
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou ex-governadora do Paraná Cida Borghetti (PP) para o cargo de conselheira de administração de Itaipu. Ela é casada com o líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR), que teria sido apontado pelo próprio Bolsonaro como parte do esquema de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin. As revelações foram feitas pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) e confirmadas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia. O salário é de R$ 27 mil.
A nomeação, de acordo com matéria do Congresso em Foco, foi feita no dia 6 de maio no Diário Oficial da União, menos de dois meses depois de Bolsonaro ter sido alertado por Miranda sobre as suspeitas de irregularidades na compra da Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. A reunião com o presidente ocorreu em 20 de março, no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.
Alto salário para reuniões bimensais
O salário de conselheiro da hidrelétrica é de R$ 27 mil para comparecer a reuniões que acontecem de dois em dois meses. Barros alegou, na época, que a nomeação da esposa não se dava pela relação familiar entre os dois, mas pela experiência dela como governadora do Paraná.
Cida Borghetti substituiu o ex-ministro Carlos Marun (MDB-MS), que ocupava a função desde o governo de Michel Temer. Dois dias antes da reunião relatada por Miranda, Bolsonaro havia recebido o deputado paranaense, que informou, na época, ter tido uma reunião produtiva com o presidente, como destacou o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, que recuperou a sequência dos fatos.
Ex-deputada federal, Cida foi governadora do Paraná por nove meses. Ela assumiu o cargo em abril de 2018, quando o então governador Beto Richa renunciou para disputar uma vaga no Senado. Cida era vice-governadora e disputou a reeleição, mas foi derrotada pelo atual governador, Ratinho Júnior (PSD).
Miranda insinua ter gravado conversa com Bolsonaro
Neste sábado (26), Luis Miranda insinuou que teria gravado a conversa que teve com Bolsonaro para relatar as suspeitas de corrupção envolvendo a compra da vacina em entrevista ao Antagonista.
“Ele vai ter uma surpresa mágica. Aí vou ter que fazer uma coisa que nunca um parlamentar deve fazer com o presidente. Ele vai ficar constrangido, muito. Até porque eu tenho como provar.”
Luis Miranda
O jornalista insiste na pergunta sobre o parlamentar ter provas. E Miranda reitera. “É melhor ele não fazer isso. É desnecessário, é uma loucura. Porque se fizer, esquece 2022. Ele terá um Brasil inteiro descobrindo que ele mentiu”.
Ele voltou a afirmar que tem sofrido ataques de Bolsonaro e seus filhos.
“Já passou dos limites, presidente. Os filhos dele me atacando, me chamando de 171, dizendo que eu tô mentindo. Se ele fizer isso, a gente vai ter que provar de um jeito que será totalmente desfavorável para o resto da carreira política dele”, falou irritado.
Por fim, o deputado tentou amenizar suas palavras. Alguns espectadores perguntaram a ele se haveria “mais munição”, cogitando explicitamente a existência de uma gravação de áudio. Miranda procurou diminuir a temperatura de suas declarações, mas encerrou em tom irônico. “Tinha mais duas pessoas na sala. Três, com ele. Eu, como parlamentar, não gravaria, mas… Vamos mudar de assunto?”, finalizou.
Contrato rápido ignorou recomendações jurídicas
O contrato para a compra da Covaxin foi assinada a toque de caixa pelo governo Jair Bolsonaro. Além disso, o valor de R$ 1,61 bilhão para a compra da vacina indiana Covaxin, foi acertado sem atender a tempo a um conjunto de dez recomendações feitas pela consultoria jurídica do Ministério da Saúde, formada por integrantes da AGU (Advocacia-Geral da União). A consultoria concluiu um parecer pela viabilidade jurídica do processo de compra, “condicionada ao atendimento das recomendações” descritas no documento.
Faltou o ministério, por exemplo, justificar porque dispensou pesquisa de preços, apresentar porque optou pela contratação de 20 milhões de dores e definir qual o papel da Precisa Medicamentos – representante ou distribuidora dos imunizantes indianos da Bharat Biotech.
Com informações do Congresso em Foco, O Globo, Fórum e Antagonista