
Estudos estão descobrindo patologias relacionadas ao uso do TikTok. Uma delas é um tique nervoso bem parecido com a Síndrome de Tourette, um problema de saúde sério, mas que muitas vezes é levado na brincadeira por ser bastante caricato. Entre quem tem apresentado esse tique, estão meninas e mulheres jovens que intensificaram o uso do TikTok durante a pandemia.
As redes sociais geram uma série de preocupações nos médicos, isso acontece porque é tudo muito novo e ainda não se sabe quais são os efeitos do uso dessas plataformas no longo prazo.
Epidemia na pandemia?
Segundo o neurologista da Universidade de Calgary, na cidade canadense de Alberta, Davide Martino, trata-se de uma “epidemia dentro da pandemia”. Segundo os especialistas, a causa desse tique seria uma soma do estresse do isolamento com a exposição aos tiques de outras pessoas no TikTok.
É estranho pensar que um adolescente vai ver alguém que tenha um tique nervoso no TikTok e começar a repetir isso porque está estressado. Porém, uma pesquisa publicada na revista Movement Disorders mostrou um crescimento no desenvolvimento de tiques entre meninas entre 12 e 25 no último ano.
@alexandrea.joy i read books now???? hello??? also no 14 year olds can bully me in my comments??
♬ Welcome to the Internet – Bo Burnham
Não é Tourette
Segundo os especialistas, isso é algo que diferencia os casos de meninas usuárias do TikTok com a Síndrome de Tourette. O transtorno neurológico que faz as pessoas repetirem movimentos ou sons contra sua vontade tende a apresentar os primeiros sintomas ainda na infância.
Além disso, Tourette é mais comum em meninos e causam tiques menos extremos. Outro aspecto que diferencia os dois transtornos é o fato de as meninas que apresentaram os tiques mais recentes também relataram episódios de ansiedade e mudanças repentinas de humor.
Por conta disso, os cientistas têm chamado os episódios de “comportamentos semelhantes ao tique funcional”. Porém, apesar da nomenclatura que aponta apenas uma semelhança ao tique, os especialistas alertam que isso não faz do transtorno menos real ou grave.
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De acordo com Martino, ele e sua equipe detectaram que as meninas acometidas com esse comportamento realmente não conseguem parar, mesmo que tentem. Além disso, o neurologista defende que é necessário tratar as pacientes com seriedade para poder ajudá-las de fato.
Lado perigoso do TikTok
Enquanto tenta manter o grande número de usuários e aderir a um modelo mais globalizado, para além dos padrões orientais, a rede também se vê vítima do próprio crescimento. Basta lançar luz sobre os desafios que colocam em risco à saúde pública (vale lembrar de casos recentes, como o Desafio do Coronavírus e o Desafio do Sal).
Além de expor jovens a situações de vulnerabilidade, essas correntes podem trazer danos do ponto de vista psicológico. Segundo a Organização Pan Americana de Saúde, metade das condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade. “Então, quanto mais ficarem expostos a fatores de risco, como violência, ambiente familiar conflituoso, pobreza, uso abusivo de álcool e outras drogas, bullying e cyberbullying, maior a chance de desenvolver problemas emocionais”, defende Melina Cury Haddad, psicóloga especialista em terapias cognitivas.
Esses desafios que os usuários do app publicam, principalmente os influencers, acabam estimulando o comportamento de muitos jovens por terem um apelo visual forte, rapidez dos vídeos e muitos seguidores. É como se eles ensinassem a construir uma imagem, um padrão de como devem ser e se comportar
“Sejam no Tik Tok, sejam em outros apps, essas brincadeiras fazem parte de um padrão de uso da mídia social, especialmente entre os jovens, que passam a sentir uma pressão de manter uma presença constante nas plataformas digitais em troca de visualizações e curtidas”, complementa Vivian Wolff, coach especialista em desenvolvimento humano e mindfulness.
Para Mario Louzã, médico psiquiatra e doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, na Alemanha, o problema não é, necessariamente, o meio, mas, também, o público. Outras redes, em sua visão, operam de forma semelhante.
“O adolescente tem essa necessidade de se sentir integrado”, avalia. “Certamente, o TikTok causa problemas sérios em relação à autoestima.”
Mario Louzã
O TikTok recebeu muitas críticas pela suposta censura de pessoas consideradas feias e suscetíveis a bulliyng. Sobre a exclusão de pessoas gordas ou com perfis “fora do padrão”, Melina Cury Haddad é categórica: “a empresa censurou alguns usuários com esses perfis entendendo que poderiam deixá-los menos suscetíveis ao cyberbullying e assédio, mas o que ocorre é exatamente o contrário. Esse tipo de censura aumenta o preconceito social e, com isso, impacta diretamente na autoestima do usuário.”
Com informações do Olhar Digital e Metrópoles