
Políticos e autoridades condenaram nesta quarta-feira (2) o avanço do discurso de Jair Bolsonaro (sem partido) e seu governo contra a possibilidade de vacinação geral da população. Ignorando a corrida científica e a expectativa mundial para que pesquisadores cheguem a um medicamento capaz de frear a contaminação pelo coronavírus, em conversa com apoiadores, na última segunda, Bolsonaro afirmou que “ninguém pode obrigar ninguém” a receber a vacina.
Oficializando a postura antivacina do mandatário, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgou na terça uma peça publicitária com igual teor.
Pelas redes sociais, o PSB Nacional repudiou a declaração do presidente. “Ao negar a vacina obrigatória, buscando o apoio de setores mais atrasados da sociedade, Bolsonaro reforça uma postura de irresponsabilidade diante da saúde dos brasileiros.”
Na mesma linha, o PDT usou as redes sociais para divulgar seu posicionamento. “A liberdade individual não pode se sobrepor ao bem-estar coletivo, à saúde, ao direito à vida de outros cidadãos. Quando diz que ‘ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina’, Bolsonaro atenta contra a vida de todos os brasileiros. Basta!”
Governo na contramão da vacina
Em crítica, o presidente Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz destacou o anacronismo do pensamento. “A fala antivacina do presidente Bolsonaro, endossada pela Secretaria de Comunicação, ressuscita um temor anacrônico, legitima comportamento irresponsável e não contribui em nada para o debate. ‘Revolta da Vacina que ainda não existe’ – e em que o mundo inteiro deposita esperanças”.
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Presidente Nacional do Cidadania, Roberto Freire sinalizou o desencontro de informações frequente dentro da estrutura governamental. “O pior é que Bolsonaro não sabe o que assina e seu Secom não sabe o que comunica. O Presidente Bolsonaro assinou logo nos primórdios da pandemia uma lei que torna obrigatório dentre outras medidas no combate ao coronavírus, o uso da vacina. São uns desavisados.”
Depois de minimizar a pandemia
Para o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), a fala de Bolsonaro traduz o gosto do mandatário “pela morte (dos outros)”. “A vacina nem está disponível ainda e Bolsonaro já incentiva a não vacinação. É o mesmo sujeito que minimizou a pandemia que já fez mais de 123 mil mortes e incentivou as pessoas a descumprirem o isolamento social. Genocida que chama”.
Líder do PT na Câmara, o deputado Enio Verri (PR) recorreu à legislação para apontar o erro contido no discurso presidencial. “Bolsonaro atropelou o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei 13.979, assinada por ele, para dizer que vacina não pode ser obrigada a ninguém. Seria apenas a fala de mais um ignorante, se não fosse o peso que tem uma declaração ser do presidente da República”, lamentou.
Companheiro de partido, o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) preferiu listar as “prioridades” do atual governo. “Bolsonaro, em menos de 24 horas, diminuiu o salário mínimo de R$ 1.079 para R$1.067, reduziu de 600 para 300 reais o auxílio emergencial e começou uma campanha contra a vacina da covid-19! E hoje é apenas o 1° dia do mês”, ressaltou.
Bolsonaro e a ‘promessa genocida’
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o intuito seria mesmo o de promover ainda mais mortes no país. “No meio da maior pandemia do século, Bolsonaro atua a favor de remédios sem comprovação e contra a vacina. Ele parece realmente querer cumprir uma de suas promessas de quando era deputado: matar milhares de brasileiros ‘que a ditadura não conseguiu’”.
Usando a postagem feita pela Secretaria de Comunicação da Presidência, a jornalista Gabriela Prioli afirmou tratar-se de mais um cortina de fumaça para disfarçar um questionamento que segue sem resposta. “Na verdade é tudo uma grande estratégia pra convencer as pessoas de que o Bolsonaro não pode ser obrigado a responder por que a sua esposa, Michele, recebeu R$ 89.000,00 do Fabrício Queiroz”.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) foi sucinta. “Então não toma você a vacina da Covid-19, Bolsonaro, e para de pregar canalhice na internet”.
Vacina está na lei
Apesar da fala, o próprio presidente Jair Bolsonaro sancionou, em fevereiro, lei que prevê a vacinação compulsória. A medida é uma das opções disponíveis para as autoridades no enfrentamento da Covid-19, junto a outras ações de prevenção.
O texto diz, inclusive, que “as pessoas deverão sujeitar-se ao cumprimento das medidas previstas neste artigo, e o descumprimento delas acarretará responsabilização, nos termos previstos em lei.”