
A conta da loja de chocolates da qual o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) é sócio, no Rio, recebeu sucessivos depósitos de dinheiro em espécie ao longo de três anos. As informações constam em registros de movimentações financeiras obtidos pelo Jornal Nacional. Elas evidenciam também a existência de um padrão envolvendo operações, com números redondos, pouco comum para um estabelecimento comercial.
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Os dados são referentes ao período entre março de 2015 e dezembro de 2018. Eles coincidem, de acordo com um relatório do Ministério Público do Rio (MP-RJ), com o período em que Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), teria recolhido parte dos salários dos funcionários lotados no gabinete do parlamentar.
Flávio e Queiroz são investigados pela promotoria por suspeita de participação no esquema de esquema de “rachadinha” no gabinete.
Recebimento de depósitos
O levantamento obtido pelo JN indica que a conta do estabelecimento recebeu, em dinheiro vivo, 63 depósitos de R$ 1,5 mil cada; outros 63 lançamentos de R$ 2 mil e ainda 74 créditos de R$ 3 mil. No caso da última quantia, houve 12 datas em que as operações se repetiram em um mesmo dia.
Em 28 de novembro de 2016, por exemplo, foram sete depósitos fracionados, totalizando R$ 21 mil. Em 18 de dezembro de 2017, dez movimentações totalizaram R$ 30 mil. Posteriormente, em 25 de outubro de 2018, onze operações renderam R$ 33 mil à conta da loja.
Dos 74 depósitos de R$ 3 mil, apenas 12 foram feitos na boca do caixa e o restante – 62 operações – envolveram terminais de autoatendimento. Os envelopes utilizados aceitavam até 50 notas e um total de R$ 3 mil.
Sem fiscalização
No total, foram 1.512 depósitos em dinheiro vivo. O banco responsável pela conta estava obrigado a comunicar instituições de controle de atividades financeiras sobre qualquer depósito em dinheiro vivo que ultrapassasse o limite de R$ 10 mil. Apenas uma operação de crédito na conta da loja estourou esse limite – todas as outras aconteceram sem que fossem repassadas aos órgãos em questão.
Os documentos da investigação do MP obtidos pelo JN indicam que, para os promotores, a conta da empresa recebeu aportes desproporcionais ao seu faturamento. Contudo, os investigadores acreditam que a loja foi utilizada para a criação de uma “conta de passagem“. A crença é que os montantes depositados retornavam para Flávio por meio de lucros possivelmente fictícios.
Flávio não é o único dono da loja. Ele é sócio de Alexandre Ferreira Dias Santini, dono de metade da empresa adquirida em 2015. Para o MP, Santini pode ter sido usado como “laranja” pelo parlamentar, com a intenção de encobrir injeção de recursos ilícitos no patrimônio da firma.
Justificativa
Em 2018, o JN já havia revelado que a conta de Flávio recebeu 48 depósitos fracionados de R$ 2 mil entre junho e julho de 2017. Na ocasião, o senador afirmou que optou por realizar as operações dessa maneira porque não queria enfrentar fila e esperar o responsável pelo caixa conferir o dinheiro diante de várias pessoas.
A defesa do senador Flávio Bolsonaro negou qualquer irregularidade na conta do senador e declarou que ele prestou informações ao MP. Fabrício Queiroz, por meio de seu advogado, disse que nunca trabalhou na loja de chocolates e que, portanto, desconhece os dados.
Com informações do jornal O Globo
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