
As eleições presidenciais na França, que levou a extrema direita ao segundo neste domingo (10), reforça o movimento que acontece ao redor do mundo, com candidatos com pautas extremistas cada vez mais no poder. O Partido Socialista francês saiu ainda mais enfraquecido destas eleições.
O atual presidente, Emmanuel Macron, que foi eleito como um político mais ao centro e tem se posicionado mais à direita, recebeu 28,5%. Marine Le Pen, representante da extrema direita chegou ao segundo turno com 23,6% dos votos.
O candidato Jean-Luc Melénchon, que chegou a ser a esperança da esquerda para comandar a França, recebeu 21,7% dos votos. Em sua terceira candidatura ao Eliseu, ele ficou em terceiro lugar. Ele deve se aproximar de Macron no segundo turno, que acontece em duas semanas.
“Não devemos dar voz à Le Pen”, afirmou várias vezes Melénchon. O político anunciou que os seus apoiadores vão decidir, em votação, sobre abstenção ou voto em Macron, como em 2017.
Já o Partido Socialista teve o seu pior desempenho em um século. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, não chegou a 2% dos votos.
O resultado dos socialistas só foi pior do que os 5% arrebatados por Gaston Defferre, em 1969, e de Benoît Hamon na última eleição, que teve a preferência de apenas 6,2%, em 2017.
Ainda na noite de domingo, Hidalgo, que tentou unir a esquerda em torno de uma candidatura única, declarou apoio a Macron.
Leia também: Eleições na França: Esquerda está fora do segundo turno
Macron quer convencer direita e esquerda
Já no segundo turno, Macron tenta convencer os eleitores de Le Pen e da esquerda ao mesmo tempo.
“Quero entrar em contato com qualquer pessoa que queira trabalhar para a França. Estou pronto para inventar algo novo para reunir convicções e sensibilidades”, afirmou o atual presidente.
Em sua fala na noite de domingo, Macron entoou frases como “Quero uma França que assuma o desafio climático e ecológico”; “Quero uma França que seja resolutamente contra o separatismo islâmico (…), uma França que impeça os muçulmanos ou os judeus de comer como é prescrito pela sua religião, isto não somos nós”.
Ao se dirigir diretamente aos que votaram na extrema direita, Macron disse que quer convencê-los.
“Quero convencê-los nos próximos dias de que nosso projeto responde muito mais solidamente do que a da extrema direita aos seus medos e aos desafios dos tempos. Não se engane, nada está decidido e o debate que teremos na próxima quinzena é decisivo para o nosso país e para a Europa”, alerta o candidato.
Imprensa francesa em alerta
A Rádio France International (RFI), repercutiu o temor e indignação da imprensa francesa diante do resultado das urnas.
O jornal conservador Le Figaro afirma que há mais de 40 anos não se repetia os candidatos ao segundo turno em uma eleição presidencial no país, com a manchete “Macron-Le Pen um novo duelo”.
O diário teme o esquerdista Melénchon, que ficou poucos pontos atrás de Le Pen e seu apoio pode ser decisivo na reta final.
O jornal progressista Libération, por sua voz, estampou a manchete “Desta vez, é assustador mesmo” com as fotos de Macron e Le Pen. Na avaliação do diário, o poder de Le Pen é maior que nas últimas eleições, o que torna a “situação mais perigosa que há cinco anos”.
O jornal católico La Croix afirmou em seu editorial que a extrema direita nunca foi tão forte no país. “Os partidários da moderação podem se perguntar se não estão se tornando minoritários”, provoca.
Para o Le Monde, o primeiro turno revelou um “caos político”.
“A onda que inundou a paisagem eleitoral francesa há cinco anos voltou para acabar com as forças republicanas tradicionais, levando a um jogo de votos com um final incerto no segundo turno”, alerta.
Por outro lado, o Le Parisien aposta em Melénchon para liderar a reconstrução da esquerda francesa.
Auge e decadência
O cientista político Emir Sader afirmou, em artigo na Fórum, que auge da esquerda francesa ocorreu durante a década e meia do governo de Francois Mitterrand.
“No seu primeiro período de governo, entre 1981/1982, ele implementou o tradicional programa da esquerda francesa do segundo pós-guerra: nacionalizações, fortalecimento do Estado, implementação de políticas sociais”, avalia.
Porém, destaca que naquele momento já se observava o “surgimento vigoroso do neoliberalismo” e marcou, ao mesmo tempo, o início da decadência da esquerda francesa.
“Seu governo sofreu ataques duros da dupla Thatcher/Reagan e acabou cedendo. Já no seu segundo ano de governo, Mitterrand inaugurou a modalidade dos governos social-democratas que incorporam o neoliberalismo. Modelo que logo foi seguido pela Espanha de Felipe González e que depois se estendeu para a América Latina”, afirma.
Sader ressalta que “depois de protagonizar as grandes disputas eleitorais, a esquerda terminou deslocada”.
Com a crítica que a extrema-direita francesa passou a fazer da União Europeia e o euro como moeda única. Desta forma, ocupou o lugar da nova esquerda europeia, “que não teve força suficiente para disputar eleitoralmente à direita”.
Com informações do Portal Vermelho