
O presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, avalia, em entrevista ao jornal O Dia (RJ), que a pandemia do coronavírus mudou o rumo da conjuntura, mas não as preocupações de longo prazo.
Siqueira considera tempestade perfeita se ter na presidência alguém como Jair Bolsonaro. Segundo Siqueira, “Não há desde a independência um líder que possa ser tão polêmico e tão despreparado para enfrentar uma crise como Bolsonaro” .
Leia a seguir alguns trechos da entrevista. Para acessar o texto completo, clique aqui.
O senhor é presidente do PSB, uma das siglas mais importantes do país, como o senhor analisa o arco de alianças, especialmente no Rio?
Eu penso que o momento que nós vivemos é muito difícil, de retrocesso econômico, social e político, com uma liderança tão trocada. Seria importante que as forças políticas de esquerda e até o centro estivessem unidas para vencer o reacionarismo e o atraso. Infelizmente quando o presidente Lula saiu da cadeia, tivemos um discurso exclusivista, dizendo que o PT teria candidato em 2022 e também em todas as capitais em 2020. Isto dificultou muito para a esquerda, e temos articulação com a esquerda, inclusive com PT através da presidenta e deputada Gleisi, na tentativa no que for possível unificar. Mas temos uma articulação muito bem resolvida que são com PSB, PDT, REDE e PV. Temos nos reunido com frequência e com grandes possibilidades de união nas capitais e cidades com segundo turno. Teremos uma provável aliança com o PDT no Rio, com a deputada Martha Rocha. E, em São Paulo, Márcio França (PSB) também terá aliança com o PDT.Além disso, estaremos juntos no Recife, com o deputado João Campos (PSB), e em vários outros lugares.Como o PT está dificultando aliança da esquerda, tivemos de encontrar esta alternativa. Esta aliança está caminhando, embora não temos excluído o PT, que pode haver acordos, embora a articulação que citei é que está produzindo alianças (PSB-PDT-PV-REDE).
O presidente Bolsonaro é considerado pela imprensa internacional o pior chefe de estado no enfrentamento da pandemia. Qual o perigo que o Brasil corre?
Lamentavelmente essa crise de dimensões extraordinárias – e mundial – pegou o Brasil no pior momento político da sua história. Não há, desde a independência, um líder que possa ser tão polêmico e tão despreparado para enfrentar uma crise como Jair Bolsonaro. Este seria um grande momento para um estadista unir o país e a nação em torno de uma solução para uma crise que, ao mesmo tempo, é sanitária, mas também econômica, ao se somar ao que já existia anteriormente, e sobretudo social. Agrava-se com o grau de desemprego de alguns anos. Enfrentar uma crise quando se tem um presidente que, ao invés de unir o país, passa criar polêmicas e não reconhecer a gravidade desta crise, contrariando seu próprio governo, o seu Ministério da Saúde e vários setores do governo, complica.
Esta situação pode mostrar a importância do SUS e sua valorização?
Você está tocando num tema importantíssimo. O sistema de saúde do Brasil é, nos últimos 35 anos, a principal política pública e social do país. Essa, sim, uma proposta socializante, vitória da esquerda brasileira. Na época, os sanitaristas de todo Brasil, com Jamil Haddad, que tive o orgulho de compor sua equipe que veio a ser ministro, e do nosso partido no governo Itamar, apoiavam fortemente o SUS. Mas as forças conservadoras sempre tentaram torpedear os recursos para implantação efetiva e dar eficácia ao sistema. Penso que é lamentável necessitarmos de uma pandemia para que todos possam reconhecer a importância vital do SUS para população. Principalmente para as pessoas mais necessitadas. Eu já tenho uma certa idade e cansei de ver as pessoas morrerem à míngua no interior do nordeste.