
A expectativa de mais corrupção no Brasil atingiu o maior nível desde que Jair Bolsonaro (sem partido) assumiu a Presidência da República, em 2019: 67% dos brasileiros dizem esperar que haverá mais casos de corrupção de agora em diante. Os dados são do Instituto Datafolha, que ouviu, nos dias 15 e 16 de março, por telefone, 2.023 pessoas. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.
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Os dados revelados pela pesquisa acompanham a consolidação da aliança entre Bolsonaro e o Centrão. Além da exposição no noticiário de mais detalhes de práticas suspeitas associadas à família do presidente e o episódio da compra de uma mansão de R$ 6 milhões pelo filho Flávio, senador pelo Republicanos-RJ.
Ao mesmo tempo, a Justiça alterna notícias más para a família, como a sobrevida à investigação das “rachadinhas”, e boas, como a soltura concedida ao ex-assessor Fabrício Queiroz.
A aproximação com o Centrão, antes símbolo da corrupção para o bolsonarismo, foi iniciada no segundo semestre de 2020. A consumação se deu com o apoio à eleição do líder do grupo de partidos na Câmara, Arthur Lira (PP-AL), à presidência da Casa em fevereiro.
Como as cobranças acerca da política de combate à pandemia mostram, é uma aliança bastante instável, mas garantiu numericamente apoio a Bolsonaro — principalmente contra ameaças de abertura de processo de impeachment, que legalmente começam na Câmara.
Combate à corrupção foi base da campanha de Bolsonaro
O combate à corrupção era uma pedra basilar da campanha de Bolsonaro em 2018, que buscou associar-se à então popular Operação Lava Jato. Sergio Moro, o juiz-símbolo da ação anticorrupção, acabou virando ministro da Justiça.
Moro saiu do governo Bolsonaro no começo de 2020. À época, apontou interferência ilegal do presidente na Polícia Federal. De fato, ao longo do ano passado, o presidente minou a Lava Jato ao indicar Augusto Aras como procurador-geral da República, que acabou por encerrar de vez a força-tarefa de Curitiba (PR).
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Ao mesmo tempo, houve o desgaste pela associação de Moro com o governo e as revelações de conversas de integrantes da Lava Jato, que levaram ao julgamento de suspeição do ex-juiz no caso da condenação de Luiz Inácio Lula da Silva e geraram o clima para a restauração dos direitos políticos do ex-presidente.
Bolsonaro, pressionado pelas políticas erráticas de combate à pandemia e pelo ensaio de crise institucional do primeiro semestre de 2020, quando apoiou atos golpistas contra outros Poderes, aproximou-se do Centrão e de siglas como o PSD.
Isso foi catalisado pela prisão de Fabrício Queiroz, em junho. Cargos foram distribuídos, e um ministério, recriado. Isso assentou o caminho para a eleição de Lira, um aliado que abriu a principal comissão da Câmara, a de Constituição e Justiça, para uma bolsonarista radical.
Brasileiros pioraram expectativa sobre corrupção
Na ocasião anterior em que a pergunta sobre expectativas sobre corrupção foi realizada, em dezembro de 2020, 55% achavam que a corrupção iria aumentar, nível semelhante à pesquisa de agosto passado — que havia indicado a mudança de patamar dessa percepção, estável em torno de 40% desde o início do governo.
De dezembro para cá, caiu de 14% para 8% o índice de pessoas que acham que a corrupção vai diminuir, e oscilou de 27% para 23%, queda dentro do limite da margem de erro, o número daqueles que acham que o problema seguirá como está.
O pessimismo aferido pelo Datafolha é pior entre mulheres (74%) e os mais pobres (73%). São grupos importantes em termos estatísticos, somando respectivamente 52% e 53% da amostra do Datafolha.
A expectativa é menos pior entre os mais ricos (51%), mas isso não se transmuta em otimismo: cresce ali a ideia de que tudo ficará como está, em 37%. É um grupo influente, mas de apenas 4% do universo dos pesquisados.
Há homogeneidade na avaliação pelo país, uma curiosidade dado que em outros itens pesquisados na mais recente rodada do Datafolha houve um acirramento de divisões regionais.
Nela, a rejeição a Bolsonaro cresceu para 44%, enquanto a aprovação segue nos 30% a que ele se acostumou desde que assumiu como piso de popularidade.
No grupo que acha o presidente ótimo ou bom, 53% acham que haverá mais corrupção, e 17%, que ela diminuirá. É um resultado melhor que o global, mas longe de níveis mais confortáveis registrados anteriormente.
Com informações da Folha de S.Paulo