
Os rompimentos de barragens de mineradoras põem em alerta os moradores de Minas Gerais ao menor sinal de chuva. O alto volume que tem caído nos últimos meses na região intensifica o medo, especialmente, de quem vive próximo à essas áreas.
Falta de informação das mineradoras e memória de rompimentos que deixaram centenas de mortos e cidades cobertas de lama compõem o quadro. O que deixa moradores de muitos municípios mineiros em um dilema, já que a economia é altamente dependente da mineração.
Esta semana, o governo do estado afirmou que são 31 barragens de rejeito em alerta. Dessas, 22 estruturas estão em nível 1, seis em nível 2 e três em nível de emergência 3, quando há o risco de ruptura.
A providência do governo foi notificar as mineradoras responsáveis.
Nesta sexta-feira (14), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) anunciaram que vão produzir relatórios sobre a situações das barragens em situação de emergência.
Deram prazo de cinco dias para apresentar o resultado. Das 31 barragens, 29 são de gestão da Vale, uma da ArcelorMittal e outra, controlada pelo braço minerário da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
A Agência Nacional de Mineração (ANM), por sua vez, solicita a emissão de alerta a empreendedores e consultorias responsáveis de barragens devido ao volume de chuvas nas regiões Sudeste e Nordeste, principalmente, em Minas.
“Pelo princípio da precaução solicitamos atenção especial a tal situação e manutenção/reforço do monitoramento de suas barragens de mineração”, diz a agência em seu site.
Barragens de rejeito e a contaminação
Não bastasse o risco de iminente de novas tragédias evitáveis, há também o risco de contaminação.
Em Rio Acima, uma das cidades inundadas durante as últimas chuvas, Luciano Corrêa contou à Deutsche Welle (DW), por telefone, o estranhamento ao aspecto da lama depois que água baixou.
“A conversa é uma só: parece resíduo de minério de ferro. É um material muito fino e tem um brilho que areia comum não tem”, contou Côrrea por telefone durante um mutirão de limpeza na vizinhança.
Rio Acima tem algumas barragens em seu território e estaria na rota de outras, localizadas em cidades vizinhas.
“A gente sente uma insegurança muito grande. A gente vê as empresas tratando a situação como se não houvesse risco, fazendo ações depois de desastres, a gente vê muita omissão”, afirma à DW.
A barragem da Mina de Fernandinho, da CSN, é umas das que passou para alerta nível 2 por conta das chuvas. Isso significa que a estrutura precisa de reparos e que os moradores da chamada Zonas de Autossalvamento (ZAS) precisam ser evacuados.
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“A gente vê esse barro dentro das casas com esse aspecto estranho e sabe que não foi uma grande barragem que se rompeu agora, mas é como se pequenas barragens estivessem se rompendo todos os dias”, comenta Corrêa.
Por meio de nota, a CSN informou à DW que não há moradores na ZAS e que está trabalhando para minimizar os impactos na estrutura.
“Com a redução das chuvas será possível avançar nos reparos para restabelecer o nível de segurança”, afirma a empresa.
Medo constante
Um dia depois do rompimento da barragem em Brumadinho, que aconteceu em um dia sem chuva e matou na hora 273 pessoas, em 2019, moradores de Barão dos Cocais foram retirados de suas casas e nunca mais puderam voltar.
A barragem Sul Superior, da Vale, entrou em nível iminente de rompimento e os moradores dos distritos de Socorro, Tabuleiro e Piteiras não puderam voltar.
A Defesa Civil afirma que nesses locais, que seriam imediatamente atingidos em caso de rompimento, os moradores só poderão voltar “quando a barragem for descaracterizada”.
Com informações do Estado de Minas