
O relato de várias reuniões entre o então vice-presidente Michel Temer (MDB) com a cúpula do Exército nos meses que antecederam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) reacendeu as acusações dos petistas de golpismo das Forças Armadas e levou os então comandantes a criticarem publicamente as políticas do PT para investigação dos crimes ocorridos na ditadura militar pela Comissão Nacional da Verdade.
Um livro de entrevistas de Temer ao professor de filosofia Denis Lerrer Rosenfield ainda durante seu mandato será lançado no fim do mês e teve parte do conteúdo divulgado nesta segunda (2) pelo Estadão.
Nele, há o relato de encontros do então vice-presidente com o então comandante do Exército Eduardo Villas Bôas e o então chefe do Estado-Maior do Exército Sérgio Etchegoyen.
Segundo o livro, havia um grande desgaste com o PT por causa da Comissão da Verdade, da tentativa de mudar a Lei da Anistia, de políticas para os direitos humanos e do plano de alterar a forma de progressão na carreira e formação dos militares.
José Guimarães: “golpistas vão prestar contas perante a história”
Vice-presidente do PT, o deputado José Guimarães (CE) divulgou a notícia, reproduzida por sites de esquerda, e disse que “a verdade vai se impondo e os golpistas vão prestar contas perante a história”.
O deputado Paulo Pimenta (RS), ex-líder do PT na Câmara, afirmou que o livro conta como “o golpista Temer conspirou com militares para derrubar Dilma”, os acusou de “se aliarem ao crime organizado das milícias do Rio de Janeiro para eleger Jair Bolsonaro” em 2018 e questionou: “Não existe dignidade nas Forças Armadas?“
Segundo o relato do jornal, Temer deu tom institucional aos encontros com a cúpula do Exército entre 2015 e 2016 nas entrevistas concedidas para o livro.
“Precisamos acabar de uma vez por todas com essa história de que militar é militar e civil é civil. São todos brasileiros, de modo que posso muito naturalmente chamar um militar para compor o ministério”, disse o então presidente ao professor.
Reação
Os dois militares reagiram ontem as acusações de golpismo. Villas Bôas compartilhou entrevista do colega no Twitter e afirmou que as acusações eram “infundadas”. Etchegoyen disse ao UOL que os encontros com Temer e “com parlamentares da base aliada” constavam da agenda pública e oficial.
“Nunca ouvi de Michel Temer estímulo a ações ilegítimas ou convite para conspirações. A acusação é ridícula. Que poder teriam os militares para impor ao Congresso o resultado de um processo de impeachment no qual o Parlamento e o STF foram os grandes protagonistas?”, questionou.
Com informações do Estadão