
Por Marcelo Hailer
Com a retomada do poder pelo Talibã no Afeganistão uma discussão ganhou força nas redes: como seria viver sob um regime teocrático? Essa pergunta não é nova e já serviu de ponto de partida para uma série de livros (ficção e não ficção), filmes e séries.
O próprio Talibã já serviu de inspiração para um dos grandes fenômenos da literatura ocidental, “O conto da Aia”, escrito pela canadense Margaret Atwood na década de 1980 ganhou forma após uma vagem da autora ao país.
Sucesso nas livrarias, a adaptação para a televisão é, atualmente, um dos maiores sucessos de público e da crítica.
Pensando nisso, separamos algumas obras que visam refletir sobre realidades governadas por regimes teocráticos.
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A caminho de Kandahar (filme)
Lançado em 2001 e dirigido por Mohsen Makhmalbaf, o longa conta a história Nafas, que fugiu do Afeganistão para o Canadá após o Talibã tomar o poder e impor severas restrições à vida das mulheres.
Após receber uma carta de sua irmã, que vive no Afeganistão, onde afirma que vai se matar, Nafar decide retornar ao país governado pelo Talibã e ir ao encontro de sua irmã para impedir que ela cometa o suicídio.
O filme acompanha a travessia da personagem e ao mesmo tempo apresenta o mundo das mulheres sob um regime teocrático.
O Conto da Aia (livro e série)
Escrito pela canadense Margaret Atwood e publicado em 1985, o livro “O conto da Aia” retrata a República de Gilead, que um dia foi o EUA.
A Gilead, grupo político teocrático que vai ganhando poder nos EUA, dá um golpe no país e impõe o regime teocrático. Com isso, as mulheres perdem total autonomia dos seus corpos, não podem mais trabalhar e estudar, sua função é reduzida à reprodução.
Em entrevista ao NYT, a autora afirmou que após uma viagem ao Afeganistão e ter sido obrigada a usar um lenço que cobria o seu cabelo, ela teve o seu ponto de partida para escrever o livro.
Porém, o que chamou a atenção de seu livro, é ter usado os EUA como cenário para uma república teocrática.
O livro ganhou uma adaptação para a televisão, série que leva o mesmo nome do livro e está na quarta temporada.
Sementa da Terra (Vol. 1 e 2/ livro)
A escritora Octavia Butler, considerada a fundadora do Afrofuturismo, publicou entre os anos 1994 e 1998 os livros “A parábola do semeador” (1993) e a “A Parábola dos Talentos” (1998).
A história é conta a partir dos diários da protagonista Lauren Olamina, fundadora do grupo religioso Semente da Terra.
Após uma pandemia que se prolongou por quase uma década, os EUA estão mergulhados em uma guerra civil.
No auge da crise surge Javer, político fundamentalista que se elege presidente e inicia a construção da “nação de Deus”, apoiado por milícias fundamentalistas, o projeto é construir um novo país sob um regime teocrático.
O Homem do Castelo Alto (livro e série)
Publicado em 1962, o livro “O Homem do Castelo Alto”, escrito por Philip K. Dick (Blade Runner) apresenta um mundo onde os nazistas e seus aliados venceram a guerra.
A partir daí, o autor nos mostra um mundo que vive um misto de fundamentalismo e teocracia.
O livro foi adaptado para a TV e está disponível no Prime Vídeo (Amazon).
O Califado (série)
A série, que está disponível na Netflix, conta a história de Pervin, jovem mãe que se radicou no Oriente Médio desde que se casou com Husam, membro do Estado Islâmico.
Com um clima sufocante, a série nos mostra o dia a dia das mulheres que vivem em uma região dominada pelo Estado Islâmico que, assim como o Talibã, é teocrático e alija as mulheres de direitos.
Filhas do Sol (filme)
Se na série Califado acompanhamos a vida das mulheres que vivem em uma região dominada pelo Estado Islâmico, no filme “Filhas do Sol”, que é inspirado em fatos, acompanhamos o dia a dia das guerrilheiras curdas Rojava.
Boa parte do grupo é composto por mulheres que tiveram a sua vida destruídas pelo Estado Islâmico e que se preparam para atacar uma das principais bases do Estado Islâmico.
O filme, dirigido por Eva Husson, está disponivel nas plataformas digitais.
O Enigma da Revolta (livro)
O livro “Enigmo da Revolta”, publicado pela editora N-1, consiste em uma série de entrevistas com Michel Foucault, que esteve no Irã durante a Revolução Iraniana, em 1979, e que transformou o país em república islâmica teocrática.
O filósofo escreveu uma série de reportagens para alguns jornais franceses que foram interpretados como se o autor tivesse apoiado a construção de uma teocracia, que iria de encontro às suas teses.
Nesta séria de entrevistas, Foucault explica que não se trata de apoiar, mas de buscar o entendimento do significado de “revolução” e “liberdade” no contexto do Irã e a ligação de tais valores com a fé local.
Par ao autor, não possível entender tais transformações a partir do prisma ocidental do que é “revolução” e “liberdade”.
A Origem do Estado Islâmico (livro)
Escrito pelo jornalista Patrick Cockburn, “A origem do Estado Islâmico: o fracasso da “guerra ao terror” e a ascensão jihadista” (Ed. Autonomia Literária), é essencial para entender não apenas a formação do ISIS, mas também de outros grupos e como a “Guerra ao terror” ao invés de enfraquecer tais grupos, os fortaleceu.