
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deu início nesta segunda-feira (1º) à coleta domiciliar do Censo Demográfico 2022. Programado originalmente para 2020, o Censo foi adiado pela primeira vez em razão da pandemia de Covid-19. Em 2021 foi adiado novamente, após cortes no orçamento federal não permitirem sua realização.
Neste ano, os recenseadores do IBGE visitarão 89 milhões de endereços nos 5.570 municípios do país. A estimativa é de que sejam contadas cerca de 215 milhões de pessoas.
Com informações de reportagem da BBC Brasil, o Socialismo Criativo explica o que é, como funciona e para quê serve o Censo no Brasil. Confira:
Afinal, para quê serve?
O Censo, explica o próprio IBGE, é a única pesquisa a visitar as casas de todos os brasileiros — são mais de 75 milhões de domicílios espalhados por 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
“O Censo brasileiro é uma das maiores operações censitárias do mundo. No auge da operação, em torno de 183 mil recenseadores irão de porta em porta em todos os 5.570 municípios do país”, diz o site do instituto.
A coleta de 2022 marcará 150 anos do primeiro recenseamento feito no país, segundo o IBGE. Antes do atual, o Censo mais recente foi realizado em 2010, o que significa, para muitos pesquisadores e formuladores de políticas públicas, que alguns dados brasileiros estão desatualizados em mais de uma década.
O Censo traz não apenas o tamanho da população brasileira, mas informações sobre frequência à escola e à universidade, saneamento, sustento da família, raça, mortalidade, tipo de moradia, coleta de lixo e fornecimento de energia elétrica, entre outros dados.
Embora outras pesquisas do próprio IBGE consigam obter dados confiáveis a partir de universos menores, atualmente é só o Censo que consegue informações minuciosas de todos os municípios brasileiros.
Esses dados servem para embasar diversas pesquisas e políticas públicas, segundo especialistas ouvidos pela reportagem e o próprio IBGE.
“Do ponto de vista econômico, os dados da população ajudam a calcular os gastos (da União) direcionados aos Fundos de Participação do Municípios, dos Estados e da Educação Básica”, explicou à BBC, Rogério Jerônimo Barbosa, pesquisador associado do Centro de Estudos da Metrópole da USP.
Pobreza, saúde e atenção a minorias
Especificamente para a população idosa, saber onde e como moram os mais velhos pode ajudar no planejamento de futuras políticas públicas, à medida que a população brasileira envelhece. Além disso, é pelos dados do Censo que se calcula a expectativa de vida dos brasileiros, a partir da quantidade de pessoas por cada faixa etária e a taxa de mortalidade em cada faixa.
Técnicos do IBGE ouvidos pela reportagem explicaram, também, que como o Censo é a única pesquisa a ir na casa de todos os brasileiros, acaba sendo a forma mais precisa de se saber onde estão as pessoas mais pobres e verificar se elas estão tendo acesso a serviços como hospitais, assistência social e até mesmo registro civil — ou seja, se elas têm RG e CPF ou se são “invisíveis” ao Estado brasileiro.
“Sabemos que há lacunas em registro civil, principalmente na região Norte (em áreas indígenas), e precisamos entender se nossos dados estão defasados”, afirmou um técnico, que pediu para não ser identificado. “O risco é não descobrirmos onde estão os buracos.”
Outros que se tornam mais “visíveis” ao Estado graças ao Censo são os deficientes físicos e intelectuais, disse Caio Sato, do Todos Pela Educação. “Uma pesquisa em menor escala corre o risco de afetar os dados que temos da população com deficiência.”
Na área da saúde, embora os dados do Censo não sejam abundantes, houve especialistas que saíram em defesa da manutenção da pesquisa integralmente.
Ainda em 2019, o médico Drauzio Varella destacou a importância da pesquisa censitária. “O que significa para a saúde do Brasil não realizar ou cortar o Censo? (…) Significa não saber quantas crianças vivem em cada cidade para calcular a quantidade de vacinas necessárias, contra pólio ou sarampo (por exemplo). Significa não saber quantas são as mulheres para planejar a quantidade necessária de equipamentos de mamografia ou outros exames essenciais para a saúde feminina, e não saber quantos idosos vivem em cada cidade para comprar medicamentos para as doenças crônicas”.
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Como o Censo será realizado?
A coleta é feita pelos recenseadores do IBGE, que visitarão os 89 milhões de endereços até o início de novembro. Pela primeira vez, os moradores de territórios quilombolas serão contabilizados.
A coleta domiciliar nas áreas indígenas começa em 10 de agosto, e a dos territórios quilombolas, em 17 de agosto.
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No Censo 2022, há dois tipos de questionário: o básico, com 26 quesitos, que leva em torno de 5 minutos para ser respondido; e o questionário ampliado, com 77 perguntas e respondido por cerca de 11% dos domicílios, que leva cerca de 16 minutos. A seleção da amostra que irá responder a cada um é aleatória e feita automaticamente no Dispositivo Móvel de Coleta (DMC) do recenseador.
O questionário pode ser respondido presencialmente, por telefone e pela internet, segundo o IBGE. Em todos os casos é preciso que o recenseador visite primeiro o domicílio, para fazer o contato com o morador.
Os recenseadores estarão sempre uniformizados, com o colete do IBGE, boné do Censo, crachá de identificação e o Dispositivo Móvel de Coleta (DMC). É possível confirmar a identidade do agente do IBGE no site do instituto ou por telefone.
Os primeiros resultados do Censo 2022 estão previstos para serem divulgados ainda no final deste ano. Outras análises e cruzamentos de dados serão divulgados ao longo de 2023 e 2024.
Com informações da BBC Brasil