
Sem saber que era gravado, o ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, disse que recebeu orientação para tomar a vacina contra a Covid-19 escondido. A declaração do integrante do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) foi feita durante reunião do Conselho Nacional de Saúde (CNS) sobre saúde suplementar realizada nesta terça-feira (27).
“Eu tomei (a vacina) e vou ser sincero, porque, porra, eu, como qualquer ser humano, eu quero viver. E se a ciência e a medicina estão dizendo que é a vacina, né, Guedes, quem sou eu para me contrapor?”
General Luiz Eduardo Ramos
Os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, e da Economia, Paulo Guedes, também acompanharam o evento. Durante a reunião, realizada no Palácio do Planalto, Guedes acusou a China de ter criado o coronavírus e de produzir vacinas ineficazes. Também não sabia que estava sendo gravado e na manhã desta quarta-feira (28) pediu desculpas.
Socialistas comentam fala de general
Líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ) comentou a fala do general. Ele ressaltou, entretanto, que ao contrário de ministros que tem a opção de se imunizarem, ainda que escondido, a maioria dos brasileiros aguarda que o governo entregue novas doses de vacina contra a Covid-19, atualmente em falta nos postos de saúde.
O deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP) também usou as redes sociais para falar como a declaração de Ramos evidencia o patrulhamento ideológico instaurado no governo Bolsonaro.
Bolsonaro não admite eficácia de vacina
Por reiteradas vezes, Bolsonaro colocou em dúvida os métodos científicos de combate à pandemia do coronavírus, incluindo a imunização. Recentemente, ele voltou atrás e admitiu que iria se vacinar. Diz, porém, que quer ser o último.
Ramos afirmou que tem tentado fazer Bolsonaro mudar de ideia. “Estou envolvido pessoalmente tentando convencer o nosso presidente, independente de todos os posicionamentos, que nós não podemos perder o presidente para um vírus desse. A vida dele, no momento, corre risco, ele tem 65 anos”, disse.
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Falta política de incentivo à vacinação
A falta de uma política de incentivo à vacinação, no entanto, pode ser prejudicial ao país. Isso porque enfraquece a estratégia de uma imunização coletiva e leva a um aumento das taxas de abandono vacinal. Pesquisa Datafolha feita entre os dias 15 e 16 de março indicou que 9% dos brasileiros não se vacinaram e não pretendem se imunizar. Este número era de 17% no ano passado.
Ainda de acordo com o mesmo levantamento, se considerar apenas os apoiadores do governo Bolsonaro, o percentual é mais elevado. Apenas 76% dos que avaliam a gestão do presidente boa ou ótima afirmaram ter intensão de se imunizar contra a Covid-19.
No ano passado, o governo Bolsonaro recusou pelo menos 11 ofertas de produtoras de imunizantes para compra de vacinas. Este assunto será investigado pela CPI da Pandemia, instalada esta semana no Senado.