
A largada para as Eleições de 2022 foi dada por Ciro Gomes (PDT) com divulgação de vídeos com propostas para o Brasil e afundou o G-6. O grupo de presidenciáveis se coloca como alternativa ao embate Lula x Bolsonaro ano que vem. Por enquanto, é tudo espuma e não há nada de concreto.
Além do pedetista, o grupo reúne também o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), o apresentador Luciano Huck (sem partido) e o empresário João Amoêdo (Novo).
Segundo nota da jornalista Monica Bergamo, da Folha, a ideia do G-6 era de que todos, ao menos publicamente, atuassem como se não fossem ainda candidatos, permitindo o diálogo e até, quem sabe, uma candidatura única para 2022. Mas Ciro, nas palavras de um deles, “desgarrou” e acabou com o projeto de alternativa única para a sucessão presidencial.
O G-6, inclusive, intensificou conversas paralelas para tentar atrair novos apoios para a causa. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa (PSB), a ex-ministra Marina Silva (Rede) e o apresentador Danilo Gentili (sem partido) entraram no radar de integrantes do grupo.
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A volta do marqueteiro de Lula
Os filmetes de Ciro que causaram a cisão do G-6 são frutos de uma parceria anunciada na quinta-feira (22) e entre o PDT e o jornalista e marqueteiro João Santana, responsável pelo marketing das campanhas vitoriosas de Lula em 2006 e de Dilma em 2010 e 2014.
Santana e a esposa, Mônica Moura, foram presos e condenados pelo ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro, a 8 anos e 4 meses de prisão por irregularidades na campanha da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010. Eles fizeram delação premiada. Foram soltos em outubro de 2018.
Manifesto do G-6
Os seis pré-candidatos lançaram em março o Manifesto pela Consciência Democrática. Além de Ciro, todos têm agido mais individualmente do que em conjunto. Rusgas do passado, divergências ideológicas e partidárias e guerras de vaidades são entraves para alianças.
Ainda que a união tenha se dado inicialmente em torno do documento, a aproximação foi vista como embrião de um entendimento no plano eleitoral. Os próprios membros admitem a dificuldade de obter consenso, mas têm minimizado as diferenças em prol da unidade possível.
A avaliação é a de que um pacto de não agressão no primeiro turno e o compromisso de apoio a um nome comum em um eventual segundo turno já consistiriam em avanços significativos dentro do propósito de construir uma alternativa fora dos polos.
Barbosa segue discreto
No espírito de somar forças, a ideia de procurar Joaquim Barbosa e Marina Silva surgiu no entorno de Huck. Interlocutores do apresentador revelaram em conversas nos bastidores a intenção de aproximar os dois do chamado Polo Democrático, nome do grupo de WhatsApp do sexteto. Assessores de ambos disseram à Folha que eles não foram sondados diretamente.
Barbosa, embora esteja filiado ao PSB desde 2018, quando ensaiou uma candidatura à Presidência, permanece afastado da vida partidária. Do Rio de Janeiro, onde mora, o ex-ministro – conhecido pela atuação no processo do mensalão – acompanha com discrição as discussões sobre 2022.
Seu nome tem sido cada vez menos citado como uma possibilidade dentro do PSB, sobretudo depois da decisão do STF que devolveu a Lula o direito de concorrer. A legenda ainda discute seus rumos, mas é cortejada por siglas como PT e PDT para alianças e não descarta lançar candidato próprio.
Marina tem divergência com grupo
Marina também é vista como uma líder com posições convergentes com a do grupo. A ex-senadora e ex-presidenciável, assim como Barbosa, já teve encontros com Huck no passado e, de 2019 para cá, mantém proximidade com Ciro, um dos postulantes que ela e sua legenda poderiam apoiar.
Na visão da fundadora da Rede, porém, qualquer discussão deve se dar com base em programa de governo, não em nomes. Marina ficou aborrecida com a contratação do marqueteiro João Santana pelo PDT.
A ex-senadora guarda mágoas do trabalho que o publicitário fez para o PT em 2014, quando ela enfrentava a então candidata Dilma Rousseff. Marina atribuiu aos ataques duros dos petistas seu derretimento na ocasião. Um dos anúncios sugeria que, se ela vencesse, a comida sumiria da mesa das famílias.
Segundo assessores que estavam naquela campanha de Marina, o envolvimento de Santana com Ciro tem potencial para afastá-la do pedetista. A ex-presidenciável divulgou uma nota em que criticou a contratação e disse que “jamais cometeria a incoerência de aceitar trabalhar” com o marqueteiro.
Comediante tem apoio de ex-juiz
Em outra frente, Amoêdo fez contato com Gentili, comediante e apresentador do SBT que vem sendo incentivado pelo MBL (Movimento Brasil Livre) a disputar a Presidência depois que pesquisas de intenção de voto mostraram um desempenho satisfatório dele, sobretudo entre jovens.
O ex-presidenciável do Novo diz que o humorista “tem vontade de participar para melhorar o processo”, mas não se sabe ainda “o nível de envolvimento” que ele está disposto a apresentar-se apenas como apoiador de uma chapa ou como candidato propriamente dito.
Procurado, o apresentador não respondeu. Ele, que há anos é detrator do PT e se tornou também um crítico de Bolsonaro, já disse que não descarta a possibilidade de concorrer.
O ex-juiz Sergio Moro declarou publicamente se entusiasmar com a “hipótese Gentili”. Moro, que também é cotado para disputar a Presidência, foi convidado a assinar o manifesto pró-democracia, mas declinou alegando razões contratuais com a consultoria Alvarez & Marsal, para a qual trabalha.
Ninho tucano
No ninho tucano há ensaios de candidatura ganhando espaço. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) passou a ser citado como uma figura que poderia ajudar a construir consensos, a começar por seu próprio partido, que abriga hoje dois dos presidenciáveis do manifesto.
Diante do impasse entre Eduardo Leite e João Doria, governadores do PSDB que devem disputar as prévias na legenda, grupos tucanos ventilaram a aposta no veterano e lhe deram até o apelido de Biden do Brasil, em alusão à imagem de conciliador do presidente dos EUA, Joe Biden.
Tasso admitiu no fim de semana a possibilidade de participar das prévias. Ele e Leite, que possuem alinhamento, tiveram conversas privadas com Huck nos últimos dias.
Centrão procura alternativas
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), vem sendo estimulado por líderes de partidos de centro a disputar o Planalto em 2022. Embora o senador negue a intenção, a cúpula do DEM e líderes de partidos como o PSD o enxergam como potencial candidato.
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O ex-presidente Michel Temer (MDB) também teve o nome citado em conversas, embora a proposta não inspire muita confiança. Com as especulações, o emedebista brincou em uma rede social no mês passado que a única candidatura a que se dispunha era à aplicação da segunda dose da vacina contra a Covid-19.
Com informações da Folha e do Poder 360