
O vice-presidente da República, Antonio Hamilton Mourão, afirmou em artigo publicado nesta quinta-feira (14), no jornal Estadão, que nenhum país do mundo vem “causando tanto mal a si mesmo como o Brasil”. No texto, ele afirma que a pandemia da covid-19 não é apenas uma questão de saúde, mas também social, econômica e “pode vir a ser de segurança”.
De acordo com o general de reserva, o Brasil tem enfrentado a situação de crise sanitária e econômica de modo “desordenado”, o que levou a consequências diretas à economia.
Estrago institucional
Para ele, o “estrago institucional” que já vinha ocorrendo no país, “atingiu as raias da insensatez” e está levando o Brasil “ao caos”, principalmente, em razão da “polarização” que tomou conta da sociedade, da “degradação do conhecimento político”, da “usurpação das prerrogativas do Poder Executivo” e “do prejuízo à imagem do Brasil no exterior”.
“Esses pontos resumem uma situação grave, mas não insuperável, desde que haja um mínimo de sensibilidade das mais altas autoridades do país.”
Economia paralisada
“Pela maneira desordenada como foram decretadas as medidas de isolamento social, a economia do País está paralisada, a ameaça de desorganização do sistema produtivo é real e as maiores quedas nas exportações brasileiras de janeiro a abril deste ano foram as da indústria de transformação, automobilística e aeronáutica, as que mais geram riqueza. Sem falar na catástrofe do desemprego que está no horizonte”, diz outro trecho do artigo.
Para Mourão, “enquanto os países mais importantes do mundo se organizam para enfrentar a pandemia em todas as frentes, de saúde a produção e consumo, aqui, no Brasil, continuamos entregues a estatísticas seletivas, discórdia, corrupção e oportunismo”
Sem mencionar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ou fazer qualquer autocrítica enquanto membro do desastrado governo, Hamilton Mourão também condenou a atuação da imprensa e deixou claro que, assim como o presidente, o foco na economia é a prioridade do governo, apesar dos recordes diários de mortes registrados no país.
A imprensa
“A imprensa, a grande instituição da opinião, precisa rever seus procedimentos nesta calamidade que vivemos. Opiniões distintas, contrárias e favoráveis ao governo, tanto sobre o isolamento como a retomada da economia, enfim, sobre o enfrentamento da crise, devem ter o mesmo espaço nos principais veículos de comunicação. Sem isso teremos descrédito e reação, deteriorando-se o ambiente de convivência e tolerância que deve vigorar numa democracia”.
Respeito aos limites
No texto, ele ainda defende o respeito aos limites dos poderes como forma de reverter o quadro de “desastre”, como se refere. “Há tempo para reverter o desastre. Basta que se respeitem os limites e as responsabilidades das autoridades legalmente constituídas,” sem mencionar, no entanto, que todas as crises nesses 17 meses de gestão ora era criada pelo próprio presidente, ora pelos filhos.
“A esta altura está claro que a pandemia de covid-19 não é só uma questão de saúde: por seu alcance, sempre foi social; pelos seus efeitos, já se tornou econômica; e por suas consequências pode vir a ser de segurança. A crise que ela causou nunca foi, nem poderia ser, questão afeta exclusivamente a um ministério, a um Poder, a um nível de administração ou a uma classe profissional. É política na medida em que afeta toda a sociedade e esta, enquanto politicamente organizada, só pode enfrentá-la pela ação do Estado”, disse por fim.