.
A Gerdau repetiu o gesto “Estamos acompanhando atentamente as declarações do atleta Maurício Souza, jogador do time de vôlei masculino do Fiat/Gerdau/Minas. Repudiamos qualquer tipo de manifestação de cunho preconceituoso ou homofóbico”.
Companheiro de time agradece posicionamento de patrocinadores
O jogador de vôlei Douglas Souza, que é assumidamente gay, se manifestou nas redes sociais em relação à decisão da Fiat de enquadrar Maurício Souza, seu companheiro de seleção brasileira, após uma publicação homofóbica feita pelo atleta do Minas Tênis Clube, que é patrocinado pela montadora italiana e pelo grupo siderúrgico Gerdau.
“Obrigado Fiat pelo posicionamento! Obrigado por entender que homofobia não é liberdade de expressão ou opinião. Esperamos mais novidades. O famoso não vai dar em nada né, toda vez a mesma coisa, cansado disso de sempre ter falas criminosas e no máximo que rola é uma “multa” ou uma retratação nas redes sociais. Até quando? Feliz pelas empresas se juntando contra e triste por atletas tentar passar pano nisso. Vergonhoso. Todos os dias, todas as horas um dos nossos morrem. O que temos? Uma retratação”, escreveu, em tom de indignação.
Jogador usa conta com poucos seguidores para pedir desculpas
Apesar de ter uma conta com mais de 200 mil seguidores no Instagram, o jogador de vôlei Maurício Souza usou um perfil no Twitter com menos de 2000 pessoas para se desculpar pelas falas homofóbicas onde atacava a DC Comics por anunciar que o novo Super-Homem seria bissexual.
Provavelmente pressionado pelo Minas Tênis Clube, já que os principais patrocinadores reagiram à publicação e pediram uma retratação do time, Maurício escreveu que, após “refletir muito”, “pedia desculpas pelo posicionamento”.
“Pessoal, após conversar com meus familiares, colegas e diretoria do Clube, pensei muito sobre as últimas publicações que eu fiz no meu perfil. Estou vindo a público pedir desculpas a todos a quem desrespeitei ou ofendi, esta não foi minha intenção”, afirmou o atleta.
Ele não apagou a publicação no seu perfil principal, repleto de outras postagens homofóbicas, transfóbicas e a favor do presidente Jair Bolsonaro.
Homofobia
Há duas semanas, a DC Comics divulgou que o novo Super-Homem, filho de Clark Kent, se descobrirá bissexual nas próximas edições das histórias em quadrinhos.
Depois da publicação, Maurício postou a foto de divulgação do Super-Homem e fez a postagem homofóbica.
“Ah é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”, comentou ele, que ainda recebeu o apoio dos colegas do vôlei Wallace e Sidão.
Manifestação tímida
A direção do Minas havia se manifestado, inicialmente, por meio de nota, porém, timidamente. Disse que respeita a opinião de cada atleta, porém, não aceitará manifestações homofóbicas de jogadores que carregam a camisa do clube.
“O Minas Tênis Clube está ciente do posicionamento público do atleta Maurício Souza, do Fiat/Gerdau/Minas. Todos os atletas federados à agremiação têm liberdade para se expressar livremente em suas redes sociais. O Clube é apartidário, apolítico e preocupa-se com a inclusão, diversidade e demais causas sociais. Não aceitamos manifestações homofóbicas, racistas ou qualquer manifestação que fira a lei. A agremiação salienta que as opiniões do jogador não representam as crenças da instituição sócio desportiva. O Minas Tênis Clube pondera que já conversou com o atleta e tem orientado internamente sobre o assunto”.
A Torcida Independente do Minas demonstrou repúdio às atitudes de Maurício. Afirmou que irá “ignorar o atleta nas redes sociais, jogos e manifestações” e assegurou a continuidade do apoio ao time. “Quando um torcedor é discriminado, para nós, é como se todos fossem”.
Reincidente
Não é a primeira vez que o bolsonarista Maurício faz postagens homofóbicas nas redes.
Em outubro de 2017, o jogador publicou: “Sou do tempo que fumar era bonito e dar a bunda era feio! Hoje fumar é feio e dar a bunda é bonito! Sorte que sou velho”, dizia a frase compartilhada por Maurício. Ele repetiu a publicação em agosto de 2021.