
A campanha de imunização no Brasil, iniciada no último domingo (17) em São Paulo, vem sendo ameaçada pelas dificuldades na importação de doses e de insumos para produzir vacinas. Para especialistas, há risco real da vacinação contra a Covid-19 ser interrompida em pouco tempo.
Segundo reportagem do Estado de S. Paulo, o volume disponível não é suficiente nem mesmo para aplicar as duas doses nos profissionais de saúde, que somam cinco milhões de pessoas no Brasil.
O plano começou com apenas seis milhões de doses da Coronavac, importadas da China. Outros dois milhões de doses do imunizante de Oxford, produzidas na Índia, já deveriam ter chegado. Mas, depois de dois adiamentos, o governo desistiu de fixar nova data para receber o produto.
Butantã sem insumos
O Instituto Butantã tem 4,8 milhões de doses em fase final de produção, mas aguarda nova autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso emergencial. O pedido foi feito na segunda-feira (18). O órgão também não recebeu novas remessas do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), o princípio ativo da vacina, importado da China.
“Temos um carregamento de matéria-prima pronto lá na China para ser despachado”, afirmou o presidente do Butantã, Dimas Covas. “Estamos aguardando apenas a autorização do governo chinês para poder trazer e, assim, iniciar a 2ª etapa de produção. Mas dependemos da matéria-prima para poder continuar esse processo.”
Segundo Covas, o Butantã tem capacidade para fabricar um milhão de doses por dia. Mas a instituição estima que ainda demore dez meses para ter capacidade de produzir a vacina sem depender de insumos feitos pelo laboratório chinês Sinovac.
Já Fiocruz, que produz a vacina Oxford/AstraZeneca, principal aposta do governo Bolsonaro, nem começou a sua produção. A instituição ainda não recebeu nenhuma remessa do IFA. Em nota, a Fiocruz informou está dentro do calendário contratual a chegada do insumo ainda em janeiro.
Sobre a importação de dois milhões de doses prontas do imunizante de Oxford, plano que o governo previa executar no fim de semana, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, voltou a dar respostas vagas.
Nessa segunda (18), o ministro disse que ainda não havia recebido “resposta positiva” sobre a compra. Sem citar uma data, ele afirmou que teve “sinalização” de que o embarque vai se resolver nesta semana.
O que afirmam os especialistas?
Especialistas destacaram à reportagem que o governo não levou adiante as negociações com a Pfizer e a Moderna para a compra de imunizantes. Lembram também que, num primeiro momento, o País não quis entrar no consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a compra de vacinas e, por fim, quando decidiu participar, foi com apenas 10% das doses.
“Isso tudo nos coloca numa condição extremamente fragilizada, sobretudo diante do aumento de demanda global para todas essas fábricas, como a da Índia, que estão com um cronograma altamente apertado em razão das próprias demandas internas e de outras externas”, resume o virologista Flávio Guimarães, da Universidade Federal de Minas Gerais.
“Mais do que nunca, vejo como alternativa a continuação do investimento brasileiro num imunizante nacional; temo que o fornecimento externo não vá oferecer a cobertura que precisamos”, concluiu.
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo