
Por Julinho Bittencourt
O governador do Maranhão Flávio Dino (PSB), aprovado em primeiro lugar no mesmo concurso realizado pelo ex-juiz Sérgio Moro, foi irônico e certeiro com relação ao embarque na política de seu ex-colega e do até então procurador federal Deltan Dallagnol.
De acordo com Dino, “os arautos do suposto ‘combate à corrupção’ interferiram ilegalmente na eleição de 2018 para gerar o período mais corrupto da história política do Brasil”.
O governador, no entanto, acrescenta: “mas pelo menos uma corrupção eles diminuíram: a de políticos disfarçados com a toga nos ombros. Tem dois a menos”.
Deltan Dallagnol, ex-coordenador da operação Lava Jato em Curitiba (PR), vai renunciar ao cargo de procurador do Ministério Público (MP) para se lançar na política.
Ele deve seguir os passos do ex-juiz Sérgio Moro e se filiar ao Podemos. Sua intenção seria disputar a eleição de 2022 para deputado federal.
O agora futuro ex-procurador é personagem central da série jornalística Vaza Jato, que desnudou articulações ilegais entre o MP e Moro para levar o ex-presidente Lula (PT) à cadeia e tirá-lo da disputa presidencial em 2018. Por conta dessas revelações, Dallagnol foi afastado da Lava Jato em setembro de 2020.
Em postagem nas redes sociais feita nesta quinta-feira (4), Dallagnol confirmou sua saída do MP e declarou: “Nossos instrumentos de trabalho para alcançar a Justiça têm sido enfraquecidos. Por isso creio que agora posso fazer mais pelo país fora do MP, lutando com mais liberdade pelas causas que acredito”.
O powerpoint de Dallagnol
Sua imagem mais controversa é a do powerpoint em que apontava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como chefe de uma organização criminosa instalada no poder para desviar dinheiro público.
A apresentação, inclusive, levou a defesa de Lula a entrar com uma representação contra o procurador no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Em agosto do ano passado, o CNMP reconheceu a prescrição da representação e a arquivou. A maioria dos conselheiros, no entanto, reconheceu que o uso do PowerPoint teve objetivos políticos e midiáticos.
Dobradinha com Moro-Dallagnol?
Dallagnol é formado em Direito pela Universidade Federal do Paraná e tem mestrado pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Entrou para o MP do Estado em 2003, após ficar em primeiro lugar no concurso público. A expectativa é de que se filie ao mesmo partido escolhido por Moro para disputar as eleições do próximo ano, o Podemos, liderado pelo senador Alvaro Dias, também do Paraná, como ambos.
A vontade de entrar para a política não é nova, mas Dallagnol sempre era desencorajado pelos próprios colegas da Lava Jato, que temiam a repetição do que ocorreu na Itália, onde a Operação Mãos Limpas foi trucidada depois que um dos seus principais mentores e coordenadores desviou para a política.
Agora, com o esvaziamento progressivo e o fim da Lava Jato, esse argumento deixa de existir e o que tanto Moro quanto Dallagnol têm dito em seus contatos políticos é que a prioridade deles é resgatar os méritos e êxitos da Lava Jato para a história.
Com informações do Estadão e da Fórum