
Autor do livro “China Hoje: Projeto Nacional, Desenvolvimento e Socialismo de Mercado” (São Paulo: Anita Garibaldi, 2012), o geógrafo Elias Marco Khalil Jabbour diz que compreender o protagonismo dos países asiáticos, em especial o da China, no cenário econômico global é “o maior desafio intelectual do momento presente”.
Em entrevista concedida à IHU On-Line, Jabbour afirma que o crescimento do país nos últimos 40 anos indica uma “capacidade de flexibilização ao longo dos tempos”, enquanto o “Ocidente caminha para uma estagnação secular”.
Essa flexibilização transformou a China na “primeira experiência de uma nova classe de formações econômico-sociais”, o chamado “socialismo de mercado”, em desenvolvimento no país desde 1978.
“Na verdade, ‘socialismo de mercado’ seria o nome fantasia do que eu chamo de Nova Economia do Projetamento, em alusão à Economia do Projetamento pensada por Ignácio Rangel para designar o modo de produção que surgia da fusão entre a economia monetária, o keynesianismo e a planificação soviética. O surgimento de novas e superiores formas de planificação econômica na China dão margem para dizer que por lá está surgindo uma “Nova Economia do Projetamento”, explica.
Segundo ele, as democracias ocidentais foram capturadas por uma cleptocracia financeira que abriu espaço para o surgimento de líderes protofascistas nos EUA e no Brasil.
IHU On-Line – De que ordem são os desafios à ciência social contemporânea para compreender o protagonismo chinês e asiático no cenário econômico global?
Elias Jabbour – Trata-se do maior desafio intelectual do momento presente. As razões são múltiplas, mas o fato é que a China cresce há 40 anos seguidos, enquanto o Ocidente caminha para uma estagnação secular. O sistema político chinês tem demonstrado capacidade de flexibilização ao longo dos tempos e mantido o país em relativa estabilidade social, enquanto as democracias ocidentais foram capturadas por uma cleptocracia financeira que abriu espaço para o surgimento de líderes protofascistas nos EUA e no Brasil. O fascismo é um fenômeno mundial e as “eleições livres” no Ocidente são cada vez mais manipuladas, conforme os escândalos em torno da Cambridge Analytica, e a viralização de Fake News nos processos eleitorais estão em processo de naturalização.
A ordem “globalizada” e a entrada do capitalismo em uma era financeirizada não somente dão conta das imensas contradições sociais que nos cercam, como as mesmas têm-se aprofundado, criando no mundo capitalista uma massa de “indesejáveis” cujo destino são as cadeias, o subemprego ou mesmo o limbo completo. A China faz uma trajetória oposta. Também com suas contradições. Mas está na completa contramão da decadência humana e social que percebemos no chamado “mundo livre”. A China tem se transformado em um espelho para quem busca uma alternativa ao neoliberalismo e às ditaduras dos mercados financeiros.
Confira a entrevista na íntegra aqui
1 comentário