
Neste sábado (30), a coluna do jornalista Guilherme Amado, na revista Época, revelou mais detalhes sobre as três empresas que faturaram R$ 45 milhões em vendas de alimentos ao governo federal até o fim de 2020.
Elas pertencem a uma única família de Brasília, têm endereços humildes, vazios e que passam despercebidos pelos vizinhos. Repórteres da coluna visitaram as empresas três vezes nos últimos dias, entre quarta-feira e quinta-feira, em horários de expediente distintos. As três firmas são vizinhas em prédios comerciais no Cruzeiro, bairro de classe média de Brasília.
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As salas comerciais estavam sempre de portas fechadas. Os vizinhos desconhecem que ali aconteçam vendas frequentes ao governo federal, e muitos não sabiam os nomes dos estabelecimentos. Apenas em uma vez, na DFX, foi possível notar luzes acesas por trás dos vidros da porta, trancada a cadeado – que logo sumiriam atrás de uma cortina, após uma tentativa de contato.
Leite condensado a R$ 162
A Saúde e Vida Comercial de Alimentos chamou atenção nesta semana pela venda de leite condensado ao Comando do Exército em 2020, após uma matéria do Metrópoles no último domingo (25) ter mostrado os gastos de toda a administração federal no ano.
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No Portal da Transparência, em uma das vendas da loja constam duas unidades de leite condensado ao preço unitário de R$ 162, mesmo com o produto custando cerca de R$ 5 nos supermercados brasileiros. A empresa e o Ministério da Defesa alegaram que as duas caixas, na verdade, continham 27 latas cada. De todo modo, a Saúde e Vida já recebeu R$ 12,5 milhões do governo federal, de 2014 até o mês passado.
Essa empresa é de Azenate Abreu. Seu filho, Elvio Abreu Junior, é dono da DFX Comércio, que obteve R$ 25,4 milhões do governo federal de 2014 até agosto de 2020. A mulher de Elvio Junior, Cynthia Abreu, por sua vez, é dona da Schuab Abreu Engenharia, que já auferiu R$ 7,1 milhões da União, de 2015 a dezembro de 2020.
Com contratos rotineiros com órgãos militares, a empresa tem duas pessoas que já vestiram a farda do Exército: um funcionário e ex-sócio, Walmerson Ryller, e Junior. Em comum, as sedes das empresas também não têm identificação visível ou funcionários. Os interfones estão quebrados.
‘Entrega direta ao cliente’
Procurado na quarta-feira, Elvio Abreu Junior concordou em dar uma entrevista, mas desistiu no dia seguinte, por orientação de seus advogados.
O advogado à frente do caso, Nelson Willians, afirmou que as lojas estão ativas e funcionam no horário comercial, mas “às vezes ficam fechadas devido à pandemia ou à entrega de produtos”.
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Segundo o defensor, as salas estão fechadas “por razões de segurança” para evitar “ataques”, e são pequenas e modestas porque “os materiais são comprados com entrega direta ao cliente, sem depósito”.
Willians disse ainda que não forneceria uma prova da capacidade financeira das empresas por “sigilo financeiro e compliance”.