
Enquanto o Ocidente faz pressão para que o ataque da Rússia contra a Ucrânia acabe, o presidente Jair Bolsonaro (PL) continua as relações comerciais com o presidente russo, Vladimir Putin, e consequentemente, fomentando a guerra. Bolsonaro disse a apoiadores na segunda-feira (27) que conversou com Putin sobre trocas comerciais entre os dois países e sobre a possibilidade de comprar diesel da Rússia.
“Temos aí a segurança alimentar e a segurança energética. Então, há chance de comprarmos diesel de lá. Fica, com toda certeza, um preço mais em conta”, disse Bolsonaro.
Durante cerimônia no Palácio do Planalto, Bolsonaro já havia mencionado a ligação com Putin e dito que o Brasil trataria a insegurança alimentar e a energética. No entanto, o presidente falou apenas que conversou com o líder russo sobre o comércio de fertilizantes.
Em comunicado divulgado pelo Kremlin, Putin confirmou o telefonema sobre a segurança alimentar global. Segundo a nota, o presidente russo disse a Bolsonaro que está “empenhado em cumprir suas obrigações de garantir o fornecimento ininterrupto de fertilizantes russos ao agronegócio brasileiro”.
A Rússia é dos principais produtores mundiais do insumo. Em maio, Bolsonaro afirmou que os estoques de fertilizantes estão “garantidos” até o início de 2023.
A dependência de fertilizante é um fator-chave na postura neutra de Bolsonaro em relação à guerra da Rússia contra a Ucrânia.
“Adotamos uma posição de equilíbrio nessa questão conflituosa, não sobrevivemos sem fertilizantes”, disse Bolsonaro durante evento em Brasília, em 27 de abril.
Putin e Bolsonaro têm estreitado as relações desde que o líder brasileiro esteve na Rússia, em fevereiro deste ano.
Em sua ida aos Estados Unidos para participar da Cúpula das Américas, Bolsonaro chegou a dizer que lamentava a guerra na Ucrânia, mas que o Brasil ainda é dependente de “outros países”.
“Lamentamos os conflitos, mas eu tenho um país para administrar”, afirmou Jair Bolsonaro.
Mineração em terras indígenas por conta da guerra
Em março deste ano, Bolsonaro defendeu, sob o argumento de que há risco de desabastecimento de fertilizantes no Brasil por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia, a aprovação no Congresso de projeto que permite a mineração em reservas indígenas.
Bolsonaro, que há cerca de duas semanas chegou a visitar a Rússia para negociar o suprimento de fertilizantes, já vinha destacando em declarações públicas que o Brasil possui reservas de potássio, utilizado em fertilizantes, mas em reservas indígenas.
“Com a guerra Rússia/Ucrânia, hoje corremos o risco da falta do potássio ou aumento do seu preço. Nossa segurança alimentar e agronegócio (Economia) exigem de nós, Executivo e Legislativo, medidas que nos permitam a não dependência externa de algo que temos em abundância”, publicou o presidente em seu perfil do Twitter.
Bolsonaro está ‘equivocado’
No mesmo mês, o encarregado de Negócios da Embaixada da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, disse que o presidente Jair Bolsonaro, apontado como aliado de Vladimir Putin, estaria “mal informado” sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. E cobrou um posicionamento do presidente brasileiro: “Talvez seria interessante ele conversar com o presidente ucraniano para ver outra posição e ter uma visão mais objetiva”, disse Tkach, durante coletiva de imprensa.
De acordo com o diplomata, o conflito não envolve somente os dois países e muito menos apenas a Europa. Ressaltou na ocasião que o futuro do mundo está em jogo. “Não se trata de apoio à Ucrânia; se trata de apoio aos valores democráticos, ao direito internacional incluindo os fundamentos como não violação das fronteiras, o respeito de soberania do Estado e de integridade territorial”, disse.
Na época, ele cobrou que o Brasil adotasse sanções mais duras contra a Rússia. No dia 27 de março deste ano, Bolsonaro chegou a dizer que é “exagero” chamar de massacre o cerco que o exército russo fez na capital da Ucrânia, Kiev, durante uma coletiva de imprensa. Disse também que o Brasil precisava “ter responsabilidade” em termos de negócios com a Rússia, principalmente, por depender de fertilizantes.
“Eu entendo que não há interesse por parte do líder russo de praticar um massacre. Ele está se empenhando em duas regiões do Sul da Ucrânia que, em referendo, mais de 90% da população quis se tornar independente, se aproximando da Rússia. Uma decisão minha pode trazer sérios prejuízos para o Brasil”, disse o presidente brasileiro.
Com informações do Poder360