
O general Joaquim Silva e Luna tomou posse nesta segunda-feira (19) como presidente da Petrobras. Ele foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em substituição ao economista Roberto Castello Branco.Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e sindicatos filiados a mudança de comando da estatal é uma possibilidade da companhia retomar o papel crucial de indutora do desenvolvimento econômico e social do país.
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Novo presidente da Petrobras destaca desafios
No discurso de posse, Silva e Luna disse que não há dúvidas de que, entre os principais desafios, estão tornar a Petrobras cada vez mais forte, trabalhando com visão de futuro, segurança, respeito ao meio ambiente, aos acionistas e à sociedade para garantir o maior retorno possível ao capital empregado.
“Crescer sustentado em ativos de óleo e gás de classe mundial, em águas profundas e ultraprofundas, buscando incessantemente custos baixos e eficiência. E fazer tudo isso conciliando os interesses de consumidores e acionistas, valorizando os nossos petroleiros, buscando reduzir volatilidade sem desrespeitar a paridade internacional, perseguindo a redução da dívida, investindo em pesquisa e desenvolvimento e contribuindo para a geração de previsibilidade ao planejamento econômico nacional.”
General Joaquim Silva e Luna, Petrobras
Nova diretora da Petrobras tomou posse
Silva e Luna foi confirmado para o cargo no último dia 16. A decisão foi formalizada pelo Conselho de Administração da estatal, que o elegeu, além de aprovar outros nomes para compor a Diretoria Executiva. Também tomaram posse nesta segunda Rodrigo Araujo Alves como diretor executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores; Cláudio Rogério Linassi Mastella, diretor executivo de Comercialização e Logística; Fernando Assumpção Borges, diretor executivo de Exploração e Produção; e João Henrique Rittershaussen, diretor executivo de Desenvolvimento da Produção.
Foram reconduzidos Nicolás Simone, como diretor executivo de Transformação Digital e Inovação; Roberto Furian Ardenghy, diretor executivo de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade; e Rodrigo Costa Lima e Silva, diretor executivo de Refino e Gás Natural.
Dúvidas quanto à mudança de comando
O coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, aponta questões da Petrobras que exigem correções imediatas de rumo. Entre eles está a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) dos combustíveis, incluindo o gás de cozinha, utilizada desde 2016 e reforçada pela gestão de Castello Branco; e venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, a preço “de banana”, muito abaixo do valor de mercado.
“A mudança no comando da Petrobras poderá ser a chance de a maior companhia do Brasil retomar seu papel crucial de indutora do desenvolvimento econômico e social do país, adotando medidas necessárias em defesa da própria empresa, do patrimônio nacional e da sociedade brasileira.”
Deyvid Bacelar, FUP
Bacelar observou que a indicação de Silva e Luna para assumir a presidência da companhia gera dúvidas sobre a futura condução da nova política de preços da empresa. Ele alerta que não adianta mudar o comando da Petrobras se não houver mudança na política de preços, que resultou em sucessivos reajustes nos preços dos combustíveis, principais focos de pressão sobre a inflação e deterioração do custo de vida dos trabalhadores.
Aumentos dos combustíveis
Os aumentos dos combustíveis, incluindo o gás de cozinha, foram os principais responsáveis pela inflação de 0,93% medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 12 meses, o IPCA registra aumento de 6,10%, acima do teto da meta de inflação estabelecida para este ano, de 5,25%.
“O PPI é uma política cruel e equivocada, que reajusta gasolina, óleo diesel e gás de cozinha com base no preço internacional do petróleo e na cotação do dólar – mesmo quando esses combustíveis são produzidos no país, com óleo brasileiro. Resultado: combustíveis caros, fretes e alimentos em alta, inflação subindo.”
Deyvid Bacelar, FUP
Para a FUP e sindicatos filiados, a saída de Castello Branco é a oportunidade da estatal reforçar a posição integrada e verticalizada, “do poço ao posto”, como são as grandes petroleiras do mundo. Além de fortalecer as operações nos diversos segmentos da cadeia de petróleo, gás natural e energia – incluindo fontes renováveis –, gerando empregos, negócios e renda, investindo em alta tecnologia e na capacitação do corpo técnico, assim como fortalecer a indústria brasileira fornecedora de bens e serviços.
Segundo Bacelar, outro grande desastre econômico e financeiro cometido por Castello Branco foi a venda da RLAM para o Fundo Mubadala, de Abu Dhabi, anunciada no início de fevereiro. “A venda da refinaria, fechada apressadamente e em momento inadequado, em meio à pandemia e à crise econômica global, faz parte de um programa de privatização da Petrobrás que abre mão de sua liderança no refino brasileiro sob alegação de criação de concorrência no mercado – o que é falacioso”, afirma.
Venda da RLAM foi um desastre
A venda da RLAM foi negociada por US$ 1,65 bilhão e precisa ser detida. Cálculos do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) mostram que a unidade vale entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. O banco BTG Pactual também pontuou que a RLAM foi vendida por um valor pelo menos 35% menor do que valeria. Prejuízo para a Petrobrás e para o Brasil. Na mesma direção, foram avaliações da XP Investimentos e de áreas internas da Petrobrás.
Com a demissão de Castello Branco, a FUP e seus sindicatos esperam que a Petrobrás retome seu protagonismo na economia brasileira, sobretudo diante da incompetência do governo federal de adotar medidas justas e socialmente responsáveis para a retomada econômica do país em um momento tão grave quando o da pandemia de Covid-19.
Com informações da Agência Brasil e da FUP