
A lendária ativista americana Angela Davis e a ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff manifestaram seu apoio a Francia Márquez, candidato presidencial Gustavo Petro, favoritos hoje para vencer as eleições na Colômbia.
Durante a cerimônia de encerramento da campanha, foram exibidos dois vídeos em que mulheres conhecidas, defensoras dos direitos humanos, manifestaram seu apoio à França com vistas às próximas eleições de domingo, 29.
“Francia Márquez tem estado na linha de frente da luta ambiental, as lutas contra o racismo e a misoginia, e nas lutas contra a pobreza (…) Portanto, em nome de todos nós aqui na América do Norte que defendemos a paz, a justiça e a liberdade, envio-lhe uma cordial saudação França, minha irmã, minha amiga”, disse.
“A partir daqui, parabenizamos você por todos os seus sucessos fenomenais no passado e pelas muitas vitórias que ainda estão por vir”, disse Angela Davis.
A ex-presidente Dilma Rousseff também expressou seu apoio a Francia Márquez “a primeira mulher afro que acompanhará Gustavo Petro para governar por e para mulheres, pelas mães chefes de família, pelas defensoras do meio ambiente, por toda a Colômbia que está indo” viver gostoso nos próximos quatro anos”.
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Neste sábado, milhares de pessoas acompanharam a França na cerimônia de encerramento da campanha no Parque de los Periodistas, nesta capital.
Em discurso completo, policiais, agentes da Unidade Nacional de Proteção e segurança da vice -candidata à presidência, eles abaixaram da plataforma e a cercaram com escudos de proteção porque apontavam um laser para ela de um prédio próximo.
A fórmula do Pacto Histórico, formada por Gustavo Petro e Francia Márquez, é a favorita para vencer as eleições no próximo domingo, dia 29, na Colômbia, de acordo com a totalidade das pesquisas.
Ambos foram alvo de ameaças contra suas vidas mais de uma vez durante este processo eleitoral, e no caso de França, além disso, de ações racistas, sexistas e degradantes.
“Durante a comemoração do #DiaDeLaAfrocolombianidad, eles queriam me intimidar apontando um laser para mim de um prédio próximo. Eles não vão nos silenciar! Nossa luta é e sempre foi contra todos os tipos de violência que buscam semear o medo em nós . A paz vencerá!” conta no Twitter, após o incidente na cerimônia de encerramento da campanha.
Premiada internacionalmente
Em 2018, ela ganhou o Prêmio Goldman, conhecido como o “Nobel do Meio Ambiente”, por sua luta ambiental na região. Também foi representante legal do Conselho Comunitário de La Toma, entidade que exige a proteção dos territórios ancestrais negros da Colômbia. No ano seguinte, em 2019, a advogada foi alvo de um atentado com granadas e rajadas de fuzil em represália à sua militância.
Formada pela Universidade Santiago de Cali, Márquez trabalhou na adolescência como garimpeira na mineração de ouro — assim como seus pais. Depois, exerceu o ofício de trabalhadora doméstica para pagar seus estudos e sustentar sua família. Ela é mãe solo e tem dois filhos —teve o primeiro aos 16 anos.
Em discursos durante a campanha, Márquez afirmou que, em caso de vitória, vai trabalhar pelas mulheres, negros, indígenas, camponeses e pela população LGBTQIA+.
Luta contra mineração ilegal
Márquez se tornou uma ativista aos 13 anos, quando começou uma mobilização, com sua comunidade, contra projetos do governo que alterariam o curso do rio Ovejas, um dos maiores e mais importantes da bacia hidrográfica da região.
Em 2014, esteve à frente de um movimento de mulheres que caminharam por dez dias de La Toma até Bogotá para pressionar o governo colombiano a interromper a mineração ilegal na região, que estava causando impactos negativos para a saúde, meio ambiente e comunidades do entorno. A atividade gerou mais de 30 toneladas de mercúrio despejadas nas águas desta região, poluindo uma área de 230 km.
O ativismo contra a mineração ilegal rendeu a Márquez o Prêmio Nacional de Defesa dos Direitos Humanos na Colômbia, em 2015. Três anos depois, ganhou o Prêmio Goldman. Em entrevista ao jornal colombiano “El Tiempo”, na ocasião em que recebeu a homenagem internacional, afirmou que estava convencida em seguir com seu trabalho social.
“Não é um prêmio apenas para a Francia, mas para uma luta de toda a minha vida, para as mulheres que marcharam comigo, para a comunidade, para as pessoas que morreram defendendo a vida.”
Ameaça de morte
Após ser ameaçada de morte, ela saiu da região em que nasceu. “Tive que me deslocar por enfrentar a mineração ilegal e por dizer a eles que parassem as máquinas. Tive que me esconder nas casas de outras pessoas e depois deixar meu território. Ainda estou em condição de deslocamento forçado e tenho um esquema de proteção com o qual também tive problemas devido a questões como combustível ou conserto de pneus”, relatou, em 2018.
A Colômbia é o país mais perigoso para ativistas ambientais na América Latina e no mundo. Segundo o último relatório da Global Witness, organização inglesa que monitora todos os anos atos de violência contra esses líderes, 65 ativistas foram mortos no país em 2021, número que leva o país à liderança global de casos.
Ataque promovido por adolescente
Em maio de 2019, Francia Márquez e um grupo de líderes sociais da Associação de Conselhos Comunitários do Norte de Cauca sofreram um atentado em Santander de Quilichao, enquanto se preparavam para uma reunião com o governo.
De acordo com Francia, o grupo foi atacado com homens munidos de armas e granadas. Ela não ficou ferida. As investigações atribuíram o ataque a um adolescente de 17 anos.
Racismo
Além de Márquez, quatro outros candidatos à vice-presidente da Colômbia são negros —ela é a única mulher negra no páreo. O fato inédito na história do país tem gerado também episódios de racismo. A Colômbia tem 50 milhões de habitantes e 9,3% da população se reconhecem com negros.
Ela recebeu diversas ofensas racistas nas redes sociais. A cantora colombiana Marbelle, por exemplo, que é branca, chamou a ativista de “King Kong” em uma publicação do Twitter.
Uma senadora de direita, María Fernanda Cabal, por sua vez, fez um comentário irônico em que dizia que Francia (que em espanhol é a mesma palavra usada para se tratar do país França) deveria ser “coerente” com sua trajetória contra o racismo e mudar seu nome, já que ele fazia referência a um país colonizador e escravocrata.
Além de ataques racistas, também foi alvo de campanhas de desinformação. Em março, por exemplo, a imagem de uma mulher usando um lenço do Exército de Libertação Nacional (ELN) foi atribuída à ativista, sugerindo que ela pertenceria à guerrilha. “E aqui está Francia Márquez, ela não é tão inofensiva quanto algumas pessoas pensam”, dizia uma das montagens.
Com informações da PrensaLatina