
“Bem unidos façamos / Nesta luta final / Uma terra sem amos / A Internacional”. Você já deve ter ouvido esse refrão, mas sabe a história por detrás da “A Internacional”? Criada há 151 anos, a canção surgiu de um poema e tornou-se o hino da Associação Internacional dos Trabalhadores ou, também, a Primeira Internacional, união de organizações e partidos de orientação anarquista, socialista e comunista, criada em setembro de 1864, por Karl Marx, Friedrich Engels e Mikhail Bakunin, entre outros intelectuais marxistas.
Em junho de 1871, Eugéne Pottier, membro da Comuna de Paris, escreveu o poema L’Internationale logo após a derrota da insurreição operária na capital francesa, que terminou com um saldo de cerca de 30 mil mortos. O texto, no entanto, só foi publicado 16 anos mais tarde, numa coletânea de poesias de Pottier. Em 1888, Pierre De Geyter, músico e operário belga, inspirado na La Marseillaise, hino da França, criou a melodia que deu sonoridade à poesia.
Em 1896, a Internacional foi cantada pela primeira vez durante o 15º Congresso do Partido Operário Francês, na cidade de Lille, ao norte da França. O poema que prega a unidade dos trabalhadores e trabalhadoras para conquistar uma terra livre e comum, e denuncia o sistema que encoberta os crimes dos ricos, foi reproduzido em outros congressos de partidos comunistas, socialistas e de trabalhadores em diversas partes do mundo e acabou sendo incorporado como hino oficial pela Internacional Operária e Socialista ou Segunda Internacional, fundada em 1889.
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Com a Revolução Russa, em 1917, a Internacional tornou-se o hino da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A versão em língua portuguesa foi criada em 1909 pelo jornalista e advogado anarquista português Neno Vasco, que emigrou para o Brasil ainda no início do século 20. Inspirados pela URSS, a Internacional passou a ser cantada em São Paulo, durante as primeiras manifestações do 1º de maio e as greves gerais de julho de 1917, organizada por anarco-sindicalistas na Grande São Paulo.
Hoje, é considerada uma das músicas mais conhecidas em todo o planeta e continua sendo tema de abertura de muitos encontros e manifestações de esquerda.
Na última quinta-feira (28), a Internacional soou durante a abertura do congresso do Partido Socialista Brasileiro (PSB), no qual estavam presentes os pré-candidatos à presidência, Lula da Silva (PT) e seu vice, Geraldo Alckmin.
Veja a versão em português:
De pé, ó vítimas da fome
De pé, famélicos da terra
Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra
Cortai o mal bem pelo fundo
De pé, não mais senhores
Se nada somos em tal mundo
Sejamos tudo, ó produtores
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
Senhores, patrões, chefes supremos
Nada esperamos de nenhum
Sejamos nós que conquistemos
A terra-mãe livre e comum
Para não ter protestos vãos
Para sair desse antro estreito
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós nos diz respeito
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
Crime de rico a lei o cobre
O Estado esmaga o oprimido
Não há direitos para o pobre
Ao rico tudo é permitido
À opressão não mais sujeitos
Somos iguais todos os seres
Não mais deveres sem direitos
Não mais direitos sem deveres
Bem unido façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
Abomináveis na grandeza
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu
Querendo que ela o restitua
O povo quer só o que é seu
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
Fomos de fumo embriagados
Paz entre nós, guerra aos senhores
Façamos greve de soldados
Somos irmãos, trabalhadores
Se a raça vil, cheia de galas
Nos quer à força canibais
Logo verá que as nossas balas
São para os nossos generais
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
Pois somos do povo ativos
Trabalhador forte e fecundo
Pertence a Terra aos produtivos
Ó parasitas, deixai o mundo
Ó parasita que te nutres
Do nosso sangue a gotejar
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o Sol de fulgurar
Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional
Original em francês
C’est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L’Internationale
Sera le gender humain
estréia! les damnés de la terre!
estréia! les forçats de la faim!
La raison tonne en son cratère:
C’est l’éruption de la fin.
Du passé faisons table rase,
Foule esclave, debout ! estréia!
Le monde va changer de base:
Nous ne sommes rien, soyons tout!
Il n’est pas de sauveurs suprêmes:
Nem Dieu, nem César, nem tribun,
Producteurs, sauvons-nous nous-mêmes!
Decrétons le salut commun!
Pour que le voleur rende gorge,
Pour tirer l’esprit du cachot,
Soufflons nous-mêmes notre forge,
Battons le fer quand il est chaud!
L’État compresses et la loi triche;
L’Impôt saigne le malheureux;
Nul devoir ne s’impose au riche;
Le droit du pauvre est un mot creux.
C’est assez languir en tutelle,
L’Égalité veut d’autres lois;
“Pas de droits sans devoirs, dit-elle
“Égaux, pas de devoirs sans droits!”
Hideux dans leur apothéose,
Les rois de la mine et du rail
Ont-ils jamais fait autre
choose Que dévaliser le travail?
Dans les coffres-forts de la bande
Ce qu’il a créé s’est fondu
En décrétant qu’on le lui rende
Le peuple ne veut que son dû.
Les Rois nous soûlaient de fumées,
Paix entre nous, guerre aux tyrans!
Appliquons la grève aux armées,
Crosse en l’air, et rompons les rangs!
S’ils s’obstinent, ces cannibales,
À faire de nous des héros,
Ils sauront bientôt que nos balles
Sont pour nos propres généraux.
Ouvriers, camponeses, nous sommes
Le grand parti des travailleurs;
La terre n’appartient qu’aux hommes,
L’oisif ira loger ailleurs.
Combien de nos chair se repissent!
Mais, si les corbeaux, les vautours,
Un de ces matins, disparaissent,
Le soleil brilliance toujours!
C’est la lutte finale:
Groupons-nous, et demain,
L’Internationale
Sera le gender humain
Versão em espanhol cantada no filme “Tierra y Libertad” de Ken Loach em um momento trágico da guerra civil espanhola.
A versão latino-americana
“Ela não morreu”, composição de E. Pottier em homenagem aos executados por fuzilamento da Comuna de Paris