
No último domingo (8), a capital federal do Brasil vivenciou o maior ato golpista e terrorista desde promulgação da Constituição Federal de 1988. Milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vieram a Brasília e vandalizaram as sedes dos três poderes: o Congresso Nacional (Legislativo), o Palácio do Planalto (Executivo) e o Supremo Tribunal Federal (Judiciário).
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No Twitter, Bolsonaro rebateu as acusações do presidente Lula (PT) e afirmou “repudiar” o terrorismo em Brasília. Entretanto, em vários outros momentos, o ex-presidente não só defendeu como estimulou a revolta contra os poderes brasileiros.
Recentemente, os eventos do bicentenário da Independência no 7 de Setembro de 2022 foram marcados por apoiadores empunhando faixas com dizeres antidemocráticos.
Com o objetivo de espalhar a verdade, o Socialismo Criativo relembra os principais motivos do ex-presidente Jair Bolsonaro ser o pivô por trás dos ataques terroristas em Brasília. Confira:
Ataques de Bolsonaro ao STF e a ministros do Judiciário
Durante seu mandato, Bolsonaro estimulou, por diversas vezes, ataques contra o STF, ministros de Cortes Supremas e ao Congresso. Em outros momentos, o ex-presidente acusou as Cortes de “interferir” em seu governo, xingou ministros, defendeu que precisam ser “enquadrados” e ameaçou descumprir suas decisões.
A turbulência com o Poder Judiciário teve como marco inicial a decisão do então presidente do STF, Dias Toffoli, de abrir, ainda em março de 2019, o inquérito das “fake news”, atingindo aliados de Bolsonaro. O ministro Alexandre de Moraes foi indicado relator e, desde então, tornou-se alvo preferencial dos ataques do presidente e de seus seguidores
Previamente à abertura desse inquérito, contudo, a relação com o Judiciário estava envenenada por iniciativa de Bolsonaro. Ele questionou a lisura das eleições de 2018, mesmo as tendo vencido, apoiou a ideia de passar de 11 para 21 o total de ministros do STF e seu filho, Eduardo, foi flagrado em um vídeo afirmando que para fechar o Supremo bastaria “um cabo e um soldado”.
O momento mais tenso da longeva crise institucional foi a véspera do feriado de 7 de Setembro de 2021, quando a militância bolsonarista, inflamada pelos ataques de seu mentor, marchou até a Esplanada dos Ministérios e ameaçou invadir o prédio do STF, inclusive com caminhões.
Ainda no primeiro ano de governo, o presidente passou a reclamar também do então decano Celso de Mello. Bolsonaro se disse “esculachado” pelo ministro e o acusou de “interferir no Legislativo” ao conduzir o julgamento que tipificou a homofobia como crime. O voto, porém, é considerado um dos mais emblemáticos da história do STF.
Ataques de Bolsonaro ao Congresso
A marca da crise com o Congresso era a relação de embate entre Bolsonaro e o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia — na época no Democratas —, que ganhou projeção pela independência em relação ao Executivo.
No Dia do Exército, em abril de 2020, Bolsonaro fez um discurso golpista durante manifestação diante do quartel-general do Exército, em Brasília, onde centenas de apoiadores gritavam “mito” e pediam um novo “AI-5”, cobravam o fechamento do Congresso e do STF.
Ataques de Bolsonaro durante a pandemia
Em 2020, a pandemia da Covid-19 desencadeou a raiva e o negacionismo de Jair Bolsonaro. Durante o período, os ministros foram firmes na defesa do isolamento social e lamentaram publicamente a postura negacionista do presidente. O STF proferiu uma série de decisões para frear as medidas anticientíficas do governo, como o incentivo ao “tratamento precoce”, comprovadamente ineficaz.
O julgamento que reconheceu a competência de governadores e prefeitos para agir no combate à Covid-19 também gerou desgastes. Bolsonaro repetiu diversas vezes que a Corte tinha limitado a atuação do governo federal, o que o STF teve de frequentemente desmentir.
A decisão do STF significou uma derrota para Bolsonaro, declaradamente contrário às medidas de Distanciamento Social Ampliado (DSA) — estratégia não limitada a grupos específicos, exigindo que todos os setores da sociedade permaneçam isoladas.
Em seu pronunciamento em rede de rádio e televisão no período, o presidente da República recuou ao tratar do tema. “Respeito a autonomia dos governadores e prefeitos. Muitas medidas de isolamento são de responsabilidade dos mesmos. O governo federal não foi consultado sobre sua amplitude”, disse.