
Ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o general da reserva Paulo Chagas recuou do seu posicionamento em 2018 e fez duras críticas ao mandatário na segunda-feira (8). Para o militar, Bolsonaro está deslumbrado com o poder. “Quando falo do narcisista deslumbrado é porque ele, tanto quanto outros, está deslumbrado com o poder que tem, com a popularidade que tem e nunca teve”, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
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No último sábado (6), o general já havia utilizado da sua rede social para rebater quem o critica por se voltar contra o presidente e relata ter perdido seguidores por isso. “Há quem diga que não devo criticar o presidente Bolsonaro porque não temos outro capaz de liderar a direita. Ora, se entre 200 milhões de brasileiros só encontramos um narcisista deslumbrado, trapalhão e que não cumpre o q promete para nos liderar, é porque a direita não está preparada para mudar o Brasil!”, postou.
Chagas, porém, não defende o impeachment do presidente. Para o general, não é uma “boa solução” para o momento, e o melhor seria acalmar os ânimos. “O caminho correto seria o presidente baixar a bola e entender qual é a missão dele. Alguém que tivesse influência real sobre ele chegar e dizer: “Olha, a partir de agora, tem que fazer assim”. (Bolsonaro) Tem uma compulsão a dizer impropérios. Fica sempre instigando, não para nunca a briga”, afirmou.
O general classificou a assessoria de Bolsonaro entre “fanática” e “racional”. Na sua avaliação, o presidente não deveria ouvir o chamado “gabinete do ódio”, e sim buscar o bom senso com os seus ministros “competentes”. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, está fora desse grupo.
Sobre a relação da ala fanática e do presidente com os militares, Chagas afirma que é uma ilusão o apoio a um golpe de Estado. “Há a ilusão de que os militares vão apoiar um golpe, é uma ilusão. O presidente inclusive procura passar essa imagem, de que os militares estão do lado dele. Sim, estão do lado dele tanto quanto estiveram do lado da Dilma (Rousseff), do Lula e de todos os presidentes”, disse.
Responsabilidade pela Covid-19
Em média 1.540 pessoas morreram de Covid-19 no Brasil por dia nesta semana, o maior número de toda a pandemia. Para o general, Jair Bolsonaro tem sua parcela de culpa por minimizar a pandemia e não assumir a coordenação nacional da crise.
“O erro começou logo no começo, o presidente não quis assumir a coordenação nacional da crise, traçar um plano e seguir esse planejamento. O presidente negou, (adotou) o negacionismo, “é uma gripezinha”, deixou passar, as coisas foram se agravando”, afirmou.
“Um absurdo que o presidente venha ‘mimimizar’ um problema como esse, que está mais do que caracterizado no mundo inteiro que é gravíssimo. Ele chega e diz que não é nada, “é mimimi, vamos acabar com a frescura”. Não é esse o papel dele, ele não tem que ter posição radical. Tem que ter uma posição conciliadora, uma posição científica, ouvir as pessoas que sabem, cientistas, médicos.”
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo