
Com Marcelo Hailer
Que o Brasil tem acompanhado nos últimos anos o crescimento de grupos neonazistas não é uma surpresa, basta uma navegação e pesquisa pelas redes para se dar conta de como tais grupos “saíram do armário” e promovem discursos de ódio sem nenhum constrangimento.
Mas, com o objetivo de superar o “achar” e o “perceber”, alguns pesquisadores brasileiros têm se dedicados nos últimos anos a mapear os grupos neonazistas no Brasil.
Uma dessas pesquisadoras é a antropóloga Adriana Dias que, segundo as suas estimativas hoje existem cerca de 530 células (formadas por pessoas que estão no município).
A pesquisadora revela que, em 2019, havia detectado 334, um aumento de 58%. O trabalho de Adriana Dias é feito a partir da Unicamp e é permanente. Neste ano, foram identificados cerca de 200 perfis de usuários neonazistas, o que pode indicar novas células.
A pesquisa feita na Unicamp é permanente, e no momento em que a entrevista foi feita, a acadêmica e sua equipe tinham em mãos 200 perfis de usuários neonazistas, que podem pertencer a novas células ou a alguma detectada anteriormente.
Thiago Tavares, diretor-presidente e fundador do SaferNet Brasil, ONG que estuda o discurso de ódio no Brasil, também revela números preocupantes: em 2019 foram recebidas e processadas 1.071 denúncias; em 2020, o número de denúncias saltou para 9.004 e 3.884 páginas, das quais 1.659 foram removidas.
“A radicalização do discurso político tem legitimado e empoderado células extremistas que atuam principalmente na região Sul do país e amplificado o ódio, o preconceito e a intolerância contra quem pensa diferente”, diz.
A principal preocupação de ambos os pesquisadores, além do crescente número de perfis nas redes, é a “normalização” de tais grupos e de seus respectivos discursos.
Tavares lembra de um jovem no Recife andando no shopping com uma camisa com uma suástica, um outro em um bar em Belo Horizonte, a detecção de células nazistas em clubes de futebol, como o Grêmio…Os exemplos são cada vez mais comuns.
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Tal preocupação levou especialistas de várias universidades a criarem o Observatório da Extrema Direita no Brasil, que é coordenado por Odilón Caldeirão, professor de História Contemporânea da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Michel Gherman, coordenador do núcleo de Estudos Judaicos da UFRJ, define características presentes, segundo ele, em todo neonazista brasileiro.
“O nazismo tem uma característica fundamental: o ressentimento. A ideia mobilizadora de que eu poderia ser melhor não fosse o outro, que pode ser o negro, o judeu, o gay, a mulher. São pessoas que atuam nas redes sociais e nelas se sentem fortalecidas”, afirma.
Conivência dos APPs com neonazistas
Estes grupos atuam no submundo virtual, mas também em aplicativos de mensagens de largo alcance, como o Telegram e o WhatsApp. Adriana Dias e sua equipe apresentaram recentemente uma denúncia judicial na qual afirmam que grupos “propagam discursos de ódio que envolvem neonazismo, racismo e negacionismo”.
Com informações de O Globo